A tevê da Microsoft
Empresa busca novos mercados e lança tecnologia capaz de transformar a velha tevê em uma central de entretenimento para toda a família
Por Manoel Fernandes
Bill Gates é o tipo de sujeito que não consegue ficar parado aproveitando o fato de ser o homem mais rico do planeta. A Microsoft, empresa que fundou, vale US$ 287 bilhões e o Windows, o sistema operacional para computadores que ajudou a criar, está presente em 90% de todos os 700 milhões de PCs do mundo. São números impressionantes, mas que não o deixam satisfeito. Gates quer ampliar seus domínios e o território escolhido agora é a televisão. Na semana passada, ele ficou mais próximo de alcançar os objetivos dessa nova empreitada.
A operadora de telefonia Verizon se tornou a terceira empresa do setor nos Estados Unidos a assinar um contrato para oferecer aos clientes o serviço de IPTV da Microsoft. Essa tecnologia é um conjunto de softwares que transforma a velha televisão em uma central de entretenimento e é baseada no padrão da rede, conhecido como Protocolo Internet (IP, em inglês), que permite tráfego de dados, voz e vídeo no mundo virtual. Nesse novo conceito será possível, por exemplo, alugar vídeos direto na rede, gravar filmes sem a necessidade de DVD, navegar na internet e assistir a um número ilimitado de canais.
A estratégia de Gates é transformar seu produto em algo tão monopolista quanto o Windows. O esforço pode ser muito benéfico para o caixa da Microsoft. Pelas projeções de vários institutos de pesquisa existirão no mundo, em 2010, cerca de 1 bilhão de PCs. O número de televisores será o dobro. A idéia de Gates é ganhar entre US$ 2 e US$ 5 de cada tevê – um mercado potencial de US$ 10 bilhões – que utilizar o seu software. É esse programa que permitirá que os sinais de tevê trafeguem pelos cabos de fibra ótica da rede até a casa dos clientes das operadoras de telefonia e TV a cabo. “Voz, dados e vídeos estarão em um único lugar nos próximos anos”, afirma Fabiano Campos, especialista em IP da empresa brasileira Multiredes. “As operadoras de telefonia são as empresas mais interessadas nessas novas tecnologias.” As empresas do setor no mundo todo já fazem testes dentro desse novo conceito de serviços. Na Itália, a Fastweb oferece aos clientes a chance de falar ao telefone, usar a rede em alta velocidade e assistir a vídeos. No Brasil, a Telefônica, Telemar e Brasil Telecom fazem testes com esses pacotes, mas o desembarque no mercado ainda vai demorar.
O acordo entre a Microsoft e a Verizon não foi por acaso. Antes dele, Gates havia fechado com as Comcast e a SBC. Fora dos Estados Unidos, a Microsoft fez acordos com a empresas do Canadá, Espanha, Itália e Índia. Ele tentou entrar sozinho neste mercado, mas percebeu que sem as operadoras não iria longe. A tecnologia da IPTV vem sendo desenvolvida há dez anos e já custou US$ 500 milhões em investimentos. Daqui em diante, o fundador da Microsoft quer recuperar o prejuízo e não quer perder mais um único tostão. E dessa forma continuar sendo o homem mais rico e inquieto do mundo.