by mends » 11 Aug 2006, 09:53
melhores momentos da entrevista de nosso Estimado Líder, Luís Lula-Molusco da Silva Sauro:
-"nunca na História deste país se prendeu tanta gente"
-"O meu governo é o que mais combate a ética..."
-"Não dá pra patrulhar os 17 milhões de quilômetros de fronteira do Brasil..." (que, como sabemos, foi estendida até Plutão. Eta, Impávido Colosso!!!).
-"...emprego aumenta, riqueza aumenta, só o que cai no Brasil é o salário..."
vale a pena ler os textos abaixo, do Azevedo
A entrevista de Lula: análise
Abaixo, há um clipping do que achei de mais relevante ou diferenciado nos jornais e depois seguem muitos textos sobre a entrevista concedida ontem por Lula no Jornal Nacional. Leitores têm me perguntado duas coisas: 1) o desempenho foi mesmo ruim? 2) ele pode interferir na preferência do eleitorado? Embora próximas, são questões muito distintas.
O desempenho de Lula, segundo uma avaliação que fosse puramente técnica, foi catastrófico. Ele não conseguiu dar uma miserável resposta satisfatória ou minimamente articulada. Tentou algumas de suas saídas costumeiras, mas foi devida e prontamente contraditado pelos dois jornalistas: não com opiniões, mas com fatos. É essa a percepção do grande eleitorado? Bem, isso é realmente outra coisa. Volto depois a esse ponto.
Vou seguir mais um pouco na trilha em que estava. Eis a razão por que Lula não concede entrevistas coletivas, a menos que se cerque das devidas proteções — aquelas criadas por André Singer (não pode gravar, não pode contraditar, essas coisas). Proteção contra quem ou o quê? Contra Lula, ora essa. Sua incapacidade de pensar logicamente e de articular raciocínios complexos se evidencia de uma maneira chocante. Seu principal segredo sempre esteve em criar uma falsa intimidade com os interlocutores. Tentou o truque com William Bonner e Fátima Bernardes. Bateu numa parede de gelo. Eles já tinham sido chamados de “meu amor” e “minha querida” o bastante por Heloísa Helena.
A entrevista deve gerar subprodutos. Paulo Okamotto afirmou no Senado, sob juramento, que Lula nem sabia da dívida que ele supostamente pagou. Lula o desmentiu. Numa carta a José Dirceu, o presidente aceita seu pedido de demissão: ao Jornal Nacional, sustentou que foi ele a demiti-lo. Insistiu, de forma constrangedora, que ignorava o esquema. E que garantia existe de que não terá de dizer isso de novo?, quis saber Fátima. E Lula engrolou um palavrório sem sentido. Nada funcionou.
Mas e o grande público? Segundo o Ibope divulgado ontem, 73% dos que ganham até um salário mínimo, e 69% dos que têm até a quarta série aprovam o governo, contra, respectivamente, 22% e 25% que o desaprovam. A força do eleitorado lulista está entre os mais pobres e mais desinformados (para ver mais dados, clique aqui). Trata-se de pessoas que ouviram ontem William Bonner falar em procurador geral da República e não têm a mais remota noção de quem seja. Não saberiam distingui-lo de um torresmo à milanesa de Adoniram Barbosa. Lembro a música porque um trecho da letra é significativo:
Vamos armoçá
Sentados na carçada
Conversar sobre isso e aquilo
Coisas que nóis
Num entende nada
Há aí o retrato de uma boa parte do eleitorado de Lula (e é claro que escrevo isso como um lamento, não com desdém)? Sim, mas é também o retrato do próprio Lula. Ontem, mais de uma vez, ele me lembrou um desses motoristas de táxi sempre muito propositivos, verdadeiros generalistas. Sabem quase nada sobre quase tudo. Deu-se no país o casamento maldito entre as baixas expectativas — e também baixas exigências — de um povo muito pobre e seu suposto representante, que diz atuar no limite das suas forças, mas sempre enfrentando inimigos terríveis.
