FREAKONOMICS

Resenhas de filmes e livros que você viu e/ou leu.
Não sabe escrever uma resenha?
Então comente... ;)

Postby mends » 18 Jul 2005, 11:37

Livro escrito por Steven Levitt, PhD em economia pelo MIT e professor de Chicago que quer que a gente acredite que não manja matemática e necas de econometria...(formado onde se formou, dando aula onde dá, fica difícil).
Só li o primeiro capítulo, vou postando conforme a leitura avance.
Levitt defende idéias politicamente incorretas nesse livro, mas é um pouco O MUNDO ASSOMBRADO PELOS DEMÔNIOS da Economia. Mostra as falácias do senso comum e da pseudo intelectualidade.
Uma é muito atual pra gente: Levitt é contra o desarmamento da população civil (devidamente registrada e capacitada). Mostra que ter uma piscina em casa é mais arrsicado que ter uma arma, e usa um argumento que eu também uso, mas eu não sou Lebvitt, apesar do argumento ser primário, porque o pressuposto do desarmamento é simplório: bandido não compra arma legalmente, e não respeita a lei por definição, logo uma lei contra armas não tem efeito nenhum na criminalidade. O que funciona é mais polícia, mais prisões, justiça mais rápida, mas sempre dentro dos princípios do estado de direito de garantia do direito de defesa - justiça rápida não quer dizer justiça sumária.
Outro ensaio, ligado à criminalidade e também heterodoxo, mostra a forte correlação entre a queda de criminalidade em D+20 anos, sendo D o ano de legalização do aborto nos EUA. O aborto deu opção a quem seria pai irresponsável, e Levitt defende a tese que lar sem pai, com mãe solteira e pobreza, cria um círculo vicioso que aumenta a probabilidade de crime como solução para os jovens adultos frutos desses lares.
Eu sou a favor do aborto, ou melhor, do direito de escolha. Acredito que deva existir a opção, apesar de ser contra o aborto para mim e para os meus, que já passei pelo processo de análise da possibilidade. Levitt, ao comentar ROE vs. WADE - a decisão da Suprema Corte que libera o aborto - nos mostra que a liberdade civil é condição primordial pra uma sociedade em equilíbrio, e resquícios de totalitarismo e dirigismo, aliados ao paternalismo estatal imbecil, são receitas para o desastre.
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Postby junior » 18 Jul 2005, 12:45

Sou provavelmente o cara mais ignorante do globo em economia, mas cheguei a ver uma entrevista desse tiozinho na Folha há um tempo atrás. Acho essa idéia de trabalhar com estatísticas muito mais eficiente que apelar pro senso comum, sem dúvida nenhuma, mas também acho que é preciso levar em conta todas as possíveis contra-argumentações (o que eu acho que o cara deve fazer, é óbvio, afinal ninguém passa pelo MIT e UofC 'a toa!).

Longe de ser especialista, e mais querendo dar opinião nonsense, essa coisa do desarmamento, por exemplo, às vezes tenho impressão que soa direita republicana norte-americana (ainda que dizer que os manos Ivy League e UofC são republicanos seja bizarro, bizarro...). E´ claro que polícia, vigilância, etc, etc melhoram as estatísticas. Mas as armas que os sujeitos compram também entram na roda, não?? Se há menos armas no mercado disponíveis, legal ou ilegalmente, isso e´ bom, certo?

Mesmo na hipótese que desarmamento não diminua a criminalidade "pesada" (roubos, assassinatos nas ruas, etc), suponho (mas meu senso comum pode estar errado) pode ajudar a evitar "acidentes", crianças indo pra escola armada e dando tiro no pessoal, etc. Isso sem falar que o tiozinho no Texas deve saber atirar tão bem quanto eu manejo uma colheitadeira, de modo que não adianta o cara ter uma arma em casa... Dessa forma, se fica no 0 a 0, sou mais zero a zero com menos armas... Mas como o Mends bem disse, isso sozinho não vai resolver nada.

