by mends » 08 Feb 2006, 14:15
é a velha história: quando o engraxate entra na bolsa, é bom estar vendido...bolsa exige um mínimo de conhecimento financeiro. Warren Buffett costuma dizer que, se vc tem um QI de 170, pode vender 45 pontos e ainda assim se dar bem em investimentos. Mas hoje, por exemplo, li um absurdo em uma lista de discussão de mercado, cujos participantes da lista são investidores: “muito hedge não é bom, porque vc não ganha”. O cara simplesmente confunde divesificação de portfolio com hedge, que são conceitos muito diferentes, e muito básicos – quando surgir a oportunidade e o tempo, escrevo sobre eles. Agora, o artigo da dona de casa que quer ser investidora...e um segredo: o.k., IBOVESPA em 37,000, queda forte nesses dias, com todo mundo realizando. É o que se lê nos jornais. Agora, vc tem um papel que valorizou, e vc só ganha dinheiro se vender - assumindo que queira vender, obviamente, que a sua estratégia não seja “buy and hold” ou de value investment*, que exigem prazos mais longos. Lembrando sempre que um mercado é um mercado, seja ele de peixe ou de swaps de derivativos de crédito, se alguém quer vender, ele só vende se alguém quiser comprar. E quem vai comprar? A famosa dona Maria, a que pensa “todo mundo ganha, quero também”. Vai comprar caro, a bolsa vai cair, ela vai se assustar, vai vender barato e vai sair do mercado dizendo que “é um cassino, são todos ladrões”...
*value investment é uma estratégia de investimento que não se preocupa com a volatilidade do papel. Existem, basicamente, dois tipos de risco no mercado: a volatilidade do preço do ativo, função da oferta e demanda, da precificação de informações, do movimento de manada, do resultado do Superbowl. Volatilidade significa que o preço pode subir, pode cair, e, se o mercado for eficiente (discussão pra depois), se não estiver em ponto de ruptura, se pudermos modelar o retorno de uma ação pela média do retorno histórico (geralmente uma média móvel do tempo em que vc pretende ficar com o papel) mais três desvios padrão pra cada lado, temos a famosa NORMAL. No curto prazo, como a probalidade do preço subir ou cair, SENDO O MERCADO EFICIENTE, é igual (o famoso RANDOM WALK do mercado), vc está exposto ao risco da volatilidade, e vc se protege dele diversificando seus investimentos, ie, não colocando todos os ovos na mesma cesta – frase cuja expressão matemática rendeu um prêmio Nobel a Harry Markowitz. Agora, se o prazo for longo o suficiente, vc não precisa diversificar, porque o risco que vc corre é menos o da volatilidade, uma vez que, se você quer segurar a ação por dez anos, não importa a mudança do preço dela amanhã, e mais do de comprar uma ação CARA. Vc deve procurar as baratas, as pechinchas, as que ninguém está olhando, MAS QUE TEM POTENCIAL PRA CRESCER, cujo negócio tem vantagens competitivas para estar no mercado em dez anos, modelos de negócio não sujeitos a mudanças dinâmicas perigosas, setores menos sujeitos a movimentos de consolidação, para que, em dez anos, vc possa vender e embolsar o lucro. E pra isso vc tem que saber estratégia, contabilidade, finanças...isso é value investment, e isso é o que faz Warren Buffett ser o segundo homem mais rico do mundo, o homem que ganha do Dow Jones todo ano, o homem que dá a seus clientes retornos compostos médios de 30% ao ano.
O artigo:
O risco da exuberância
Por Daniele Camba, Adriana Cotias e Luciana Monteiro De São Paulo
Já não é mais o galã da novela das nove que prende a atenção de Nice dos Santos à noite. Depois de tanto ver no Jornal Nacional que o Índice Bovespa bateu mais um recorde de alta, a diarista passou a se interessar por esse mundo desconhecido, pensando seriamente em aplicar suas pequenas economias em ações. "Se todo mundo ganha com isso, eu quero ganhar também", raciocina Nice. Esse fenômeno é mundial. Toda vez que as bolsas sobem, o desejo de pegar carona no lucro instantâneo contagia até os que mal sabem o que representa o sobe-e-desce do mercado. Mas em muitos momentos, esse entusiasmo foi o prenúncio de uma longa fase de baixa.
Uma das máximas que os velhos operadores de mercado gostam de repetir é: quando todo mundo está falando em investir na bolsa, é hora de vender. A origem dessa frase é uma história que faz parte do folclore do mundo das finanças. Em 1929, pouco antes do "crash" da Bolsa de Nova York, o pai do presidente norte-americano John Kennedy, Joseph Patrick Kennedy, resolveu vender toda sua carteira depois que o rapaz que engraxava seus sapatos perguntou-lhe como estava o mercado acionário.