Lula se danou? Se houvesse, vamos dizer, o júri técnico, não duvidem. Mas os juízes são outros. Sabem por que ele insiste naquela besteira de comparar o governo com a família? Porque pesquisas qualitativas apontam ser uma linguagem que “o povo” entende e aprova. Fátima deu-lhe um chega pra lá. Foi eficaz? Tendo a achar que não. Mais umas duas entrevistas neste pique, e ele começaria a ter problemas? Ai, sim, Porque se iniciaria um fenômeno de opinião pública. A avaliação negativa saltaria o muro das classes médias informadas e começaria a ganhar o povo na forma de um burburinho.
Lula sabe disso. Seus estrategistas sabem disso. Por isso eu duvido que ele compareça a debates do primeiro turno. Duvido que ele tenha a coragem de enfrentar Heloísa Helena, que descaracterizaria, provavelmente até com injustiças e bobagens teóricas, algumas conquistas do seu governo e tem à mão muito mais generosidades a oferecer — já que não terá mesmo de cumpri-las.
Leitor quer um “sim” ou “não”, um “bola” ou “bule” para a pergunta: a entrevista pode alterar as pesquisas? Então lá vai: se morrer nos jornais de amanhã, não. Seu efeito será irrelevante. Se as oposições e aqueles dispostos a ver Lula derrotado passarem adiante a mensagem, aí, sim. PSDB e PFL puderam ter uma idéia muito clara das fragilidades de Lula e das questões para as quais ele não tem resposta. A mais importante delas, mesmo numa excelente entrevista, a meu ver, não foi feita: as relações entre a Gamecorpo, de Lulinha, filho de Lulão, e a Telemar. Pelo que se viu ontem, é certo que o presidente não ganhou votos. Mas também ainda não perdeu. Os descalabros da entrevista têm de saltar esse fosso, vá lá, entre ricos e pobres — os termos são impróprios mas servem para pensar.
Em setembro, já anunciou Wlliam Bonner, há uma nova rodada de entrevistas, aí com temas da administração, incluindo a área social. Lula tentará nadar de braçada. Com dados corretos na mão, dá para fazer picadinho do seu discurso — tarefa para os coleguinhas: estudar os números do Caged e entender aquilo. Vamos ver. Cumpre agora a PSDB e PFL a tentativa de transformar em fato político-eleitoral a entrevista desastrosa. Por geração espontânea, nada acontece. E a observação final: quem entende um pouco de reações, olhares e esgares de desagrado pôde contatar: Lula detesta ser contraditado. Provou-se mais uma vez que ele só não estudou porque está absolutamente convencido de que sabe tudo.
PS: Leitores observam que Lula não errou quando falou da extensão das fronteiras. Teria querido dizer 17 milhões de metros e não 17 milhões de quilômetros. Revi o vídeo e a transcrição que a Globo fez. Continuo a achar que ele não sabia mesmo se era uma coisa ou outra e optou pelo absurdo. Vejam lá. Mas isso é o de menos. Houvesse o efetivo combate ao narcotráfico nas fronteiras, já estaria de bom tamanho.
Quem mente: Lula, Okamotto ou ambos?
Só uma coisinha. O doador universal Paulo Okamotto falou, sob juramento, no Senado que Lula nem sabia da dívida que tinha com o partido. E que ele, Okamotto, alma generosa, efetuou o pagamento sem que o chefe soubesse. Lula o desmentiu na entrevista ao Jornal Nacional: “O que eu disse é o seguinte: quer pagar você paga porque eu não vou pagar porque não devo ao PT.” Um dos dois está mentindo. E se forem os dois?
Lula na GloboNews ou esqueçam o que eu disse
Também o Jornal das 10, da GloboNews, entrevistou Lula, desta feita com tempo de 15 minutos. Compunham a bancada os jornalistas André Trigueiro, Carlos Monforte e Mônica Waldvogel. Não houve qualquer forma de facilitação, mas eles cometeram o erro de ser um pouco menos exatos nas perguntas. E aí Lula desanda a falar, se descontrai, tenta alguma intimidade. Até chegou a sorrir. A coleção de asneiras foi mais modesta, mas estava lá.