Mas legal a descrição dos capítulos, Mends! Vou acompanhar por aqui.
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Postby mends » 18 Jul 2005, 14:28

Aprofundando o argumento:

Na verdade, Levitt argumenta que se deve desconfiar das estatísticas, quer dizer, pelo menos das interpretações simplistas das estatísticas: Levitt mostra que o senso comum diz que penas menos severas (trabalhos comunitários, por exemplo) diminuem as taxas de criminalidade. Ele salienta o fato que a correlação existe, mas questiona a relação causa e efeito de adotar penas alternativas e a diminuição da criminalidade. Segundo Levitt, a análise só pode ser feita em momentos de ruptura definidos, onde consegue-se ter clareza das causas e efeitos. Grandes mudanças de legislação, por exemplo. Ele selecionou as últimas grandes mudanças e argumentou que as taxas diminuem após as mudanças que "apertam o cerco", não as "boazinhas".

Sobre o desarmamento:

Obviamente são números americanos, que nem de longe se aplicam no Brasil (29 homicídios para cada 1000 habitantes, para 0,00829 afogamentos para cada mil casas com piscina...). E ele faz um ponto liberal, dado que é um liberal. Aliás, em se tratando de política, no Brasil a gente faz confusão com o cenário americano: nada MENOS liberal que um democrata. Democratas são interventores em questão econômica (Clinton foi o mais republicano dos democratas), são a favor de impostos altos e regulamentação pública, além de maior atuação internacional. Republicanos, historicamente, são mais provincianos. E há os liberais, os libertarians, que acredito que seja a escola de pensamento do Levitt - digamos que é quase sine qua non ser libertário para fazer parte do departamento de economia da U of Chicago. Como no Brasil adoramos a esquerda festiva européia, Daniel Cohn Benditt e sua corja de vermelhos de maio de 68, liberal é quase palavrão aqui.
Mas um liberal de verdade tem como crença a supremacia da liberdade individual acima do coletivismo, liberdade essa que é um direito natural do ser humano (filosoficamente falando, mas grosseiramente, um liberal é um jusnaturalista kantiano, um conservador é um positivista kelseniano e um esquerdista é um hegeliano maluco :lol: ...). Voltando da viagem nonsense: muitos pensadores absolutamente rigorosos do ponto de vista intelectual defendem posições que são vistas como "maluquice americana", mas que são reflexos diretos da crença absoluta na liberdade individual dentros dos limites da lei. É o caso da defesa do desarmamento, de gente absolutamente rigorosa e amante da democracia que é a favor da NRA - National Rifle Association. Os "efeitos colaterais" de se ter armas em casa decorrem muito mais do despreparo do que da arma em si. Arma não mata, o que mata são pessoas. Meu avô teve arma a vida inteira, eu morei com ele até os oito anos e nunca, jamais vi a arma. Os efeitos nocivos de desarmar o cidadão de bem preparado é tirar dele a liberdade de se defender, obviamente respondendo por todos os seus atos. Governos idiotizam as pessoas ao quererem controlar cada aspecto de sua vida.
Pra se ter uma idéia, Hayek, um economista central da chamada "Escola Austríaca", leva o argumento às suas últimas consequências: não deveria haver nem dinheiro impresso pelo Estado, cada banco imprimiria seus cheques e a aceitação dos cheques era regulada pelo mercado.
Voltando ao Levitt: como não existe ciência politicamente neutra (tese de Ralf Dahrendorf, um sociólogo marxista professor de Harvard), pelo menos não ciência social (tese minha: uma galáxia deve ser a mesma, seja você marxista ou keynesiano), Levitt pode ter direcionado seu argumento. Sex, lies and statistics.
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Postby mends » 19 Jul 2005, 12:25

Rapidamente, mais duas idéias interessantes do livro:

