Depois de re-re-re-re assistir, por duas vezes, a trilogia na semana do Natal, resolvi ler o livro. Me surpreendi.

Tem alguns defeitos - os longos capítulos descrevendo o romance da Key com o Michael é um bom exemplo - mas foi muito bem refletido no filme.

O filme é mais ágil, como não poderia deixar de ser: as mortes dos acertos de conta, por exemplo, não são todas executadas de uma vez, durante o batismo do filho da Connie - no livro, Michael é seu padrinho de Crisma - mas ao longo do final; algumas, como a do Moe Greene, ocorrem, no livro, antes da morte de Don Vito, por exemplo.

Os diálogos de Don Vito são exatamente os diálogos do filme. Mas há duas diferenças importantes: o filme dá a entender que Sonny era apenas um porra louca, enquanto o livro o apresenta como um gênio tático, mas que peca no pensamento estratégico. E o filme apresenta Don Vito como desgostoso com a entrada de Mike no "olive oil business", enquanto no livro Don Vito sempre soube (desde as primeiras páginas) que Michael era o único com condições de sucedê-lo.

A diferença que mais me surpreendeu, no entanto, estava em um diálogo específico. Quando Mike, Sonny e Hagen estão confabulando se vão ou não matar Solozzo, Mike diz que vai dar um tiro nele e outro no capitão McCluskey, que quebrou o maxilar dele. Sonny diz, no filme, pra não levar as coisas pro lado pessoal, afinal, "it is just business". Michael responde com as razões para matar os dois e finaliza: "It is not personal. It's strictly business".

No livro, a abordagem é outra, e faz muito mais sentido: dessa vez é Hagen quem questiona o Mike. E ele responde:

"Tom, don't let anybody kid you. It's all personal, every bit of business. Every piece of shit every man has to eat every day of his life is personal. They call it business. OK. But it's personal as hell. I've learned from my Old Man. If a lightning bolt hit one of his friends, he'd take it personal. He took my going into the Marines personal. He takes everything personal. Like God."

Essa é uma das lições do Snowball também, o livro do Buffett. No fim do dia, tudo o que conta é sua reputação. "And it is personal as hell"...

o filme dá a entender que Sonny era apenas um porra louca, enquanto o livro o apresenta como um gênio tático, mas que peca no pensamento estratégico.

Acho que cabe relembrar a diferença entre tática e estratégia. Se não me engano, tática é o detalhamento prático da estratégia. Ou seja, o personagem do livro resolveria problemas menores rapidamente, mas sem um plano geral bem definido, certo?

sim, ele obtinha vitorias em batalhas, no curto prazo, mas que criaram problemas no futuro. teria sido melhor não lutar. ele lutou, a estratégia errada, e venceu, com a tática certa.

Também li o livro, há muito tempo. Não me lembro de detalhes, mas é muito bom!

Outra coisa interessante que quero pesquisar: ouvi outro dia que o poderoso chefão (o livro) foi baseado no projeto do Kennedy. O pai do John F. Kennedy era meio mafioso, ligado aos sindicatos...

O Kennedy pai não era um chefão propriamente dito, mas foi presidente de sindicato - e sim, ligado à Máfia, como todo presidente de sindicato americano das antigas - e acabou sendo embaixador americano na Grã Bretanha, no período imediatamente anterior à Segunda Guerra.

Kennedy era democrata, portanto não era isolacionista, e via Hitler com muita simpatia - ver O DUELO, de John Lucaks.

Tem um livro Godfather não escrito pelo Puzo - se não me engano é A VINGANÇA DO CHEFÃO - que diz que o presidente Kennedy foi morto a mando do Michael Corleone, tomando um pequeno gancho do chefão 2, um diálogo entre o Judeu de Miami e o Michael.

pesquisei um pouco...
o pai do kennedy, era sindicalista, contrabandeava bebida durante a lei seca, e entrou pra política casando com a filha do prefeito de boston...

Segue um brevíssimo resumo pra quem não conhece a história... apesar de ser quase inaceitável alguém com mais de 15 desconhecer esse clássico:

Don Vito Corleone é o chefe de uma família mafiosa de Nova York. Tem uma filha que se casa no começo da história, e mais três filhos: Sonny, Fredo e Mike. A família vê a chance de ganhar mais dinheiro do que jamais teve, ingressando no negócio do narcotráfico proposto por Sollozzo. Don Corleone nega a proposta. Sollozzo consegue o apoio de máfias rivais em NY e tenta matar o Don. E por aí vai...

Mais informações em viewtopic.php?p=1447#p1447 ou no google mais próximo de você.

Agora, lendo o livro percebi uma característica que não lembrava do filme: como a organização dos Corleones era não só bem tradicional (por exemplo, por causa da relutância em entrar no negócio das drogas) como relativamente bem machista. As mulheres na história não valem quase nada. Por outro lado, tem muito do "o modo como falou" o personangem que chega a ser mais importante que a própria fala.

Danilo wrote:Agora, lendo o livro percebi uma característica que não lembrava do filme: como a organização dos Corleones era não só bem tradicional (por exemplo, por causa da relutância em entrar no negócio das drogas) como relativamente bem machista.

típico de família "italiana da Itália". minha mãe conta vários "causos" (na colônia dos mazeto ).
Meu avô (e os carcamanos todos) era mega machista

nã0 se esqueçam de que o livro conta uma história pós WWII...

Mas sociedades tradicionais, machistas e nas quais vale a lei do mais forte ainda são razoavelmente fáceis de serem encontradas, não? Nem precisa de pé na Itália. Só sair das grandes cidades. Tome Oz como exemplo...


Aliás, o livro subiu pro meu ranking de top 5 livros: The Art of Innovation, 1984, As Mentiras que os Homens contam, 100 Anos de Solidão, The Godfather.

Todo domingo eu tenho algumas dificuldades de estacionar o carro perto da feira livre pois tem um restaurante perto que é "dono na rua". Os caras tem um serviço de manobristas que "reserva" o espaço de uns 5 ou 6 carros em frente do restaurante. E é bem um lugar com ótima sombra. Dá vontade de parar bem na cara dos manobristas e soltar uma fala do Corleone pro primeiro deles que perguntar se não estou indo no restaurante: I am a superstitious man and so if some unlucky accident should befall my youngest son, if some police officer should accidentally shoot him, or if he should hang himself in his cell, or if my son is struck by a bolt of lightning, then I will blame some of the people here. Com algumas adaptações de filho pra carro, claro.

Por essas e outras que o Godfather é o I Ching, a resposta para todas as perguntas, não?