República das Bananas...

América Latina, Brasil, governo e desgoverno
CPIs mil, eleições, fatos engraçados e outros nem tanto...

Postby mends » 02 Feb 2007, 17:53

A malandragem tributária da mensagem presidencial
Leiam este trecho da mensagem de Lula ao Congresso. Volto em seguida:

Além dos esforços direcionados para a maior eficiência do gasto público e do uso mais racional de recursos, existe um espaço para atuação do Governo no aprimoramento da estrutura tributária. Apesar da implementação, a partir de 2003, de diversas medidas de desoneração de impostos, a carga tributária bruta evoluiu de 35,61% do PIB, em 2002, para 37,66% do PIB, em 2005.
No mesmo período, a parcela correspondente à União elevou-se de 24,92% do PIB para 26,53% do PIB. Ressalte-se que esse crescimento da carga tributária não resultou da criação de novos impostos ou contribuições, acréscimo de alíquotas ou de ampliação de base de cálculo, mas sim dos efeitos positivos do crescimento da atividade econômica,do aumento da lucratividade das empresas e da melhoria na eficiência da administração tributária. Com respeito à administração tributária, está em curso um processo que irá renovar profundamente seu funcionamento na União, nos Estados e nos Municípios.A Secretaria da Receita Federal vem conduzindo a sincronização do cadastro dos diversos fiscos para possibilitar, nos próximos anos, a implementação de um sistema integrado de emissão eletrônica de documentos fiscais. Esse processo de integração possibilitará aos governos nos diversos níveis obter um amplo conjunto de informações que possibilitarão adotar medidas para simplificar, racionalizar e elevar a eficiência da estrutura tributária que incide sobre a produção no País.

O que vai acima é a admissão de duas coisas óbvias:
1) elevação da carga tributária;
2) aumento da parcela da carga que coube ao governo.
Reparem: quando se pensa percentualmente, o todo é sempre 100. Ora, se, antes, arrecadavam-se 35,61 de 100 e agora se arrecadam 37,66, então a elevação está comprovada.
Aí há dois argumentos tentando justificar o número:
- um deles é uma estupidez matemática;
- o outro faz sentido, mas embute uma malandragem política.
Diz Lula que aumentou a arrecadação porque houve “crescimento da atividade econômica”. Mentira! O PIB é sempre 100. O aumento foi percentual. Ninguém discute a elevação nominal da arrecadação. Temo que seja mais burrice do que esperteza. O argumento da eficiência faz sentido: se você deixa de arrecadar impostos que existem, diminui a percentual arrecadado sobre o PIB. Se arrecada tudo o que há para arrecadar, esse percentual aumenta. Fato.
Então vem a minha pergunta: com eficiência máxima, qual é a parcela dos 100 que vai para impostos? Tendo chegado a 37,66% porque houve mais eficiência — e dado que sempre há sonegação —, então É LÓGICO INFERIR QUE A CARGA É SUPERIOR A ESTE ÍNDICE.
E o governo prepara uma reforma tributária? Está claro que não. No máximo, promete “mais eficiência”. Excelente! Quem sabe cheguem à eficiência total. E aí saberemos o tamanho do confisco.

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Postby mends » 03 Feb 2007, 10:53

pra quem ainda acha que "vivemos sob uma Ditadura" é uma sentença muito forte...

Diogo Mainardi
Dioguildo que se dane

"Se Luiz Gushiken de fato quisesse que
a Polícia Federal investigasse minhas
atividades secretas, qual o sentido de
me alertar publicamente por meio de
um garoto de recados?"

– Meu telefone deve estar grampeado.

É o que eu sempre digo aos meus interlocutores. Até mesmo quando se trata da professora de música do meu filho:

– A aula é quarta-feira às 9.

– Meu telefone deve estar grampeado.

– ...

– Tome cuidado.

A suspeita de estar sendo grampeado aumentou muito na semana passada. Luiz Gushiken mandou uma carta ao diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, pedindo "medidas policiais" contra mim. O que isso significa? Escutas legais? Escutas ilegais? Quebra do sigilo bancário? Francenildo e Dioguildo?

Meu crime, segundo Luiz Gushiken, foi ter comentado numa coluna o assalto que ele sofreu em Indaiatuba. Isso demonstraria que sou membro de uma rede criminosa especializada em fabricar mentiras a seu respeito. Supostamente, o financiador dessa rede criminosa seria o banqueiro Daniel Dantas. O mesmo Daniel Dantas que eu acusei um monte de vezes de estar metido com o PT.

Mas o caso é ainda mais intrigante. Depois de mandar a carta ao diretor da Polícia Federal, Luiz Gushiken tomou a iniciativa de encaminhá-la a Paulo Henrique Amorim, que prontamente a publicou em sua página no iG, com o consentimento do autor. O petismo é misterioso. Se Luiz Gushiken de fato quisesse que a Polícia Federal investigasse minhas atividades secretas, qual o sentido de me alertar publicamente por meio de um garoto de recados?

Desconfio que seu plano fosse outro. Em meados do ano passado, a magistratura italiana passou a se interessar pelos negócios clandestinos da Pirelli e da Telecom Italia. Muita gente foi parar na cadeia. Algumas das principais testemunhas confessaram que as duas empresas pagaram homens públicos no Brasil. Telefono praticamente todos os dias aos meus informantes italianos, para saber detalhes sobre os pagamentos. Quem recebeu o tutu? Quanto? Quando? Onde?

Um dos envolvidos nessa história é Luiz Roberto Demarco, criador da loja virtual do PT e aliado de Luiz Gushiken na disputa comercial contra Daniel Dantas. É complicado saber o que passa pela cabeça de um petista, ainda mais um petista acuado. Se fosse para arriscar um palpite, eu diria que Luiz Gushiken teme ser associado de alguma maneira às denúncias vindas da Itália. Ao espalhar que eu e outros jornalistas fabricamos mentiras "com a finalidade de atingir a honorabilidade de sua pessoa", ele estaria tentando se antecipar aos eventos. Repito: é só um palpite.