Levitt baseia sua estrutura de análise em uma idéia financeira que tem muita força – e que certos departamentos de RH deveriam aprender: you get what you paid for. Simples assim: apesar de não agir racionalmente todo o tempo, o homem sempre procura responder ao estímulo da recompensa, e seus atos sempre estarão ligados ao tipo de recompensa que espera. Levitt ilustra a idéia perguntando como se pode ter certeza de que um corretor de imóveis fez tudo o possível para fazer o melhor negócio para o dono do imóvel. Esse problema é clássico em economia e finanças, e é estudado também por teóricos de comportamento organizacional: o famoso problema de agência. Como um acionista pode ter certeza que seus interesses, que, em tese, devem sempre prevalecer, dado que ele é o dono do empreendimento, são os mesmos da equipe de gestão? A resposta é estrutura de recompensa. Mas, como muitas coisas em economia e finanças, o conceito é besta, mas fazer é extremamente complexo. Parêntese: um exemplo atual de problema de agência é a tal da “responsabilidade social da empresa”. Quando Milton Friedman escreve que “a responsabilidade social da empresa é ter lucro”, tem gente que acha que o velhinho é o demo com coração de gelo. Só que uma empresa deve se prestar aos interesses de seus donos, que são os acionistas. Gastar dinheiro em “ações sociais” – que ademais são completamente inúteis e porta de entrada pra vigarices- ou mesmo em grandes benefícios para empregados pode não estar em linha com os interesses dos acionistas...
Voltando pro Levitt: a princípio, um corretor de imóveis tem o mesmo interesse do dono, uma vez que ganha comissão sobre venda, 6%.
Só que, aprofundando a visão, temos que os 6% são divididos entre o corretor do vendedor e o corretor do comprador, e cada um ainda dá metade pra corretora. Conseguir, digamos, 10.000 a mais em uma casa – um negócio bom para o vendedor – dá ao corretor apenas 150 lascas. Muito provavelmente não vale o esforço, e a conclusão é que o corretor não vai buscar o negócio “ótimo”, mas o primeiro decente.

A outra idéia é sobre o ganho de brancos e negros: brancos ganham mais. Mas é preconceito racial? Levitt argumenta que não. Negros costumam ter carreiras onde o salário de mercado é menor – há poucos negros em ciências exatas, muitos em ciências sociais, e ainda assim as que pagam menos, como educação. E porque têm essas carreiras? Porque suas notas na escola são menores. E porque são menores? Porque, e aqui ele cita um economista negro de Harvard, estudar, falar bem, ler bem, ir ao teatro, são coisas malvistas na comunidade negra, é um comportamento chamado de acting white – querer ser branco.
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Postby mends » 20 Jul 2005, 12:02

Antes de descrever mais um “ensaio” do Levitt, só um registro: é duro ter que ler “parentalidade” ao invés de paternidade, e é duro ter que ler grupos ÉTICOS ao invés de grupos ÉTNICOS.
A pergunta que Levitt procura responder no capítulo que estou lendo é a seguinte: os pais fazem diferença na vida dos filhos? Depois de “cortar” várias dimensões de análise, ele se concentra na possível influência dos pais no desempenho escolar de seus filhos e tenta responder a pergunta: os pais influenciam o desempenho escolar de seus filhos? Ou melhor, para retirar a causalidade da análise – que é complicada de estabelecer – quais os fatores que afetam e os que não afetam o desempenho escolar das crianças?
Descrevendo um estudo que ocorreu na rede pública de Chicago, cujo sistema de sorteio de vagas em todas as escolar torna a distribuição das crianças muito próxima de uma distribuição aleatória, Levitt conta que os estudos mostram que uma criança que vive em uma casa que tem muitos livros, em geral, tira notas mais altas que uma criança que vive em casa sem livros. Mas isso é uma correlação. Talvez a quantidade de livros em casa aponte somente para o nível de renda dos pais. No estudo, ele selecionou oito fatores fortemente correlacionados com desempenho escolar e oito fatores irrelevantes. Os fortemente correlacionados são: instrução dos pais, mãe com mais de 25 anos, peso da criança ao nascer, falar inglês em casa (no caso dos EUA, lógico), o fato da criança ser adotada (correlação negativa: vale mais a genética que a criação*), pais participantes da vida escolar, ter muitos livros em casa. Os irrelevantes são: família intacta, mudança recente de bairro, mãe que não trabalha fora, criança fez pré-escola, abuso infantil, assistir televisão, os pais lêem para a criança. “Supergenaralizando, a primeira lista mostra o que os pais são. A segunda, o que os pais fazem (...) quando se pega um livro sobre como educar os filhos, já é tarde demais. A maior parte das coisas importantes já foi decidida: quem somos, com quem nos casamos (...)”.
Voltando à diferença das notas entre crianças negras e brancas, a conclusão é que as crianças negras e brancas tem desempenho parecido, não importa o background sócio-familiar, contanto que a variável escola seja mantida constante. Escola ruim, notas ruins. Mais que os pais, a qualidade da escola, em termos de ação, é mais importante para a criança. Ilustrando a desimportância da atitude dos pais, ele cita o exemplo de duas crianças: um menino branco criado nos subúrbios de Chicago, por pais zelosos e encorajadores. E um negro, que não tinha mãe, apanhava todo dia, era traficante na adolescência. O negro é o professor de Harvard Roland G. Fryer, o mais novo professor titular de Economia de Harvard da história (formou-se com bolsa de esportes, no undergraduate, onde descobriu que gostava de estudar). O branco também foi para Harvard, e seu nome é Ted Kaczynzki – o Unabomber.
(*) comentário meu: sempre que ouço que fatores que eram culturalmente explicados no passado passaram a ser geneticamente explicados, lembro do Dahrendorf, que mencionei em post passado, e sua tese da visão intrinsecamente ideológica da ciência: me parece profundamente ideológico que cada época tenha sua “ciência preferida”, e penso que, na nossa época, é a genética...
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Postby mends » 21 Jul 2005, 17:25

