O milagre da Philips
Empresa anuncia uma revolução na indústria da informação: um computador fino como uma folha de papel
Por EDUARDO PINCIGHER
Desde que os chineses inventaram a forma rudimentar do papel – por volta de 100 a.C –, material que os europeus aperfeiçoaram com o processamento de celulose, dando-lhe a forma e o aspecto atuais, em meados do século XIX, nada havia surgido que pudesse substituí-lo. A Philips garante que conseguiu a proeza. “A partir de meados de 2005, vamos colocar à venda para o público o e-paper, um aparelho que recebe e reproduz dados via internet e tem tela dobrável”, orgulha-se Walter Duran, diretor do laboratório da filial brasileira da empresa. Com fidelidade de imagem seis vezes superior à de telas de cristal líquido, usada em celulares, as amplas possibilidades de utilização do e-paper acenam como uma verdadeira revolução. “Dá pra imaginar que ele substituirá o jornal impresso, por exemplo. Mas sua gama de aplicações é tão ampla que muitos outros serviços irão surgir a partir dessa idéia”, aposta Duran. A Philips não informa o valor investido no projeto e-paper. Sabe-se, apenas, que faz parte do montante anual de US$ 4,2 bilhões aplicados em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias.
A proposta é, de fato, extremamente arrojada: permitir a produção de um “papel eletrônico” quase tão barato como o que todo mundo usa. O estágio atual do sistema, anunciado recentemente pela Philips para ser usado em um e-book da Sony, conserva as informações em preto e branco e com três ou quatro milímetros de espessura, impresso em vidro. “Dentro de um ano, ele estará bem mais fino e será totalmente flexível como uma folha de papel. Você poderá enrolá-lo e levá-lo no bolso. Além disso, terá tela colorida”, sentencia o diretor da empresa.
Diante dos demais displays conhecidos, como LCD (cristal líquido), plasma (televisores de última geração) e tubo de imagem (aparelhos convencionais de TV), o e-paper possui vantagens técnicas substantivas. Pra começar, não emite luz, apenas a reflete, o que gera uma tremenda economia de energia. Uma pilha comum, dessas que abastecem relógios de pulso, poderá durar dois ou três anos. Também não há limitações quanto ao formato e ao tamanho do aparelho. De jornal a outdoor. Por dentro, o aparelho usa a “tinta eletrônica”, desenvolvida pela E-Ink, parceira da Philips desde 2001. Os primeiros estudos sobre essa tinta vinham sendo desenvolvidos desde os anos 80 pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology).
Tela dobrável. O mais interessante dessa parafernália tecnológica, que ainda não tem preço de venda definido, é a diversidade de utilizações. Algumas delas, segundo Duran, afetarão diretamente o dia-a-dia das pessoas, como a tela destacável de um lap-top. “Em vez de receber o jornal impresso em casa, você ligará o aparelho e receberá a edição on-line. Após completar sua leitura, basta ‘enrolar’ o e-paper e guardá-lo no bolso. Ou então acessar seus e-mails... Imagine quantas outras funções não surgirão”, aposta. O melhor disso tudo, claro, sem contar os aplausos dos ambientalistas pela diminuição na produção de celulose, com menos árvores cortadas etc., é que, ao folhear seu novo jornal, você não vai sujar os dedos de tinta...
1- O equipamento: Os dados chegam via internet. A tinta eletrônica é impressa em tela plástica de 3 mm de espessura.
2 - A fórmula: A tinta é composta por partículas pretas e brancas que flutuam dentro de pequenas bolhas.
3 - A leitura: A carga elétrica aplicada na base da tela movimenta as partículas. As pretas sobem para criar o texto, e as brancas formam o fundo.
4 - Letra impressa
5 - Bolhas contendo as partículas da tinta