O fato é que Luiz Gushiken acredita estar num estado policial. Para investigar alguém, basta ele querer, basta ele mandar. Talvez seja assim mesmo. O Brasil aceitou o acobertamento de todos os crimes de sua classe política. Se é para acobertar, é para acobertar até o fim. O Dioguildo que se dane.
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Postby mends » 05 Feb 2007, 17:33

Marco Aurélio, os salários e um desafio
Gosto do ministro Marco Aurélio de Mello, membro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Gosto até quando discordo dele, o que já aconteceu algumas vezes. Em palestra em uma universidade, disse que aceita trocar os seus vencimentos pelos de deputados e senadores. E desafiou: se os parlamentares não receberem três vezes o que ele, ministro, recebe, renuncia ao cargo. Por que a reação? Porque está se tornando influente a tese de que é preciso congelar o salário dos ministros do Supremo até que passe a vigorar um teto único para os Três Poderes. Até aí, ok. Só que deputados e senadores que tratam do assunto se esquecem dos ganhos indiretos a que têm direito, o que mais do que triplica seus salários. A piadinha de mau gosto consiste em comparar apenas os salários. Com alguma ironia, o ministro lembrou também que tem um “sócio” que divide com ele os vencimentos. Os R$ 24,5 mil tornam-se R$ 17 mil depois dos descontos. Muitos dirão: “Tudo isso?” Não existe um só advogado, no topo da carreira, com reputação firmada, que não ganhe, na iniciativa privada, sei lá, quatro vezes isso. Precisamos decidir se queremos ministros no Supremo ou advogados de porta de cadeia. Por que não, com efeito, congelar o salário dos ministros do Supremo, somar tudo o que eles recebem, dividir por 13 e definir a remuneração mensal dos parlamentares — que teriam cassados, claro, todos os outros benefícios? O que me dizem?

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Postby mends » 10 Feb 2007, 11:30

Diogo Mainardi
Heil, Homer!

"Charles Murray diz que ninguém descobriu
uma maneira para aumentar o QI das pessoas.
O que Homer Simpson e eu podemos garantir
é que há uma maneira para diminuí-lo. O Brasil
é a melhor prova disso"

Homer Simpson está esgoelando seu filho Bart. A troco de nada, ele pergunta:

– Pode haver país pior do que o Brasil?

Bart responde imediatamente:

– Nenhum país é pior do que o Brasil.

Homer Simpson se satisfaz com a resposta e solta a garganta de Bart.

A cena ocorreu num dos últimos episódios de Os Simpsons. O seriado está em sua 18ª temporada. É melhor do que toda a cinematografia americana do período. Martin Scorsese? Tim Burton? Joel e Ethan Cohen? Ninguém é páreo para Os Simpsons. Quem afirmar o contrário merece ser esgoelado.

Homer Simpson entende de Brasil. Ele sabe que Gregory Peck se refugiou em Bertioga e espalhou entre nós cópias geneticamente perfeitas de Hitler. Conheço um monte delas. Homer Simpson sabe também que os brasileiros voltaram ao passado pelo túnel do tempo. Sérgio Buarque de Holanda? Paulo Prado? Gilberto Freyre? Ninguém entende tanto de Brasil quanto Homer Simpson. Heil, Homer!

Se todos os pais esgoelassem seus filhos e os obrigassem a repetir diariamente que nenhum país é pior do que o Brasil, já estariam cumprindo seu papel. Apesar de seus modos rudes, apesar de sua falta de cultura, Homer Simpson educa direitinho o pequeno Bart. Quero educar meus filhos desse mesmo jeito. O único ensinamento que posso lhes dar sem medo de me arrepender é que nenhum lugar é pior do que este. O que a escola ensinará a eles é bem mais incerto. Os pedagogos petistas decidiram distribuir aos alunos uma cartilha ensinando a usar camisinha. A prática é descrita nos seguintes termos: "O pirata de barba negra e de um olho só encontra o capuz emborrachado". A pedagogia petista está mais para Beavis e Butthead do que para Homer Simpson. Se é assim, sugiro recorrer diretamente ao professor Edélsio Tavares, o mestre da imagem elegante: "A cobra caolha encapuzada que se aninha junto ao bolso esquerdo dos homens".

A escola nunca me ensinou a encapuzar o pirata de barba negra ou a cobra caolha. Aprendi fora da escola. Pensando bem, tudo o que eu aprendi – de útil ou de inútil –, aprendi fora da escola, em geral sendo esgoelado por meus pais. Quem argumentou que a gente perde tempo demais na escola foi Charles Murray, aquele da Curva do Sino. Num artigo recente, ele afirmou que 50% dos alunos possuem um QI menor do que 100. Isso significa que, por mais que se empenhem, jamais conseguirão aprender a ler um período mais elaborado, simplesmente porque lhes falta inteligência. Em vez de ensiná-los a ser maus médicos e maus engenheiros, portanto, é melhor ensiná-los a ser bons marceneiros e bons encanadores.

Pelos cálculos de Charles Murray, o ensino superior só faz sentido para quem tem um QI superior a 115. Isso corresponde a 15% do total de alunos. O resto de nós pode se arranjar perfeitamente sem se sacrificar na escola. Charles Murray diz que ninguém descobriu uma maneira para aumentar o QI das pessoas. O que Homer Simpson e eu podemos garantir é que há uma maneira para diminuí-lo. O Brasil é a melhor prova disso.
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Postby mends » 13 Feb 2007, 09:56

Ser bandido é uma escolha, não uma imposição do meio
É claro que o debate sobre as medidas para coibir a violência não se esgota na maioridade penal. O tema acaba despertando mais paixões por conta do espetáculo de farisaísmo de nossas autoridades, que logo se apressam em combater qualquer mudança, esgrimindo a verdade genérica e inútil de que “o problema é maior e mais profundo”. Um dos especialistas disse nesta segunda, na TV, que “precisamos definir qual sociedade queremos”. Por que não fecha a boca? “Precisamos” quem? Como é que se faz isso? Quem a gente chama para definir “qual sociedade queremos”?
O governo precisa investir mais em segurança pública? Sem dúvida. É preciso que se aplique adequadamente a Lei de Execuções Penais? Claro. É necessário rever o benefício da progressão da pena para certos crimes? É óbvio. Mas quem há de tomar essa iniciativa? Eu tenho uma idéia: o ministro da Justiça. A ele cabe iniciar o debate, juntar as pessoas responsáveis, chamar as lideranças partidárias, transformar as propostas em projetos de lei ou em emendas constitucionais. Os governadores de Estado também podem pressionar, dado o peso político que têm.
É evidente que não se vai resolver tudo definindo a maioridade penal aos 16 anos. A evidência está no caso do menino João. Apenas um dos facínoras era menor. Mas um deles, ao menos, quando menor, havia sido internado quatro vezes e, depois da maioridade, já tinha duas condenações, uma de quatro anos e meio. Foi solto depois de um ano. Tivesse o Estado cumprido a sua obrigação, e João talvez estivesse vivo. Assim, é evidente que a anomia que se vive decorre da pura e simples prevaricação.
Volto ao Ministério da Justiça. Márcio Thomaz Bastos se orgulha das ações da sua Polícia Federal. Bem pensado, os crimes cometidos contra o Estado, especialmente aqueles ligados à sonegação, mereceram tratamento especial. Mas nada se fez para combater os crimes contra a pessoa. Ou melhor: fizeram algumas coisas. Contingenciaram a verba da segurança pública.
Essa questão da idade me incomoda. Besteira é haver um limite, isso sim. Tudo deveria depender do tipo de crime que se pratica e das circunstâncias. O máximo que se pode pensar é em não pôr para cumprir pena num mesmo lugar adultos e adolescentes. Só. Mas os crimes de morte, evidenciado o ardil do assassino, têm de ter um período mínimo de reclusão, pouco importa a idade do assassino. Países inquestionavelmente democráticos são muito mais severos do que o Brasil neste particular (ver nesta página). E por que o debate, por aqui, sempre trava?