Volto ao começo do livro. Como é um livro de ensaios, estava lendo o final antes, pois o assunto dos pais de interessava mais.
No primeiro capítulo, Levitt escreve o aforismo que permeia o livro: economia é o estudo dos incentivos dos homens. E dá dois exemplos legais sobre como os incentivos funcionam. O primeiro é de uma creche em Israel, onde uma pequena parcela dos pais se atrasava para pegar os pimpolhos. Os administradores da creche resolveram multar os atrasados em $3 (quase 1% da mensalidade) por atraso. Resultou que, por um acréscimo de 20% aproximadamente, os pais compraram a culpa moral que sentiam ao se atrasar: se custa $3 meu atraso, eu pago e continuo no trabalho, ou continuo jogando meu tênis...os “administradores” retiraram a multa, mas a culpa já estava paga, e nunca mais a pontualidade voltou aos patamares anteriores.
Em um estudo nos EUA, economistas resolveram pagar uma quantia pequena para os doadores de sangue, no ato da doação. As doações diminuíram, pois o que era caridade transformou-se “num método doloroso de ganhar uns trocados”. Levitt pergunta: mas o que aconteceria se as doações fossem regiamente recompensadas, tipo, a 1000 dólares cada 0.5 l de sangue?
As doações explodiriam. Mas também haveria alguém disposto a sangrar você na rua, neguinho fraudando controle para doar mais vezes, outros querendo doar sangue de animais como se fosse sangue humano. Incentivo é balanço, e isso é muito mais arte que ciência, na medida que, uma vez que os contornos sociais raramente são os mesmos no espaço e no tempo, uma solução não pode ser replicada em qualquer lugar.
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Postby mends » 22 Jul 2005, 14:09

Ainda sobre incentivos:

Quais os mais eficazes? Os financeiros ou os morais?

Levitt conta sobre como os professores de Chicago fraudam o “provão” das escolas fundamentais e do high school, para receber as compensações em dinheiro que são prometidas aos professores cujas classes forem bem nas provas.

Conta também sobre como é importante, para os lutadores de sumô, manterem-se entre os top 50 no ranking (mais dinheiro, mais comida, mais drogas, mais putas e ainda os caras abaixo do top 50 para darem banho em você, limparem sua bunda – é sério). Então, quando um lutador tem a possibilidade de cair do ranking ao perder uma luta, o adversário entrega, e fica um favor a ser pago pra quando ele estiver na mesma situação.

Então, incentivos financeiros são quick winners, mas, outra máxima de finanças: se vale a pena ganhar, muito provavelmente alguém pensa que vale a pena fraudar.

Agora os morais: um economista americano costumava levar broas de milho para seus funcionários, todas as sextas. As broas faziam sucesso, e ele passou a ter que levar mais e mais, pro prédio todo. Até que começou a levar cream-cheese, geléia etc, e começou a cobrar o custo da parada. Deixava uma caixinha nas mesas,e recolhia no final do dia.
95% do custo era reposto.
Com os filhos criados, hipoteca amortizada, o economista resolveu sair do emprego do escritório e vender broas, nos escritórios. Implantou esse “sistema de honra’: deixava as broas e deixava a caixinha. O índice de pagamento despencou, às vezes com roubo da caixa inteira. Começou não a fechar as caixas, mas colocou um pequeno cartaz: “não acredito quem ensine seu filho a roubar. Então por que roubar a mim?”

