by mends » 15 Aug 2005, 14:53
ELIO GASPARI
O tucano quer o golpe do andar de cima
Basta que Lula tire a gravata e o andar de cima o acusa de imitar o presidente venezuelano, Hugo Chávez.
Fica combinado assim: Lula não pode brincar de Chávez, mas o tucanato também não pode brincar de Carmona.
Pedro Carmona é aquele empresário cheiroso que, em 2002, liderou o golpe que prendeu Chávez, dissolveu o Congresso e fechou o Supremo Tribunal. Teve dois dias de fama. Abandonado pelos militares, acabou preso e escafedeu-se para Miami.
Na última terça-feira, o grão-tucano Luiz Carlos Bresser-Pereira, ministro da Ciência e da Administração de FFHH, escreveu o seguinte:
"Parece-me cada vez mais claro que Lula não tem mais condições de permanecer no Planalto e que o impeachment é inevitável".
Direito dele achar isso. Bresser acredita que a "variável fundamental" para que se deflagre o impedimento será "a posição da sociedade civil".
Ele explica: "Nas democracias, embora o poder seja formalmente do povo, na prática, está com a sociedade civil, que dele se diferencia porque, no povo, cada cidadão tem um voto, na sociedade civil o peso de cada cidadão depende de seu conhecimento, de seu dinheiro e de sua capacidade de comunicação e organização"."
Traduzindo:
Embora o andar de baixo vote, quem manda na prática é o de cima, porque a patuléia é ignorante, não tem dinheiro, nem conhece jornalistas. Caberá ao andar de cima decidir o impedimento de Lula.
Poucas vezes o golpismo nacional expressou-se com tamanha clareza social. Bresser dá à tal de sociedade civil a condição de árbitro do alcance do sufrágio universal.
Segundo o doutor Bresser, o defenestramento de Lula justifica-se porque "estamos ante a maior crise moral da história brasileira". Estamos "ante" ou estamos "na"? Tudo depende de onde o doutor se coloca.
Registre-se que ele está na praça desde os anos 70, sempre militando na causa democrática. Como os golpistas dos anos 50 e 60 estiveram na frente democrática dos 40, não há nada de novo debaixo do céu de anil deste grande Brasil.
Bresser fala de bruxas que existem. Há as malfeitorias do governo e do aparelho de Lula, com cuecas, contas do Duda, mensalões e mesadinhas. Há a corrupção da base parlamentar e os caixas dois de campanhas eleitorais passadas, presentes e futuras. Mas há mais.
O tucanato faz de conta que nunca ouviu falar no caixa da campanha mineira de seu presidente, doutor Eduardo Azeredo, em 1998. Segundo o seu tesoureiro, ela custou R$ 20 milhões, com R$ 11,5 milhões rolando pelo caixa dois, no qual Marcos Valério pingou R$ 9 milhões.
Há algo de escárnio na construção de Bresser. Aos fatos:
Em 1998, a agência SPMB de Marcos Valério deu R$ 50 mil para a campanha de FFHH à reeleição. Cadê? O mimo não consta da prestação de contas encaminhada ao Tribunal Superior Eleitoral pela tesouraria tucana.
O caixa dois da campanha presidencial do PSDB em 1998 foi de pelo menos R$ 10 milhões. Sabe-se disso há cinco anos, desde que os repórteres Andrea Michael e Wladimir Gramacho estouraram a contabilidade do PSDB. À época, o tesoureiro de FFHH informou que tivera em seu computador algumas planilhas com listas de doações, mas jogara-as fora. Não se lembrava do conteúdo.
A tesouraria tucana disse à Viúva que arrecadou R$ 77 milhões nas campanhas de 1994 e 1998, mas as planilhas indicavam a entrada de pelo menos R$ 94 milhões. Uma diferença de R$ 17 milhões. O tesoureiro tucano, dono do laptop, era Luiz Carlos Bresser-Pereira.
O comissariado petista usa as contas tucanas de 1998 como queijo na sua própria pizza. Coisa assim: você pára de falar no Eduardo Azeredo e eu desisto de chamar o filho do Lula para contar na CPI como conseguiu que a Telemar se associasse à sua empresa de informática. Os privatas pagaram R$ 2,5 milhões por 35% do negócio de Fábio Lula. Esse é o jogo do andar de cima.
Para a patuléia, o melhor é que se fale de Eduardo Azeredo e que se conheça a história do filho de Lula. Ele pode ensinar a garotada a fazer novos empreendimentos.
Não é o estilo de Hugo Chávez que ameaça a República. Faz mais de um século que ela só é infelicitada pelas contas e pompas dos Pedro Carmona da vida.
Impeachment
Madame Natasha foi instrutora de guerrilha de José Dirceu. Atualmente zela pelo idioma e ensina boas maneiras às moças da Jeanny Corner. Ela concedeu uma de suas bolsas de estudo às pessoas que usam a palavra impeachment. Trata-se de uma word existente na língua portuguesa: "impedimento". Em inglês, soa chique. Em português, é violento. Nas duas versões, é uma reencarnação do golpe parlamentar, como o da Maioridade, em 1840, e o do parlamentarismo, em 1961. Natasha não votou em Lula porque não se mete com quem se orgulha de não ter ido à escola. Exatamente por isso, quer que ele fique no Planalto até o último dia de seu mandato, para ver se aprende alguma coisa.
GIBA UM
Ventilador ligado
A entrevista de Valdemar Costa Neto, presidente do PL e que renunciou a seu mandato de deputado federal há dias, à revista Época , garantindo que Lula sabia que o apoio de seu partido à candidatura presidencial custara R$ 10 milhões, coloca mais lenha na fogueira, embora apresenta algumas contradições. E respinga, para valer, no vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, também do PL. Se o impeachment for pedido nesse caminho, quem já pode encomendar um terno novo é mesmo Severino Cavalcanti, presidente da Câmara Federal.
(*) Lembrando que a matéria da época foi dada pela carta capital em 2002, já.
Tem mais
Já tem muitos políticos apostando que, se a CPI conseguir rastrear a origem dos valores recebidos por Duda Mendonça no Exterior, poderá chegar mesmo até Cuba, Venezuela, Líbia, Taiwan, Caritas alemã, partidos socialistas europeus e, quem sabe, até as Farc, como financiadores da super-mala que Delúbio Soares teria conseguido encher para pagar as dívidas da campanha presidencial de Lula.
As meninas de Jeany
De um lado, o senador Romeu Tuma (PFL-SP) diz, alto e bom som, que “o surubão está assustando mais do que o mensalão”; de outro, a cafetina Jeany Mary Córner prepara-se para ir depor na CPI dos Correios, por conta das festas que suas meninas participavam no 14º andar do Grand Bittar, em Brasília. Agora, já se sabe também que o advogado Rogério Buratti, homem ligado a Antonio Palocci, também forma entre seus clientes preferenciais. Para quem não sabe ou sequer imagina: o portfólio sempre apresentado por Jeany aos consumidores tinha produtos para todos os bolsos. E para os de maior saldo bancário, ela possui até uma gama de meninas ex-participantes de programas tipo Casa dos Artistas e Big Brother Brasil . Preço antecipado, mais passagens e estadia: R$ 10 mil.
(*) Lembrar da notinha da Veja sobre Sabrina Sato
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."
Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")