só mesmo um brasileiro pra dizer que concorrência pode ser ruim pro consumidor. Mas, fazer o quê? O cara é uma "sumidade..."
JOÃO SAYAD
Padaria
Nos Estados Unidos , na fila do caixa, você escolhe entre café americano, expresso, capuccino ou café com leite. Noutro balcão, entregam o café em copo de papel. Num terceiro balcão, sujo de açúcar e café, estão os palitos de plástico usados como colherinhas. O capuccino vem misturado com um creme aguado. Todos têm o mesmo gosto. Custam R$ 7.
Essas redes americanas de café fazem sucesso há muitos anos. São negociadas na Bolsa por dezenas de bilhões de dólares, apesar do excesso de funcionários e da má qualidade.
"Salta uma média com espuma e pão com manteiga na chapa". Na padaria brasileira não há filas. O funcionário atrás do balcão grita o pedido e começa a falar de futebol. O café vem em xícara de louça lavada na sua frente. Custa R$ 2. Só existe no Brasil.
No Brasil, maior exportador mundial de suco de laranja, não temos laranjas tão bonitas e tão doces como nos Estados Unidos -melhores do que as mexericas do Rio.
No Uruguai, a produção brasileira de presunto, salsicha e salame acabou com a produção dos embutidos uruguaios -mais gostosos do que os nossos. No Brasil, o hambúrguer pouco saudável, inventado para um país onde a carne era cara, substituiu o churrasquinho saudável e compatível com os preços da carne do Brasil, o maior exportador de carne do mundo.
Logo começa a reunião da OMC, na qual serão negociadas reduções nas barreiras ao comércio internacional. Brasil e outros países subdesenvolvidos reclamam contra a proteção comercial e os subsídios à agricultura nos Estados Unidos e na Europa. Todos concordam que o livre comércio e a concorrência são benéficos para os consumidores e incentivam a produtividade das empresas. O comércio traz o desenvolvimento -vejam a China.
Os países agrícolas e subdesenvolvidos como o Brasil consideram a proteção européia pior do que a americana, pois subsidiam as exportações e reduzem artificialmente os preços internacionais dos produtos agrícolas brasileiros.
No caso americano, a concorrência é entre grandes produtores brasileiros e grandes produtores americanos que produzem produtos semelhantes aos nossos em grande escala.
Na Europa é diferente. A proteção e os subsídios atrapalham mais os produtores brasileiros, mas a liberalização do comércio europeu poderia acabar com pequenos produtores agrícolas que produzem rúcula e tomate deliciosos na Itália e leite, iogurte e queijos em outros países, melhores do que os nossos.
Comércio ajuda o desenvolvimento por causa da escala de produção, que reduz custos e, muitas vezes, qualidade. E por causa da publicidade. Só a publicidade explica o hambúrguer. A concorrência atrapalha o produtor e pode ser ruim para o consumidor.
Em teoria, nos mercados concorrenciais, sobrevivem apenas os produtores que vendem o melhor produto com o menor preço. Tomamos café sem gosto e chupamos laranja azeda e acreditamos que são gostosos porque são lucrativos. Ao vencedor, as batatas.
Receio que nossos netos viverão num mundo mais quente, sem média com pão e manteiga, tomate italiano ou maria-mole.
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João Sayad escreve às segundas-feiras nesta coluna.
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jsayad@attglobal.net Agora, dá licença: o europeu que quiser tomate e rúculas deliciosos que pague mais caro por eles! Aqui também tem café premium, o qual pagamos mais caro! Ao consumidor deve ser dada a chance de escolher entre o melhor e o mais barato!
Depois o Jr. perguntou se eu não estava considerando um doutorado no Brasil mesmo...pra ouvir bobagem como essas?
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."
Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")