Doxa
O debate trava no Brasil por causa de um postulado ideológico, intelectual e até moral. As elites brasileiras se deixaram convencer pelas esquerdas de que o crime é fruto da questão social. A primeira pessoa a se ver livre da responsabilidade de seu ato é o criminoso. O dedo da acusação se volta, invariavelmente, contra a sociedade. E isso vale não apenas para os menores infratores. Para os adultos também. A criminalidade exerce um enorme fascínio em nossos intelectuais, em nossos artistas, em nossos pensadores. No fim das contas, somos todos convidados a perdoar as famílias pobres que não cuidam de seus filhos: a carência não teria deixado. Nas favelas, apenas uma minoria, como se sabe, é recrutada pelo narcotráfico — imaginem se fosse a maioria... Mas é o que basta para que os bandidos sejam, então, vistos como fruto passivo do meio social. Não se sabe exatamente por que a maioria resistiu ao banditismo, mas se tem uma justificativa para explicar (e perdoar) a adesão da minoria.
Nessas horas, tenho sempre uma curiosidade: repararam como os “sociopatas” dos sociólogos nunca se tornam suicidas, mas sempre homicidas? Por que diabos os seus defeitos de caráter, resultado suposto de suas muitas carências, nunca se voltam contra a própria segurança, mas sempre contra a segurança alheia? Deve mesmo ser uma tortura intelectual e tanto para as nossas esquerdas supor que até mesmo os pobres têm poder de escolha. Sim, só adere ao narcotráfico, só se torna bandido, só pega num revólver para assaltar QUEM QUER. Só se é bandido por escolha. Em qualquer classe social.

Também quero
Também quero a efetiva aplicação da Lei de Execuções Penais; também acho que não se pode mandar para a cadeia, junto com bandidos perigosos, pessoas que cometeram pequenos delitos; acredito, sim, que a aplicação de penas alternativas para crimes menores tem a sua importância; acho fundamental que se invista em policiamento preventivo. Mas calma lá: não vamos inverter a lógica; não vamos começar a achar que uma boa maneira de combater o crime é pondo mais bandidos na rua; é prendendo menos. O caso de um dos assassinos de João — aquele que não cumpriu a pena até o fim — mostra que precisamos é tirar marginais do convívio social, não aumentar a sua presença entre os homens de bem. E essa é a percepção da maioria esmagadora da população, inclusive nas favelas, tenho certeza, que hoje estão ocupadas pelo narcotráfico. Precisamos prender mais gente, não menos. Mas é preciso prender as pessoas certas.
Passada a comoção da última tragédia, noto que o jornalismo, que integra essa massa crítica filo-esquerdista disposta a condenar a “sociedade” — o “serumano” tanto aquece o planeta quanto é culpado pelo crime —, já começa a flertar com as “origens sociais da violência”, convidando as potenciais vítimas a dar murros no peito, fazendo o “mea culpa”. Estamos lidando não mais com um problema prático, que requer uma solução, mas com um universo mental. Nesse país de algozes e vítimas definidos pela ideologia, as culpas antecedem os fatos. Querem ver como dá para colocar nesse imbróglio até a cratera do Metrô?
Explico-me. Naquele caso, ninguém precisou esperar nem mesmo um laudo técnico. São culpados o capitalismo, as empreiteiras, a ganância, o lucro, a terceirização — tudo aquilo, enfim, que concorreria para esmagar os humildes e os pequenos. No caso do menino João, os assassinos confessos integram, como é mesmo?, uma teia de “problemas bem mais profundos”. A tentação para que sejam declarados todos vítimas do “sistema” é imensa. Ficamos assim: empreiteiros, vocês sabem, existem para soterrar pessoas. Já os assassinos da periferia existem para provar as nossas culpas.

Para arrematar
Voltarei ao tema, é certo. Mas lhes digo: a cada vez que a televisão levar ao ar um programa exaltando a “cultura da periferia” como uma outra ordem de valores, avessa a esta nossa, fazendo proselitismo da violência como um ato de resistência, não duvidem: estão arrastando de novo pelas ruas o menino João. O banditismo, no Brasil, virou um valor cultural e está sendo oferecido de bandeja para a classe média até em programas de auditório aos domingos.
Está em curso uma espécie de afirmação da “identidade da periferia”. E ela está pronta para apontar contra nós o seu dedo acusador. Quando não aponta o revólver.

Ora, mudar por quê?
Um dos rapazes que trucidou o menino João, quando menor, foi internado quatro vezes. Depois dos 18 anos, teve duas condenações. Uma delas a 4 anos e meio, por assalto a mão armada. Cumpriu um ano da pena e foi posto na rua. Os especialistas não querem mudar a lei.

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Postby mends » 21 Feb 2007, 17:45