Os roubos diminuíram. E, fazendo estatísticas pagamento x tipo de pessoas/escritórios etc, chegou a algumas conclusões interessantes:

a) ESCRITÓRIOS PEQUENOS ROUBAM MENOS: a pressão social é maior. É o mesmo motivo que faz com que cidades pequenas tenham menos crimes, e que, agora a “tese” é minha, faz com que empresas pequenas e empresas onde se trabalham em times pequenos, como consultorias, produzam mais, e as pessoas “trabalhem mais”. A pressão social é muito maior do que em uma empresa grande, onde o seu pedaço da tarefa ou é redundante ou é insignificante mesmo.
B) ALTOS EXECUTIVOS ROUBAM MAIS: broas deixadas na diretoria tem índice de pagamento significativamente menor que broas deixadas na operação. O economista diz que talvez, por se sentirem privilegiados, os executivos achem que têm o direito ao “almoço grátis’. Levitt levanta outra hipótese: talvez trapaça seja o business as usual, o modo como o cara subiu.

Esse sistema de honra funciona na FAU/USP, também: minha ex-cunhada vendia pães de mel na faculdade, deixando a cesta com pães de manhã e recolhendo no fim da tarde, a cesta, o que sobrou e o dinheiro deixado na caixinha. E ela também fazia o controle e, incrivelmente, em mais de 90% do tempo, faltava o pagamento de apenas UM, em quarenta pães de mel/dia. E, o mais legal, sempre tinha um MEIO PAGO – custava 1 real, o cara deixava 50 centavos. Ou era isso que ele podia pagar, ou era o que ele achava que valia...
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Postby junior » 15 Sep 2005, 10:21

<a href='http://cosmicvariance.com/2005/09/14/planes-vs-cars/' target='_blank'>DAQUI</a>.

Alias, os caras têm um <a href='http://www.freakonomics.com/blog.php' target='_blank'>BLOG</a>.

Planes vs. Cars
Sean at 7:50 pm, September 14th, 2005

As usual, I’m later than everyone else, so I’m just now getting around to reading Freakonomics by Steven Leavitt and Stephen Dubner. The book grew out of an article for the New York Times Magazine by journalist Dubner about economist Leavitt. Leavitt (who is here at the University of Chicago) is a rising young star in the profession, who had previously garnered considerable publicity for his work showing the real reason behind the dramatic drop in crime rates during the 1990’s. It wasn’t stricter enforcement, or a better economy, or innovative policing strategies; it was Roe v. Wade. Leavitt argues that the availability of abortions prevented a large number of childred from being born to mothers who didn’t want them or were unable to take care of them, and that these at-risk kids are exactly the people likely to commit crimes as teenagers. The theme of the book, if there is one, is the attempt to tease out the counterintuitive structures of incentives and pressures that lay behind a wide variety of patterns in our daily lives. And there is, of course, a blog.

But I was happy to see a mention, if only very briefly in passing, of an issue I’ve long wondered about: the relative safety of air travel vs. automobiles. It’s a well-worn piece of wisdom that, despite the potential for spectacular accidents, air travel is actually safer than car travel. I’ve never been quite sure how seriously to believe this claim, since it was never spelled out how “safer” was being defined.

The facts are the following: many more people die in auto accidents each year in the United States (about 40,000) than in airplane crashes (less than 1,000). But that certainly doesn’t answer the question by itself. People spend a lot less time in airplanes than in cars, on average. In fact, it turns out that your risk of death per hour is about the same in a car as in a plane.

So, what’s the answer? Does that mean that air travel and auto travel are about equally dangerous?

No, of course not. Nobody plans their trips by saying “I would like to spend x hours traveling today.” (At least, putting aside the infrequent trips we take purely for the pleasure of being in a moving vehicle.) Rather, there is some place we want to go — i.e., some distance that must be traveled. So the correct figure of merit is the risk of dying per given trip that you’d like to take, not per hour. Airplanes, of course, travel much more rapidly than cars do, so we spend less time in the plane than in a car for a given journey. In this case, the conventional wisdom is true — air travel really is safer.

