by mends » 27 Apr 2006, 10:07
campanha estilo do AF pro Rijkaard: "Bush, invada o Irã, invada o Irã..."
Ouçam o Irã
Por Fábio Santos
O Irã está anunciando previamente o roteiro que pretende percorrer em seu confronto com o Ocidente. E este é exatamente aquele que alimenta os pesadelos de qualquer pessoa sensata e que, portanto, tema as pretensões nucleares da república islâmica. Quem quer que ainda considere que os iranianos têm o direito inalienável de desenvolver o ciclo de enriquecimento de urânio e dominar os passos necessários para construir armas nucleares precisa prestar atenção no que dizem os líderes do país.
Na segunda, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, ameaçou abandonar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, exatamente como fez a Coréia do Norte, que testou ao extremo os limites do TNP até que se considerou capaz de construir sua bomba. Então, retirou-se do tratado e deu uma banana para o resto do mundo, em especial para os EUA, que levaram a sério a suposta disposição da ditadura norte-coreana para negociar.
Nesta terça, o roteiro completou-se com a notícia de que o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, disse ao presidente do sudanês, Omar al Bashir, que está em visita a Teerã, que seu país pode compartilhar sua tecnologia nuclear com nações amigas. Se o Irã souber como enriquecer urânio, dispuser do maquinário para fazê-lo em grau suficiente para abastecer armas atômicas e estiver fora do TNP, nada poderá impedi-lo de passar tal conhecimento a países como o Sudão — como, aliás, fazia secretamente o Paquistão.
Se isso acontecer, será o mesmo que entregar material nuclear na mão de grupos terroristas. O Estado sudanês só é forte quando se trata de promover o genocídio de uma parcela de sua população — aquela que não é árabe nem muçulmana na região de Darfur. Foi justamente no Sudão que Osama bin Laden começou a organizar a sua Al Qaeda tal como ela existe hoje.
Depois de ser expulso da Arábia Saudita, que cassou sua nacionalidade, o terrorista mudou-se para o território sudanês em 1991 e por lá, além de gerir novos campos de treinamento, ele era quase um ministro informal do inexistente Estado sudanês, conforme relata o repórter Robert Fisk em seu novo livro The Great War for Civilization — The Conquest of the Middle East. Por meio de duas empresas montadas por Bin Laden, ele construía estradas e cultivava centenas de milhares de hectares de terra.
Ah, claro, o Irã também é muito amigo do Hamas palestino e dos milicianos libaneses do Hezbollah. Não são exatamente nações-Estado, mas podem vir a comandar uma. Nos últimos tempos, os iranianos também têm se aproximado da Síria, país dominado por uma ditadura surgida de um movimento laico nacionalista, mas apoiada politicamente sobre as bases de uma das seitas xiitas, os alawitas. Até havia pouco, os aiatolás xiitas iranianos os consideravam hereges merecedores da morte. Isso mudou. Hoje, mais importante é criar alianças na região.
Diante de tal quadro, haveria muitos incentivos para que a Arábia Saudita — por sua vez dominada por uma monarquia autoritária, aliada a uma outra seita, essa sunita, os wahabis, inimiga dos xiitas — também buscasse sua bomba atômica. Aliás, se o Irã construir a sua, numa situação limite, os EUA podem até mesmo chutar para o alto os seus compromissos com a não-proliferação e ajudar os sauditas a colocar as mãos em ogivas nucleares. A Jordânia, também sunita, seguiria o mesmo caminho.
É um quadro realmente aterrador: uma corrida nuclear numa das regiões mais sensíveis do planeta, sede de algumas das maiores reservas de petróleo do mundo. E ainda tem quem argumente que não há maiores ameaças no fato de o Irã conseguir a bomba. O país é racional e agiria da mesma forma que as demais nações nucleares, usando seu arsenal apenas como um instrumento de dissuasão. É melhor prestar atenção no que dizem Ahmadinejad e Khamenei.
[fabio@primeiraleitura.com.br]
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."
Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")