O cenário atual é bem diferente, mas o surpreendente vigor demonstrado pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nos últimos meses já leva alguns analistas a questionar se não há um certo exagero nessa disparada. Só em janeiro deste ano, o Ibovespa subiu mais de 20% em dólar, superando os 17 mil pontos na moeda norte-americana. No Brasil pós-Real, a pontuação máxima antes atingida pelo indicador tinha rondado os 11.800 pontos, em 1997, em pleno ano da derrocada dos Tigres Asiáticos. Depois disso, só em 2005 é que o Ibovespa passou a bater seus próprios recordes, ultrapassando os 15 mil pontos e fechando dezembro com 14.293 pontos.
Preocupado com o que chama de "euforismo" (euforia com otimismo) que teria tomado conta até dos mais gabaritados profissionais do mercado - com projeções que chegam a prever um Ibovespa na casa dos 50 mil pontos até dezembro -, Alexandre Espírito Santo, sócio da Avanti Gestão de Recursos e chefe do Departamento de Economia e Finanças da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio (ESPM-RJ), preparou um estudo em que fotografa alguns picos e depressões da bolsa brasileira nos últimos 20 anos. Ele relaciona esses momentos aos principais fatos políticos e econômicos que moveram o ânimo dos investidores e extrai um resultado gráfico interessante: nunca, até o segundo semestre do ano passado, o Ibovespa tinha ultrapassado os 12 mil pontos em dólares.
"Que o mercado acionário brasileiro mudou de patamar não resta dúvida, mas o problema é que a bolsa começa a atrair pessoas que nunca investiram em ações antes, dando margem para o chamado dinheiro esperto (o capital especulativo, de curto prazo) realizar lucros e entrar depois num preço mais acessível", afirma Espírito Santo, que espera muita volatilidade para a Bovespa neste ano. O calendário eleitoral, soluços na economia americana e a possibilidade de a gripe aviária se alastrar além das fronteiras da Ásia são alguns fatores de risco citados pelo especialista, combinando, assim, uma visão mais fundamentalista à análise estatística que preparou.
Olhando pelo retrovisor, Espírito Santo considera que o investidor iniciante deve evitar a empolgação e esperar a poeira baixar. Um nível de 11 mil ou 12 mil pontos em dólar, ou entre 24.200 e 26.400 pontos em reais seria um intervalo mais confortável para ingressar na bolsa.
Mas até onde pode ir um índice que subiu mais de 380% em dólar desde o fundo do poço atingido em setembro de 2002? Para o estrategista do Pátria Banco de Negócios, Luís Fernando Lopes, o Brasil não tem fundamentos para justificar uma alta de 20% em dólar em apenas um mês, como ocorreu em janeiro. Do ponto de vista macroeconômico, o cenário está longe de ser um céu de brigadeiro. "O crescimento, que foi medíocre em 2005, será apenas menos medíocre este ano", diz, projetando expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 2,9% em 2006.
Ele cita que o nível de solvência do país - que se traduz nos indicadores fiscais e externos - é bastante tranqüilo, mas nada que não existisse já no ano passado. Do lado político, o Brasil está às vésperas de uma eleição presidencial que tem tudo para ser ultra-acirrada e com momentos surpreendentes. "Veremos novas acusações todos os dias, esta eleição está longe de ser uma disputa tranqüila."
Se não existem fundamentos que segurem uma valorização tão acentuada da bolsa, há motivos técnicos de sobra. E o principal deles é a enxurrada de recursos estrangeiros ingressando nos emergentes, à procura de bons retornos. Esse dinheiro não é privilégio só do Brasil. Foi um capital que fez as bolsas do mundo inteiro, especialmente as emergentes, subirem nos últimos meses e com mais força em janeiro.
A grande questão é saber até quando esse caminhão de dinheiro continuará entrando e o que vai ocorrer quando começar a sair. Lopes não tem essa data, mas afirma que, historicamente, movimentos técnicos são de curto prazo e costumam ditar mudanças abruptas.
Mas é inegável que o Brasil teve progressos estruturais importantes. Mais do que isso. Segundo o gestor da Fides Asset Management Gustavo Harckbart, ao longo dos anos, a Bovespa ganhou estabilidade e ficou mais próxima dos mercados desenvolvidos. "Com o país a caminho de se tornar 'investment grade' (grau de investimento, a nota que significa baixo risco para os aplicadores), a volatilidade se reduz."
Ele acredita, no entanto, que a fonte de recursos estrangeiros pode secar, dependendo do comportamento da economia mundial, puxada pelos EUA. "Os indicadores mostram uma forte queda da produtividade, o que pode significar um repique da inflação e novos aumentos de juros que não eram esperados." Para ele, os próximos dados serão decisivos, apontando qual a direção da economia americana. "Ainda não há motivos para preocupação, mas a luz amarela do fluxo estrangeiro já acendeu."
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."
Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")