Leavitt and Dubner don’t actually mention that point, but it’s a crucial feature of risk assessment, or for that matter all sorts of planning. When you are trying to weigh the merits of different ways of allocating resources (money, safety, or whatever), we always have to ask “per what?” That is to say, it’s the rate of resource expenditure that matters, not the instantaneous value. If I want to spend $500 on a spiffy new espresso machine (and I do), I shouldn’t simply say “Wow, that’s a lot of money” — I should carefully compare the cost of the machine plus coffee beans to whatever I’d be paying in small installments at my local Starbucks over the life of the machine. It’s the cost per cup of coffee that matters, not the one-shot price.

Or am I just trying to talk myself into something?
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Postby mends » 02 Dec 2005, 08:38

Da ECONOMIST

Economics focus

Oops-onomics

Dec 1st 2005
From The Economist print edition


Did Steven Levitt, author of “Freakonomics”, get his most notorious paper wrong?

ABORTION cuts crime. That claim—first demonstrated by John Donohue, of Yale Law School, and Steven Levitt, of the University of Chicago, in an academic article in 2001*—is the kind of provocative and surprising conclusion that has made Mr Levitt's book, “Freakonomics”, such a runaway success this year. Unwanted children, the story goes, are more likely to become criminals in later life. Abortion, legalised throughout the United States by the Supreme Court's Roe v Wade ruling in 1973, prevents unwanted pregnancies from becoming unwanted children. Higher abortion rates from the 1970s onwards thus help to explain why crime rates fell in America about two decades later.

That's the theory. But a paper published last week† by Christopher Foote and Christopher Goetz, two economists at the Federal Reserve Bank of Boston, finds an embarrassing hole in the evidence. Messrs Donohue and Levitt subjected the data to a battery of tests, some suggestive, others more systematic, in an effort to prove the links in the chain. The challenge is to distinguish the role of abortion from other potential influences on crime, many of which cannot be observed directly. Some of these rival factors vary year by year; others state by state. Messrs Foote and Goetz concentrate their fire on those that do both. They offer the crack epidemic, which rose and receded at different times in different places, as an example.

Messrs Donohue and Levitt claim to control for such effects in the final test of their paper. That exercise is meant to facilitate comparisons such as: did arrests of 20-year-olds in New York in 1992 diverge from those of 18-year olds in the same state and year? This automatically takes account of anything going on in the Empire state that year (such as a crack epidemic) that would have affected 18-year-olds and 20-year-olds alike. The principal difference between the two age groups is that one was born after the Supreme Court legalised abortion and the other before.

It was a good test to attempt. But Messrs Foote and Goetz have inspected the authors' computer code and found the controls missing. In other words, Messrs Donohue and Levitt did not run the test they thought they had—an “inadvertent but serious computer programming error”, according to Messrs Foote and Goetz

Fixing that error reduces the effect of abortion on arrests by about half, using the original data, and two-thirds using updated numbers. But there is more. In their flawed test, Messrs Donohue and Levitt seek to explain arrest totals (eg, the 465 Alabamans of 18 years of age arrested for violent crime in 1989), not arrest rates per head (ie, 6.6 arrests per 100,000). This is unsatisfactory, because a smaller cohort will obviously commit fewer crimes in total. Messrs Foote and Goetz, by contrast, look at arrest rates, using passable population estimates based on data from the Census Bureau, and discover that the impact of abortion on arrest rates disappears entirely. “I am simply not convinced that there is a link between abortion and crime,” Mr Foote says.



Messrs Donohue and Levitt did not run the test they thought they had


It may be asking too much of the numbers to convince everybody. “The debate over abortion and crime will not be resolved within the parameters of our paper,” says Mr Donohue. He thinks the arrest figures are “muddy” and the state population data “sloppy”. Combining the two generates so much noise, it is hard for the statistical tests to hear anything. Ted Joyce, a professor at Baruch College (part of the City University of New York), who has had his own methodological disagreements with Messrs Donohue and Levitt, also thinks the debate is stretching the data too far. He points out that if you add controls for 50 states and 12 years—as Messrs Foote and Goetz do, and as Messrs Donohue and Levitt meant to do—you are, in effect, holding another 600 things constant. This robs the data of most of their variety, and of much of their ability to explain anything.