- a ética no seu governo “é total e absoluta”;
- algumas pessoas no PT erraram, mas não o PT;
- quando o PT errou, ele se sentiu como Pelé quando soube que seu filho estava envolvido com drogas;
- “quando você é oposição, pode tudo; quando é governo, tem de usar medida provisória”;
- negou que a conjuntura externa seja responsável pelo desempenho razoável da economia;
- disse que sua política econômica é absolutamente diferente da de FHC;
E voltou a fazer confusão com o número de empregos criados, afirmando que são 103 mil por mês no seu governo contra 8 mil no de FHC. Conversa. Ele usa números do Caged, que não servem como indicador de emprego e desemprgo. Ademais, houve uma mudança de metodologia que infla os índices atuais. Hora de o jornalismo se inteirar sobre essa questão para contraditá-lo e impedi-lo de “faltar com a verdade”.
O seu patético momento veio quando Mônica fez uma pergunta na qual ele até poderia pegar carona. Lembrou que ele houvera afirmado haver 300 picaretas no Congresso. Com o escândalo que está aí, diria o mesmo? E aí veio um Lula em estado puro, curtido em 25 anos nos barris de carvalho do PT: “Você não pode querer que um presidente fale a mesma coisa que ele falou há 13 anos em Ron-dô-nia. Eu estava em Ron-dô-nia”. A ênfase parecia implicar que o que se fala em Rondônia não conta. É fato que o Estado vive um mau momento. Mas ainda é Brasil — e como! Com efeito, 13 anos é muito tempo para cobrar uma palavra de Lula. Pensando bem, eu não lhe concedo um miserável minuto de coerência.
Quando o negócio é espancar tucano
O divertido neste mundo é como a percepção das pessoas varia, né? No dia da entrevista de Alckmin, o Blog de Fernando Rodrigues foi impiedoso: “JN espanca tucano”. Cada um com seu estilo. Considerando que Geraldo Alckmin não é, a esta altura, um “tucano qualquer”, talvez fosse o caso de lhe citar o nome. A menos que o fundamental no enunciado fosse espancar tucano... E olhem que o ex-governador, mesmo contra a parede, conseguiu emplacar algumas boas respostas — e, claro, se deu mal em outras. Lula, nesta quinta, além de espancar a geografia, a língua e se trair em atos falhos, não conseguiu encaixar uma única boa resposta. Mas o Blog do Fernando Rodrigues, aquele que publicou as “fotos-denúncia” de Serra entregando ambulâncias (vamos espancar tucanos...), foi quase carinhoso com o petista: “Lula toma um calor do JN”. Muito mimoso. Mais um pouco, vira poesia. Fernando também não gostou do desempenho de Bonner e Fátima. Vejam só! Eu gostei demais (ver notas abaixo). Ele faz um pouco de crítica de mídia, eu também. Ele pergunta: “Por que não fazem perguntas diretas, com sujeito, verbo e predicado?” Porque uma pergunta com “sujeito, verbo e predicado” teria verbo demais e gramática de menos, uma vez que o predicado, necessariamente, inclui o verbo. Quem ensina corre sempre o risco de aprender. É o sal da vida.
Atenção: Lula chama Dirceu e Palocci de "envolvidos". E os entrega: "Eu os afastei"
Atenção para esta seqüência:
Lula – Eu afastei todos [os suspeitos] os que estavam dentro do governo federal, todos, sem distinção [Lula está irritado]
Bonner – O sr. afastou o ex-ministro da Casa Civil?
Lula – Foi afastado. Eu o afastei. Afastei o Zé Dirceu, afastei o Palocci, afastei outros funcionários que estavam envolvidos e vou continuar afastando.
A seqüência não poderia ser mais explícita em revelar várias coisas. Em primeiro lugar, se pressionado, Lula entrega os amigos sem piscar. Vejam aí: Palocci nem tinha sido objeto de pergunta dos entrevistadores. Mas Lula o meteu na fogueira. E, no contexto, fica explícito: classifica seus dois ex-ministros de “envolvidos”. Envolvidos em quê? Só pode ser no escândalo, certo? Ainda bem que a "iniciativa privada" acredita em Dirceu e que Abílio Diniz confia em Palocci.