Alô, Serra: seja original com o MST e a CUT. Use apenas a lei. E a Polícia.
José Rainha Jr. é proprietário de terra. Mas continua a ser um dos líderes dos sem-terra. Em qualquer país do mundo, ele seria processado por estelionato. Aqui, é líder. Uma liderança, hoje em dia, um tanto informal. Nem mesmo a direção do MST quer saber dele. Parece que o homem não segue aquela disciplina leninista que João Pedro Stedile exige dos seus — e isso não quer dizer, evidentemente, que Rainha Jr. seja um aliado da lei e da propriedade privada. Nada disso.
Numa das vezes em que este senhor foi preso, ele portava armamento pesado. A prisão nada teve a ver com a sua condição de "mártir" de araque.
Rainha é uma espécie de chefe de Estado de um pedaço de São Paulo: o Pontal do Paranapanema. Agora, ele está tentando anexar mais uma porção de terra a seu ducado: fazendas produtivas que estão na Alta Paulista. Iniciou uma nova onda de invasões, agora com a ajuda dos liderados de Luiz Marinho, ministro do Trabalho e ainda manda-chuva da CUT. Resumo: MST e CUT se uniram para tentar derrubar a produção agrícola de São Paulo.
Rainha, que eu saiba, está em liberdade provisória — pesquisem ai: se não for exatamente isso, só está solto por conta do mesmo laxismo que pôs na rua o assassino do menino João Hélio. Como sabemos, em Banânia, só os inocentes são culpados até prova em contrário. Mesmo todo enroscado com a Justiça, ele anuncia a sua disposição de invadir terras, é ouvido pelos jornais sobre a política de reforma agrária e, vejam só!, ainda diz que pretende se encontrar com o governador do Estado para propor um pacto.
Lugar de gente que promove invasão de terra é a cadeia, não o palácio, em audiência. Este senhor está tentando dar uma de esperto: critica a política de reforma agrária de Lula para ver se consegue se aproximar de Serra e, assim, aumentar o seu poder de fogo na guerra interna do MST. Políticos ficam com receio da imprensa politicamente correta e tendem a receber essa gente. Rainha é, sim, matéria de interesse dos Bandeirantes: acho que devem se ocupar dele o secretário da Justiça e os chefes da Polícia Militar e da Polícia Civil. Em tempo: Rainha tem tanta autoridade para analisar políticas públicas de distribuição de terra quanto tem Marcola para analisar o Código Penal.
Os governos Covas e Alckmin, diga-se, chegaram a celebrar acordos com cooperativas e entidades ligadas ao MST. Foram iniciativas para tentar diminuir a tensão no campo. Foram bem-sucedidos? É claro que não. Quanto mais comida se der ao MST, mais se lhe assanha a fome. Foi assim que ele se tornou uma das mais ricas, poderosas e influentes máquinas de produtos ideológicos do país, um dos queridinhos da “imprença pogreçista”.
Sugiro a Serra que seja absolutamente original no trato com o MST. Que ele use apenas a lei.

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Postby mends » 24 Feb 2007, 11:43

Ia ser drástico,
mas ia ser legal

"Trinta por cento da cocaína que passa pelo
Brasil vem da Bolívia. Nós acabamos de dar
um monte de dinheiro aos bolivianos: 100 milhões
de dólares ao ano. O que Lula acha de exigir uma
contrapartida de Evo Morales, condicionando a esmola
da Petrobras à luta contra os produtores de droga?"

Luana Piovani foi ao Sambódromo. Festejou a noite toda. Depois declarou que se sentia quase culpada por estar se divertindo em meio às notícias sobre o assassinato do menino carioca. Ela até comentou minha coluna da semana passada, em que eu pedia o cancelamento do Carnaval:

– Ia ser drástico, mas ia ser legal.

Nizan Guanaes mandou espalhar cartazes pelo Rio de Janeiro. Os cartazes dizem: "Um garoto de 6 anos foi arrastado cruelmente por 7 km. E aí... Nós não vamos fazer nada?" O publicitário esclareceu o sentido de sua campanha. Para ele, só há uma maneira de acabar com a criminalidade:

– É a sociedade que tem que resolver isso.

Luana Piovani está errada. Nizan Guanaes está errado. Quem tem de se sentir culpado pelo assassinato do menino carioca é o Estado. Quem tem de fazer algo contra a criminalidade é o Estado. Por mais que Luana Piovani e Nizan Guanaes esperneiem, por mais que Kelly Key chore, por mais que a sociedade se mobilize, o Estado continuará a tolerar os criminosos.

Lula sempre foi claro quanto a isso. Em 2003, durante uma onda de atentados do crime organizado, ele afirmou que, em vez de subir os morros à procura dos bandidos, a polícia deveria vasculhar as coberturas das grandes cidades, onde estariam escondidos, segundo ele, "os verdadeiros culpados".

Na época, notei que o próprio Lula era dono de uma cobertura, adquirida de maneira nebulosa alguns anos antes. Para quem se interessar pelo assunto, recomendo as reportagens de Luiz Maklouf Carvalho que tratam dos negócios de Roberto Teixeira com o presidente e com as prefeituras do PT. Mas o fato é outro. O fato é que, para Lula, o pobre que rouba um Corsa nunca poderá ser plenamente responsabilizado por seu crime. O culpado – o verdadeiro culpado – é o proprietário do Corsa.

Os criminosos têm de ser enfrentados com mais policiamento, com mais armas, com mais cadeias, com penas mais duras, com mais tecnologia. O resto é lulice. Quem atribui à sociedade um papel na luta contra o crime só está acobertando o poder público. E o poder público já escolheu seu lado. É o lado de lá. É o lado do inimigo. O que aconteceu nas últimas semanas, desde que o menino carioca foi morto? Os prefeitos se mexeram? Os governadores se mexeram? O presidente se mexeu? Ninguém se mexeu.

Lula já deu seu palpite sobre a maioridade penal. Eu quero saber o que ele pensa a respeito de algo mais prático, mais elementar, como o uso de tornozeleiras eletrônicas. É bom? É ruim? Outro exemplo: 30% da cocaína que passa pelo Brasil vem da Bolívia. Nós acabamos de dar um monte de dinheiro aos bolivianos: 100 milhões de dólares ao ano. O que Lula acha de exigir uma contrapartida de Evo Morales, condicionando a esmola da Petrobras à luta contra os produtores de droga?

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Postby mends » 28 Feb 2007, 18:14

Prendam a sociedade!
Tudo repetido mais uma vez de novo, leitor amigo. Redundância? Lula esteve nesta quarta em Suape, em Pernambuco, e falou sobre a violência. Segundo o Brilhantíssimo, “o mal já está feito”, e não há solução a custo prazo. A culpa, afirmou, é das políticas econômicas de governos passados, que não teriam surtido efeito. Sim, a gestão Lula produziu a mesma média de crescimento do primeiro governo FHC, mas menos em relação ao resto do mundo (ver abaixo). E daí? Afirmou ainda que o problema é de toda a sociedade. Entenderam, né? E como responder à violência, segundo o Apedeuta? Simples: com mais emprego e mais educação. Agora fiquei tranqüilo. A propósit0: por que ninguém mete em cana essa tal "sociedade", safada e culpada?

