by mends » 19 Jun 2004, 11:35
Aula de arrogância
Escola Americana cobra 72% a mais
de brasileiros para isentar filhos de diplomatas de países aliados
Por tina evaristo e thaís antonelli
A elite de Brasília declarou guerra aberta aos americanos. Nada a ver com subsídios agrícolas que tanto incomodam o Itamaraty. Desta vez a disputa se dá em um pequeno quarteirão da Asa Sul, onde funciona a Escola Americana, instituição predileta dos ricos e poderosos, com aulas em inglês e calendário igual ao de Washington. Dias atrás, a escola, controlada pela Embaixada dos Estados Unidos, anunciou um aumento de 72% nas mensalidades. A taxa da 8ª série, por exemplo, foi de R$ 1.800 para R$ 3.105 mensais – ou seja, 1 mil dólares. A razão do reajuste: a embaixada dos EUA quer distribuir bolsas de estudo para filhos de diplomatas de países amigos. Ou seja: a cortesia seria subsidiada pelos pais dos 350 alunos brasileiros. A medida arrogante, que lembra a doutrina diplomática do governo Bush, provocou reações imediatas. Isaura Canhedo, mulher do dono da Vasp, resolveu tirar quatro netos da escola. Cristiane Constantino, acionista da Gol, vai no mesmo caminho. “Não é questão de dinheiro”, explica Taís Pinheiro, dona do grupo Real Expresso. “Queria que meus filhos tivessem uma experiência de democracia e o que temos é uma concentração de poder.”
Diante das reclamações, a presidente do Conselho de Educação, Shelley Wooley, teria aconselhado empresários e autoridades a retirarem seus filhos de lá. “Ela me disse que essa escola não é para brasileiros”, relata a mãe Elizabeth Bezerra. À DINHEIRO, Shelley nega ter dito isso. “As bolsas de estudo foram projetadas para qualquer aluno com dificuldade genuína, independentemente da nacionalidade”, assegura. Na noite de quarta-feira 16, pais brasileiros ficaram até às 23h30 tentando entrar em acordo com os americanos. Na mesa, a proposta do senador Paulo Octávio, que mantém dois filhos na escola, de dividir os alunos em três classes sociais, segundo o valor da mensalidade. Quem paga mais manda mais. “Estou me empenhando para que americanos e brasileiros entrem em acordo”, explicou o senador. Os americanos têm uma contra-proposta. Permitem que os brasileiros paguem até 60% do valor. Em contrapartida, querem o controle absoluto sobre o Conselho. A decisão será tomada no próximo dia 28. A guerra é certa. “Aceito o que a direção da escola determinar”, diz Liliane Roriz, filha do governador do Distrito Federal.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."
Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")