A corrida maluca da Toyota
Montadora cria o carro que
chora, expressa emoções e
abana a antena. Quer um?
Por Eduardo Pincigher
Não é raro para visitantes de salões do auto-
móvel espalhados pelos cinco continentes surpreenderem-se com os carros-conceito. Eles são criados para isso mesmo: reforçar a imagem de tecnologia da montadora com a exposição de design futurista, soluções mecânicas inusitadas e tendências revolucionárias. Nenhuma marca, entretanto, aposta nesse filão com tanto apetite como a Toyota.
A montadora nº 3 em vendas no mundo, atrás apenas de GM e Ford, deve faturar US$ 160 bilhões em 2004 (US$ 10 bilhões de lucro líquido), mas não informa quanto desse montante investe em pesquisa e desenvolvimento. Não deve ser pouco. Apenas de um ano pra cá, a marca japonesa exibiu, pelo menos, quatro pérolas automotivas capazes de instigar a imaginação de qualquer visionário no assunto: o Personal Mobility, que carrega um passageiro dentro da carroceria-cápsula, movido
a energia elétrica e pilotado através de um joystick; o Fine-N, veículo familiar com um motor elétrico em cada roda; e o modelo criado exclusivamente para o filme Minority Report, estrelado por Tom Cruise. Mas a Toyota se superou mesmo ao inventar o Pod. Alguém poderia imaginar carros dotados de anteninhas coloridas
que alertam sobre o humor do motorista? O Pod interage emocionalmente com seu dono. “Ele é capaz de identificar, através da pressão que o motorista exerce no volante, se ele está nervoso ou tranqüilo. O carro até chora”, explica Paulo
Manzano, gerente de produto da Toyota Brasil.
Por fora, o modelo, que foi desenvolvido em parceria com a Sony, emite luzes vermelhas, azuis ou verdes de acordo com o que “lê” internamente. Há também o Prius, vendido há anos nos EUA e capaz de estacionar sozinho usando sensores eletrônicos que “enxergam” o tamanho da vaga.
Em uma fase em que as montadoras tentam enxugar despesas, tornando-se pragmáticas na apresentação de carros-conceito, a Toyota deita e rola nesses protótipos. “A Toyota fixou a imagem de uma empresa que emprega alta tecno-
logia e cobra um preço barato por isso”, define Fernando Sarti, analista do setor.
Ele acredita que os concorrentes também impressionam o consumidor. “Só que
a ousadia da Toyota em desenvolver tecnologias muito avançadas, até pelo
inusitado, acaba atraindo maiores atenções.”