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Postby mends » 05 Mar 2007, 16:31

Eu me converti
Eu não creio no fim do mundo, não neste que anda por aí, químico. Leiam o Apocalipse de João. Vocês vão adorar, além de encontrar a fonte original de boa parte do catastrofismo científico: cientista, quando quer ser literato, apela à Bíblia. Mas adiante. Como medidas serão tomadas para conter o aquecimento global, todas as tragédias que adviriam do dito-cujo não se realizarão por causa das medidas... Entenderam o círculo? Depois das profecias que se auto-realizam, temos aquelas pensadas para não acontecer.
Aliás, o pensamento verde está diante de alguns dilemas.
O movimento ecológico, hoje em dia, consegue impedir a construção de uma hidrelétrica por causa de dois macacos e um minhocuçu. Os minhocuçus excitam a imaginação ecológica de procuradores, que conseguem embargar as obras. A energia gerada pelas hidrelétricas é limpa. Não aquece o planeta. Vive-se, então, um dilema: salva-se o glossoescolecídeo que há, tomado em sua individualidade (“minhocão também é ser humano", diria Magri), impedindo a construção da usina, ou se salvam os glossoescolecídeos do futuro? É uma escolha moral difícil.
A propósito do aquecimento: as queimadas da Amazônia, fiquei sabendo outro dia, são consideradas o quarto maior fator de produção do dióxido de carbono, o que põe o Brasil na vanguarda (!!!) dos países que mais aquecem o planeta.
Se forem transformar o país num enorme canavial, não custa ter cuidado. A grande Dois Córregos (minha terra natal), que compreende cidades como Jaú e Bauru..., é uma região canavieira. No período da safra, o ar fica quase irrespirável. Ainda hoje, queima-se primeiro o canavial para depois fazer o corte. Isso é necessário porque é impossível a colheita manual sem destruir primeiro as folhas. Já existem máquinas que fazem o serviço, mas há três problemas: a) não se adaptam a certos tipos de terreno; b) provocam muita perda; c) causam desemprego rural. O mundo não presta. O Bem está mesmo escondido na Caverna...
É por isso que também resolvi aderir à religião do aquecimento e só vejo uma saída: "Mudar o nosso estilo de vida", como dizem os profetas. Não sei o que é. Mas deve ser bacana. Sobretudo porque se parte da premissa, sempre, de que quem tem de mudar é o outro. Trata-se de uma daquelas causas em que a simples adesão moral ao princípio já aplaca a consciência. Isso é como jornalista diante de um banco de praça no qual não se pode deitar. Alguns acham o assunto irrelevante e tendem a considerar que banco é pra sentar. Trata-se de uma frieza reacionária. Mas há os ternos e igualitaristas. Denunciam que o banco é “antimendigo” e já se sentem dando a sua cota de contribuição a um mundo melhor. Afinal, trata-se mesmo, sabem?, de ter um “novo olhar” diante das coisas. Você até pode ser um beneficiário do aquecimento global, como qualquer um. O importante é ter a alma despoluída.

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Postby mends » 07 Mar 2007, 08:39

e o país afunda mais e mais...

Diogo Mainardi, um promotor de Sergipe e Silvio Romero
Na defesa incansável dos direitos do povo brasileiro, o Ministério Público já entrou com ações civis contra as novelas Sinhá Moça (Bahia) e Páginas da Vida (São Paulo), por exemplo. Atribuindo-se a tarefa de polícia de costumes — a versão nativa da polícia religiosa do Irã ou da Arábia Saudita —, decidiu agora processar as pessoas por delito de opinião. O alvo da vez é Diogo Mainardi. O Ministério Público Federal, agora o do Sergipe, entrou com uma ação civil pública contra o colunista, acusando-o de preconceito e discriminação contra nordestinos, em especial os sergipanos, e por ofensas morais à cidade e ao povo de Cuiabá. Sim, isso mesmo: um procurador de Sergipe acusa Diogo de ter desrespeitado a população da capital do Mato Grosso...

O que Diogo escreveu ou disse de tão grave a ponto de o MP-SE gastar dinheiro do contribuinte com uma ação civil pública? O procurador da República Paulo Gustavo Guedes Fontes justifica:
- na edição da revista Veja de 19 de janeiro de 2005, ao se referir ao então presidente da Petrobrás, José Eduardo Dutra, Diogo escreveu: “Dutra não tem passado empresarial. Fez carreira como sindicalista da CUT e senador do PT pelo estado de Sergipe. Não sei o que é pior (...)”.
- no programa Manhattan Connection, em 9 de março de 2005, falando sobre Lula, fez a seguinte observação: “Ele não é pragmático. Ele é oportunista. O episódio do Pará agora é muito claro. Quer dizer, uma semana ele concede a exploração de madeira, na semana seguinte ele cria uma reserva florestal grande como Alagoas, Sergipe, sei lá eu... por essas bandas de onde eles vêm. Isso é oportunismo...”.
- Na edição de Veja de 18 de maio de 2005, Diogo escreveu: “Minha maior ambição, hoje em dia, é jamais, em hipótese alguma, colocar os pés em Cuiabá”.

Indústria de ações civis
Diogo, eu e todo mundo — em especial, intelectuais nordestinos — vivemos descendo o porrete em São Paulo. Ou no Rio de Janeiro. Ou em Nova York. Ou em Paris. E ninguém acha que isso é feio ou discriminatório. Por que Sergipe ou Cuiabá não poderiam suportar uma crítica — se é que ela foi mesmo feita, coisa de que duvido? O procurador quer que Diogo, Abril e GNT paguem R$ 200 mil cada um a título de indenização por danos morais. É nisso que o MP gasta o seu dinheiro, leitor amigo.

Na enquete, faço uma brincadeira sugerindo que a obra de Monteiro Lobato deva ser reescrita para eliminar os traços de racismo. Tia Nastácia e Tio Barnabé fundariam um quilombo e empalariam Dona Benta. Evocando o mesmo Lobato, imagino o que o Ministério Público Federal, existisse à época, não faria com o seu Jeca Tatu — as cidades do Vale do Paraíba têm todo o direito de se “proteger” daquela crítica. Ou a que rigor não submeteria Os Sertões, de Euclides da Cunha, quando este afirma que a mestiçagem contribuiu para fazer os degenerados de Antonio Conselheiro.


É evidente que Diogo faz uma crítica que nada tem a ver com naturalidade, raça ou coisa parecida. Entendam bem: Sergipe não é o Sergipe geograficamente delimitado; Cuiabá não é a Cuiabá do mapa, e o Nordeste não é a região arbitrariamente definida por cientistas sociais. Assim como as “cidades mortas” de Monteiro Lobato não são aquelas geograficamente encontráveis no Vale do Paraíba (SP). “Aquele” Sergipe, “aquela” Cuiabá, “aquele Vale do Paraíba” estão em qualquer lugar. Podem estar entranhados em São Paulo, no Rio ou, à sua maneira, nos subúrbios de Paris. E por que não há ações civis públicas quando alguém critica, sei lá eu, o mau gosto, a caipirice ou o novo-riquismo paulistano? É simples: porque São Paulo não fica bem no papel de oprimido — só de opressor.

