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Três livros tornam a estupidez humana ainda mais profunda
Do Editor do UOL Tablóide
O Editor do UOL Tablóide trabalha muito, mas não deixa de estudar. Nos seus momentos de folga, dedica-se a compreender com maior profundidade e sociabilidade (ele não sabe bem o que quer disse isso, mas a palavra tá na moda na academia) as questões do nosso tempo.
No último feriadão, ele foi a sua imensa biblioteca e, aleatoriamente, puxou três lombadas. Coincidência ou não, vieram três títulos que versam sobre uma questão em que o Editor é especialista: a estupidez humana.
Juntos, livros sobre a estupidez humana
Contrariando os paradigmas, o Editor acredita que a estupidez humana é algo que precisa ser cultivado. A evolução tende a promover a inteligência, mas só o esforço individual conduz à estupidez.
"Como Me Tornei Estúpido" (Rocco, 160 pág., R$ 24), do francês Martin Page, é uma noveleta que narra exatamente toda a dificuldade enfrentada por um rapaz inteligente no sentido de alimentar sua idiotice. Antoine, o protagonista da história, é um especialista em aramaico que não gosta de ser manipulado, odeia a burocracia e lamenta a força que o dinheiro tem no mundo. Percebe todas as violência do cotidiano e, assim, é infeliz.
Antoine tenta algumas saídas: primeiro, o alcoolismo. Como lhe mostra um sujeito que entende da arte, falta-lhe a vocação para a doença. Em seguida, pensa no suicídio, mas descobre que também esse não é seu caminho. Sobra-lhe, na tentativa de ser feliz, a burrice. Um pediatra receita-lhe o Felizac, um remedinho sensacional, que o faz esquecer que as fábricas de tênis exploram trabalho infantil, que as grandes empresas investiam dinheiro em atividades condenáveis, que a sociedade de consumo, enfim, leva ao consumo do próprio planeta. Entra para o mercado financeiro e fica rico ao derrubar café no teclado do computador. Parecia um caminho sem volta, até que...
Sem contar o final da história, o Editor do UOL Tablóide tem de reconhecer que, apesar do tom didático e exagerado, Martin Page filia-se à bela tradição de críticos irônicos como George Orwell, autor de "A Revolução dos Bichos" (anti-stalinista), e Chico Buarque, com seu livro-resposta a Orwell, "Fazenda Modelo" (anticapitalista). O mais fantástico, porém, é que sua fábula antineoliberal não precisa de animais: as bestas são os próprios homens.
"Darwin Awards - Os Campeões da Idiotice" (Matrix, 262 pág., R$ 34,90) é um livro triste. Ele traz o relato de tragédias, em geral pessoais, causadas pela estupidez individual. Na maioria dos casos, trata-se de gente que nem precisou passar pelo processo de aprendizado que Antoine conheceu: chegou lá por pura sorte, não por mérito.
É o caso, por exemplo, do mecânico que tentou tirar por baixo um motor de caminhão, em vez de içá-lo por cima, o método tradicional. Só que o cidadão foi ele próprio para baixo da máquina soltar os parafusos. Quando terminou esse serviço, obviamente o motor caiu sobre ele, esmagando-o.
Por que Prêmio Darwin? O nome, segundo os autores do livro e do site que recolheu os casos, tem origem incerta, mas o objetivo é homenagear aqueles que deram sua própria vida para evitar que a sua estupidez fosse passada adiante.
Por mais que tenha dado risadas com muito desconforto em vários momentos do livro, o Editor do UOL Tablóide considera o livro de mau gosto.
Finalmente, o Editor do UOL Tablóide leu "O Imbecilismo - E Outros Textos de Humor" (Geração Editorial, 156 págs., R$ 24), do brasileiro Edson Aran.
Aran tornou-se um autor seminal para após publicar "Conspirações", uma espécie de dicionário de teorias conspiratórias (o Editor do UOL Tablóide acredita em todas elas). "O Imbecilismo" está alguns degraus abaixo e peca, em muitos momentos, por fazer piadas fáceis com o presidente Lula e com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan e outras figurinhas do universo cultural brasileiro.
Mas ainda assim arranca boas risadas: a orelha é assinada por Van Gogh. O próprio texto que dá nome à obra, relativo a um suposto movimento artístico, tem bons momentos, como esse, na cronologia: "1930 - Renè Rediculous termina a escultura 'A Grande Bola de Gude' para a 1ª Exposição Imbecilista de Paris. Mas descobre, na última hora, que a obra não passa na porta do ateliê".