To say, as Mr Levitt does in “Freakonomics”, that “abortion was one of the greatest crime-lowering factors in American history” may be a bit strong. But the underlying thesis, however unpalatable to some, is not likely to be dispelled by a stroke of Mr Foote's computer key. Mr Levitt says his case is based on a “collage of evidence”, of which the flawed test is one small piece. He is, in particular, sceptical that crack undermines his thesis: it varied more by age group than by state, he says, hitting 17-year-olds in all states harder than 25-year-olds in any state. He is instead trying to improve his measures of abortion, to take account of the fact that people born under one state's abortion regime might later move elsewhere to commit their crimes.

For those interested in the consequences of abortion, rather than the causes of American crime per se, the dispute might next move to Romania. In 1966 Nicolae Ceausescu, the country's dictator, banned abortion. A kind of Roe v Wade in reverse, this decision had a much bigger effect on childbearing in Romania, where women had relied heavily on termination as a form of family planning. The birth rate rose from 1.9 to 3.7 children per woman in the space of a year. A forthcoming study by Cristian Pop-Eleches, of Columbia University in New York, explores how these extra 1.8 children fared in later life. Mr Pop-Eleches offers “some suggestive evidence” that children of a given background born after the ban may have grown up to commit more crimes than those born just before—although again this may have as much to do with the changing times in which they lived.

Of course, lots of people have always thought Mr Levitt was in the wrong. Even if abortion cuts crime, it is still immoral, they fulminate. But this is largely beside the point: Mr Levitt's research does not take a position on abortion's social virtues, but aims merely to uncover its societal effects. Besides, for someone of Mr Levitt's iconoclasm and ingenuity, technical ineptitude is a much graver charge than moral turpitude. To be politically incorrect is one thing; to be simply incorrect quite another.
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Postby junior » 27 Jan 2006, 16:26

Jornal da Ciencia, 27 de janeiro de 2006

28 - Alunos de pós-graduação em economia cada vez mais se voltam para
Freakonomics

Idéia é focar a pesquisa econômica no cotidiano sem fazer política

Louis Uchitelle escreve para “The New York Times”:

Usando como modelo as técnicas de pesquisa que Steven D. Levitt
apresenta em seu livro campeão de vendas "Freakonomics – O Lado Oculto e
Inesperado de Tudo que nos Afeta", alunos de pós-graduação em economia estão
se concentrando em pequenos estudos de economia em vez de amplas
teorias que explicam como todo o sistema funciona.

Enquanto isso, estão se retirando do debate político.

A abordagem ampla era característica definidora dos economistas
formados na Depressão. A geração mais jovem tentou evitar as receitas que
procuram curar os males da economia.

Em vez disso, usa a teoria econômica como instrumento científico,
empregando modelos matemáticos, por exemplo, para explorar a economia sem se
tornarem defensores de uma ou outra solução.

Para determinar coisas como o índice de crescimento, alimentam-se
modelos de computador com premissas sobre inflação, contratação e fatores
desse tipo.

Este ainda é o centro dos estudos de pós-graduação, mas os próprios
alunos estão pedindo maior treinamento em outra forma de exploração –
pesquisas empíricas como a de Levitt, baseadas em evidências estatísticas.

Levitt, professor de 38 anos da Universidade de Chicago, analisa dados
que parecem explicar o comportamento – por que o índice de
criminalidade caiu, por exemplo.

É isso que um grande número de alunos de pós-graduação em economia quer
fazer, de acordo com uma pesquisa que entrevistou 230 deles em sete
universidades de prestígio.

"Eles dizem não ter persuasões políticas. Eles querem fazer o melhor
trabalho de análise estatística possível, melhor do que em sociologia ou
outras ciências sociais. Assim, apresentam as opções, mas não dizem
qual se deve escolher", diz David Colander, historiador de economia de
Middlebury College, que conduziu a pesquisa recente e outra similar em
1987.

Levitt diz que sua pesquisa, por exemplo, encontrou forte correlação
entre o aborto legalizado e o declínio do crime.

Ele argumenta que 35 anos depois de Roe contra Wade, a população de
americanos indesejados, propensos ao crime, encolheu, assim como o índice
de criminalidade. Mas isso significa que Levitt defende o aborto?