Pense rápido, leitor amigo: o empresário Albano Franco ou José Eduardo Dutra, ex-chefão da Petrobras, ambos sergipanos, têm mais coisas em comum com os pobres do Sergipe ou com os ricos de São Paulo, Rio (ou qualquer lugar do Brasil)? Um pobre nascido em Dois Córregos (SP) está mais próximo do paulista Antonio Ermírio do Moraes ou do carregador de malas do sergipano Dutra? O que é ser um “sergipano”, senhor procurador? O que é ser um “cuiabano”? Um rico de Cuiabá topa dividir um uisquinho com um carioca descolado ou prefere um sem-teto patrício? O que os une? Ademais, a menos que a Constituição seja abolida, qualquer um, entendo eu, é livre para não pôr os pés onde bem entender — sendo-lhe facultado, até onde sei, expressar essa determinação. Mais: também lhe é permitido odiar Sergipe, Cuiabá, São Paulo ou a casa-da-mãe-Joana.

O que mais me encanta é que o procurador Paulo Gustavo Guedes Fontes procurou um parecer técnico para embasar a sua ação. Anexou, acreditem, um “laudo antropológico” de autoria de Jorge Bruno Sales Souza, “antropólogo”. O especialista conclui que “fica patente a intenção do jornalista Diogo Mainardi de menosprezar as pessoas oriundas da região nordeste do país.” Não existe um curso de graduação para você ser um “antropólogo”. Ninguém se forma em antropologia na USP, PUC ou Universidade Federal do Sergipe. Trata-se de uma pós-graduação geralmente voltada para sociólogos. A especialização é, na verdade, um ramo da sociologia.

O “laudo” faz supor que se trata de uma questão objetiva, não meramente de um achismo e de um valor (subjetivo, ideológico, parcial) de quem julga. No livro As Formas Elementares da Vida Religiosa, de 1917, Émile Durkheim já apontava a tendência de se “naturalizar” a ciência social. Vale dizer: o que era uma construção valorativa ambicionava o lugar de uma ciência natural. Nunca ouvi falar desse tal Jorge Bruno — se ele existisse para a antropologia que conta, duvido que eu o desconhecesse. Mas está lá, dando seu atestado, assim como o geômetra assevera, em consonância com a natureza, que o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos.

Jorge Bruno é do Sergipe? Parece que o procurador Paulo Gustavo Guedes Fontes é mineiro. Não posso lhe pedir, então, que se inspire nos sergipanos Silvio Romero (1851-1914) ou Tobias Barreto (1939-1889). Os dois, diga-se, foram bastante influenciados pelo naturalismo do século 19. Romero atacou sem piedade os “degenerados” de Antonio Conselheiro, a que já me referi aqui. Só teve uma compreensão um pouco melhor do que lá aconteceu depois que Euclides explicou. A dupla sergipana não aceitava o sertão mental brasileiro, fosse ele do Sergipe, de São Paulo ou da Bahia.

Romero é um caso engraçado. O sergipano deveria ser processado ex post pelo Ministério Público. Estou aqui com o volume 5 de sua História da Literatura Brasileira (José Olympio, 1980). Quando quer se referir aos críticos que não teriam entendido direito Os Sertões, escreve a “crítica indígena” — entenda-se: primitiva. Eis o livro à minha frente, aberto na página 1511. Romero está descendo o sarrafo em Machado de Assis, de quem não gostava. Acusa o escritor de nem mesmo ser engraçado. E manda bala: “Nossa raça produz facilmente o cômico, que se não deve confundir com o humour”.

Ô sergipano preconceituoso esse Silvio Romero... Mandem queimar seus livros.

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Postby mends » 08 Mar 2007, 08:57

"Vamos fazer o combate à hipocrisia no País. Preservativo tem que ser doado e ensinado como usar. Sexo tem que ser feito e ensinado como fazer, somente assim teremos um País livre da aids";

-"Não tem como carimbar na testa de um adolescente quando é momento de começar a fazer sexo. Sexo é uma coisa que quase todo mundo gosta, é uma necessidade orgânica do ser humano, portanto o que nós precisamos fazer é ensinar";

-"É preciso melhorar a massa encefálica dentro do cérebro para as pessoas compreenderem que as mulheres devem ser respeitadas"

-"Os pais e a Igreja ATRAPALHAM o debete que temos que ter com os jovens sobre sexo".

Lula-Molusco, ontem.

Com os meus filhos não, fascista filho de uma puta. Se Deus quiser, ainda hei de acabar de criá-los em algum lugar civilizado.
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Postby mends » 08 Mar 2007, 19:06

TINHA IDIOTA HOJE NAS RUAS COM A BANDEIRA DO IRAQUE!!!!!

DO IRAQUE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

BANDO DE VAGABUNDOS


Bush, Geni, o Zepelim e Nietzsche
Caso George W. Bush ponha a cara na janelinha tão logo o Air Force One entre no espaço aéreo brasileiro, vai constatar lá embaixo a existência de uma nuvem espessa, que tanto vai se adensando quanto mais a aeronave se aproxima do solo. Seria um cúmulo, semelhante a uma montanha de algodão, que tanto me encantou quando pude vê-la, do alto, pela primeira vez? Poluição? Conseqüências do efeito estufa? Nada!

Trata-se de uma nuvem grossa de estupidez, de primitivismo, de recalque, de complexo de subdesenvolvido, de sentimentos escravos voltados contra o nhonhô. E, é claro, há muito de vagabundismo oportunista também. Algumas entidades financiadas com dinheiro americano, “imperialista”, estarão nas ruas protestando contra o chefe do Império. É incrível: Bush é o assassino que mata no Afeganistão e no Iraque. É o canalha que impede o desenvolvimento dos países pobres. Mas não é só isso: Bush também atrapalha o trânsito de São Paulo, pô! Que cara chato! Não basta impor a globalização aos povos da floresta, tem de provocar também congestionamentos?

Espero que os editores de Cidades dos jornais e das TVs tenham pautado direito seus repórteres. “Pessoal, precisamos jogar um olhar (as faculdades de jornalismo ensinam os repórteres a ter um olhar novo..., esquerdista geralmente) diferente na visita. Vamos contá-la do ponto de vista do camelô, do motorista, do Zé Mane”. É isso. Reportagem de TV não é sempre assim, aproximando o telespectador distraído do fato, tentando fazer com que ele pare de coçar os países baixos para prestar atenção na notícia? Mal posso esperar: “Dona Maricota vende pastel na esquina da 23 de Maio com que nem sei onde; hoje, ela teve de tirar o seu carrinho...” É isso: Bush atrapalha a vida das Maricotas.

No plano simbólico, estávamos bem aqui, na nossa selva, quietinhos, encafofados em nosso mocó, curtindo os nossos tabus, adorando os nossos totens, e chega esse porcaria desse Jorjibúchi: “gó rome, gó rome”. Algum desses democratas vagabundos foi à rua protestar quando os ditadores vieram para a tal cúpula América do Sul-países árabes? Ou os nossos vagabundos só se opõem à ação dos soldados americanos numa guerra, mas acham muito justo que se possa matar de tortura nas masmorras e com gás mostarda nas ruas?

O que ele está querendo? Pegar carona na nossa grandeza? Ah, os pacifistas que estão nas ruas... No prefácio de Genealogia da Moral (e não que a obra seja a minha bíblia, até porque anticristã), Nietzsche se diz inimigo da “vergonhosa feminilidade e sentimentalismo” que predominavam à época (1887). Não há uma marca de gênero aí. É uma figuração. Os ressentidos brasileiros parecem a Geni, do seu queridinho Chico Buarque, esperando o Comandante do Zepelim, que vem para se lambuzar com as coitadinhas oprimidas. O Brasil virou a mulherzinha de Bush.

Ainda com Nietzsche: trata-se da luta dos “doentes contra os sãos”; da luta daqueles “de semblantes astutamente resignados e, às vezes, revestidos de uma hipócrita e nobre indignação” contra aquele que consideram o seu Senhor.

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Postby mends » 08 Mar 2007, 19:07

Diogo Mainardi

“Uma menininha foi morta por uma bala perdida no Morro dos Macacos, no Rio de Janeiro. Isso aconteceu durante um tiroteio entre traficantes e policiais. Os traficantes usam os moradores dos morros como escudos humanos. É o Hezbolah carioca. Aconselho os parentes da menininha baleada a procurar Ruy Castro. Um dia antes do crime, ele comemorou o fato de que o Rio de Janeiro ocupa um reconfortante centésimo sétimo lugar entre as cidades mais violentas do Brasil, bem atrás de Colniza, Juruena e Coronel Sapucai. Como um perfeito mensaleiro petista, Ruy Castro creditou a má imagem do Rio de Janeiro à imprensa. No fundo, é culpa da Veja. É sempre culpa da Veja.
Renato Janine Ribeiro é diferente de Ruy Castro. Em vez de comemorar o caráter bondoso dos cariocas com uma Coca-Cola light e um pratinho de torresmo no bar Jobi, ele preferiu defender a tortura e a pena de morte contra determinados tipos de criminosos. A idéia de Renato Janine Ribeiro gerou um debate rasteiro sobre como um intelectual deve se posicionar diante de um assassinato. Eu respondo: um intelectual deve se posicionar diante de um assassinato da mesma maneira que ele se posiciona diante de um pratinho de torresmo. É melhor pedir a conta e ir embora.”
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Postby mends » 12 Mar 2007, 15:36

Cuidado! A página da Presidência da República deve ser proibida para menores de 18 anos a qualquer hora do dia ou da noite
Na semana passada, Lula fez algumas digressões sobre a sexualidade juvenil e acusou a Igreja Católica de hipócrita por se opor à política oficial no que diz respeito à camisinha. Na seqüência, vocês sabem, ele defendeu que a Rodada Doha encontre o chamado Ponto G. A descoberta que vai a seguir é de Olavo de Carvalho. Você só deve seguir os passos abaixo, leitor, se tiver mais de 18 anos. Vamos lá:
1) Entre na página da Presidência da República, a saber:
http://www.brasil.gov.br/governo_federa ... esidencia/
2) Em seguida, clique no link “Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres”. Quer ganhar tempo? Está aqui:
http://www.presidencia.gov.br/estrutura ... ncia/sepm/
3) No penúltimo item à esquerda, há um item chamado “Links”. Clique ali. Você cai aqui:
http://www.presidencia.gov.br/estrutura ... epm/Links/
4) Há duas opções a partir daí: “Governo Federal” e “Mulheres”. Clique no segundo para chegar à página http://200.130.7.5/spmu/portal_pr/links.htm
5) De novo, você tem duas opções. “Governo Federal” e “Mulheres”. Não desista das "Mulheres". Clique ali. Você terá acesso a uma página de links recomendados pela Presidência da República e pela Secretaria Especial de Políticas para as mulheres. A página é esta: http://200.130.7.5/spmu/portal_pr/links ... lheres.htm. Note que, até chegar a este passo, você sempre estará no ambiente da “Presidência da República Federativa do Brasil”.
6) Entre os links, há um chamado “Transas do Corpo” (procure ali, na coluna à direita).
7) Com a recomendação, quero crer, de Lula e da secretaria das mulheres, o leitor ou leitora cai numa página pontocom chamada “Erosmania”, cujo símbolo é uma maçã mordida. Aí, estão à venda:
"Sexotone – Afrodisíaco masculino e feminino – R$ 27,50
“Fukuoku Finger Thumbs – Jelly” – Explica-se: “Dedos rotatórios e estimulador c/ vibro. 12 x 3,5” - R$ 164,70
“Wireless Bunny - Waterproof – Jelly Pênis c/ cinta, vibro e estimulador clitoriano” - R$129,00
“Waterproof Wireless Rabbit Vibe – Jelly Vibro à prova d’água com capa em Jelly e cinta” - R$174,90
“Cueca Sexxy Color Lycra e cós de elástico acetinado” - P, M e G - R$27,80"
A Presidência da República e a secretaria, na prática, também recomendam aos brasileiros os seguintes DVDs (o que segue foi colado do site):
“Atentado Sem Pudor!
Azeite espanhol, este é o segredo do El Matador!
A Casa do Fetiche - gay
Entre e deixe a imaginação fazer o resto! 1:40h
Meninas Malvadas
Só gatas lindas e novinhas! Sexo grupal, ATM. 1:50
Avalanche de Quatro!
Veja o efeito “Gelo no Grelo”. Anal, DP. 1:35h
Deliciosa e Indecente - 2
Super Hard! DP, DP anal, ATM, dilatações. 2:05h
Priminha Ardida - Briana Banks
Corpo de volumes generosos e jeitinho meigo! 3h”

É isso aí. Há muito tempo considero o governo Lula um atentado violento ao pudor. Não imaginei, sinceramente, que pudesse chegar tão longe. É a boa gente “pogrecista” do “pudê”, aqueles que detestam hipocrisia. É por isso que um dos filmes que somos convidados a comprar, com o endosso da Presidência, chama-se O Estuprador de Coroas, com a explicação: “Mulheres de 46 a 54 anos”. Há um aviso: com sexo “inter-racial”. Ufa! Sem preconceitos. Surpreso, leitor? Compre o DVD “Karma – Quando o Destino Ataca pelas Costas”.

Acabou. Como diria Baudrillard, um cretino não fundamental (deve estar aplicando o 171 teórico no capeta, a esta altura), o Brasil é uma realidade virtual.

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Postby mends » 13 Mar 2007, 08:30

Regressão continuada e mediocridade política
Sou um crítico de primeira hora da chamada “progressão continuada”, que vigora em São Paulo. Eu sempre a chamei de “regressão continuada”, verdadeira vanguarda do retrocesso na educação. Trata-se de uma tolice inventada por educadores nefelibatas, que atribuem à escola um papel que não lhe cabe. Quem tem de tirar a criança da rua não é o professor. À escola cabe ensinar. Dito assim, parece simples, mas não é, sei disso. Não duvido de que medidas deveriam ser tomadas para evitar a evasão escolar — que, com efeito, caiu radicalmente em São Paulo. Mas se optou pelo caminho mais fácil — e, devo notar, mais autoritário: impondo a progressão sem que o próprio professor tivesse sido educado para tanto e sem que houvesse condições objetivas para sua realização. Caso se retire da escola a cobrança do desempenho, será preciso oferecer outra coisa no lugar: o quê? Proselitismo? Videogame? Farra? Nada?

Ocorre que Rose Neubaeuer, ex-secretária de Educação de São Paulo, não se caracterizou, no cargo, por ser alguém que tivesse especial apreço por ouvir. Não. Não me refiro a ouvir desocupados de sindicatos. Brincando, eu a chamei em diversos textos de a “Madame Mao” da Educação. Fui professor. Sei como funciona. Se a progressão continuada fosse assim coisa tão boa, os estabelecimentos particulares de ensino, com melhores condições de oferecer a tal recuperação, já a teriam adotado. Até por razões de mercado. E não a adotaram.

O governador José Serra vai mudar o critério: em vez da possibilidade de reprovação a cada quatro anos, quer encurtar esse prazo para dois. Considero isso correto como o primeiro passo apenas. O certo é acabar com essa besteira. Não sei se é ela que responde pelo desempenho ruim das escolas paulistas nos exames oficiais. O que sei, com absoluta certeza, é que não ajuda. Alunos chegam analfabetos ao fim do primeiro grau, ao fim do segundo, ao fim da universidade. É um esculacho. Dez anos de equívoco não se corrigem de uma vez. Talvez seja impossível extinguir a progressão agora, o que talvez gerasse uma demanda por escolas — estrutura física mesmo — e professores que não poderia ser suprida.

Junto com a progressão continuada, veio também o fim das provas — ou das avaliações, como se diz por aí. São um instrumento importante para saber se o aluno está aprendendo ou não e, claro, servem também para controlar a tigrada. Que mal há nisso? O coquetel inventado pelo governo Covas em São Paulo tirou do professor — muitos deles despreparados, mas essa é outra questão — a autoridade. Pobre não tem direito de fazer prova? De ser avaliado? De competir com o pobre do lado? Por quê? Escola não é reformatório, não é instituição para menores carentes — menos ainda para menor infrator. A escola não concorre com a rua. Tem de oferecer a perspectiva de um futuro melhor, o que, na maioria das vezes, ela não faz. E o futuro melhor vem com português, matemática, história, geografia, ciências...

Em entrevista concedida ontem à Folha, Rose Neubauer acusa seu sucessor, o ex-secretário Gabriel Chalita, de não ter dado continuidade a seus programas, especialmente às aulas de recuperação. Chalita fala hoje ao jornal preserva quem o atacou e prefere atirar contra o governo de São Paulo. E o que diz o educador, pensador, escritor, poeta, dramaturgo, músico e bonitão?

Sobre os péssimos resultados colhidos pelas escolas de São Paulo, nada! Na essência, ele conservou o erro fundamental da antecessora: a regressão continuada. Aliás, ele se revela contrário mesmo ao encurtamento do prazo. E lamenta que o governo de São Paulo tenha cortado recursos da tal Escola da Família. Cortou, sim, onde ela já não funcionava, embora consumisse recursos milionários. Chalita acha que R$ 200 milhões para um programa de resultados duvidosos é pouco quando se tem um orçamento de R$ 12 bilhões. Se o dinheiro é do público, meu senhor, R$ 1 já é muito para ser desperdiçado.

O ex-secretário está apenas fazendo picuinha política. Para demonstrar que é um homem que pensa com grandeza, elogia o ministro da Educação, que é do PT, e ataca o governo de São Paulo, que é do seu partido. Entenderam a jogadinha esperta? Está tentado atrair a simpatia da esquerda — Chalita, um neocom: de “neocomunista” — ao defender a progressão continuada e investir num bate-bico de tucanos.

O que ele não consegue certamente explicar é o fato — atenção! — de que inexiste um currículo para o ensino fundamental e médio em São Paulo. Sim, vocês leram direito: o Estado mais rico do país não tem um currículo. Existe a grade, com as disciplinas. Mas, dentro dela, cada professor atira para o lado que bem entender. Se houver por bem que é chegada a hora de ensinar tudo sobre o povo do Tibete, ele pode. Chalita resolveu levar a família pra escola, fazer poesia sobre passarinhos, mas esqueceu de lhe dar um currículo. Entre a Madame Mao e o Moço Bom, a educação em São Paulo, com efeito, não vai muito bem das pernas. Na comparação com o resto do país, não é um descalabro. Está ali no batalhão intermediário. Mas isso é muito ruim. Tanto pior porque o desempenho geral é pífio.

Não adianta jogar a culpa nas costas da inclusão, como fez o ex-ministro Paulo Renato em entrevista à Folha de ontem Até porque, convenha-se: se era para incluir e obter esses resultados, qual a vantagem? Ocorre que isso é mais uma facilidade do que uma resposta. É preciso incluir o estudante numa escola que cumpra o seu papel; é preciso incluir o aluno numa escola que não abra mão de ensinar; é preciso incluir o aluno numa escola capaz de selecionar quem tem condições de enfrentar os desafios seguintes; é preciso incluir o aluno numa escola que saiba O QUE ensinar. Parece uma obviedade, mas lá vou eu: a inclusão numa escola que abre mão de ser escola para evitar a evasão promove, vejam só, a exclusão tanto dos menos como dos mais aptos.

Levou-se a rua para a escola; levou-se a família para a escola. Só não se levou para a escola a obrigatoriedade de cumprir um papel: ensinar.

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