Ele objeta: "Como economista, tenho maior capacidade do que a pessoa
comum em identificar se o aborto reduz o crime, mas não sou melhor do que
qualquer outro para avaliar se o aborto é crime ou se a mulher tem um
direito intrínseco a controlar seu corpo."

Os alunos, em suas respostas à pesquisa, elogiaram a formação que os
ensina a serem pesquisadores e evitarem a política.

A pesquisa e suas implicações foram debatidas em na reunião anual da
Associação Econômica Americana em Boston, neste mês, e em entrevistas
subseqüentes.

O que a discussão e as entrevistas revelam é que há uma diferença clara
na forma como a economia é ensinada na graduação e na pós.

"Meus alunos de graduação são tremendamente interessados em política
pública, que ensino no curso de princípios de economia", disse N. Gregory
Mankiw, economista de Harvard.

Mankiw participou do Conselho de Assessores de Economia do presidente
Bush, mas entrou em choque com o governo ao declarar que a terceirização
dos empregos para o exterior era uma forma de comércio livre que
beneficiaria os EUA.

De volta à sala de aula, Mankiw explica aos graduandos por que o
comércio livre é boa política.

"Estou ensinando a próxima geração de eleitores", disse ele. "Na pós,
entretanto, estamos treinando os alunos a usarem os instrumentos de
pesquisa econômica."

Esses instrumentos raramente contam toda a história.

A explicação de Levitt para a queda dos índices de criminalidade, por
exemplo, considerou também o aumento da população carcerária, mas não o
impacto da televisão ou da cultura ou a idade da geração do baby boom.

Os modelos matemáticos usam comportamentos racionais em suas equações,
mas somente algumas das distorções psicológicas que os economistas do
comportamento cada vez mais catalogam.

O modelo de dinâmica comercial, em geral, assume que países trocam os
bens e serviços que os outros produzem com maior eficácia – apesar de
evidências crescentes de que o comércio no século 21 não é tão simples.

Além disso, os modelos e a pesquisa empírica raramente admitem o
altruísmo como incentivo, apesar de Adam Smith enfatizar sua importância,
além do interesse próprio.

Arjo Klamer também enfatiza o papel do altruísmo.

Ele estudou economia em Duke, deu aulas em três universidades nos EUA e
depois, desanimado com tendência da economia acadêmica nos EUA, voltou
para seu país de nascença, Holanda, onde ensina sobre o impacto da
cultura no comportamento econômico na Universidade de Erasmus.

"O altruísmo é incentivo para todo tipo de comportamento", disse
Klamer, que participou da discussão em Boston, tendo trabalhado com Colander
em pesquisa similar de alunos de pós em 1987.

"Cientistas, por exemplo, colaboram com os outros em suas pesquisas",
observou, "e soldados vão para o Iraque porque estão dispostos a
sacrificar suas vidas pelo bem comum."

A pesquisa recente foi desenvolvida nas Universidades de Chicago,
Columbia, Harvard, Princeton, Yale, Stanford e MIT e esses foram os
resultados mais chamativos:

Entre os alunos de primeiro ano, 10% se consideravam conservadores
politicamente, mas essa percentagem aumentou para 23% no quinto ou sexto
ano.

Metade dos alunos, quase o dobro que em 1987, consideraram a economia a
mais científica das ciências sociais.

Metade também concordou com a premissa de que o comportamento é
essencialmente racional, a mesma percentagem que antes. E 30% disseram que a
economia empírica é muito importante, subindo de 16% em 1987.

"Cada vez mais, 'freakonomics' está se tornando economia dominante",
disse Colander. "Esse é o tipo de pesquisa que os jovens economistas
querem desenvolver."

Levitt e seu co-autor, Stephen J. Dubner, autor e não economista,
correlacionaram textos de propagandas com os preços dos imóveis, por
exemplo, para determinar quais textos são conectados com preços mais altos.

Na mesma linha, dois economistas empíricos – Alan B. Krueger, de
Princeton, e David Card, agora na Universidade da Califórnia, Berkeley –
determinaram que um aumento modesto no salário mínimo não desestimulava o
emprego.

Jonathan Gruber do MIT encontrou correlação entre ir à igreja
regularmente e renda mais alta. Mas eles não deram o passo seguinte, da pesquisa
à política.

Explicando a relutância em militar, Colander disse que os alunos de
pós-graduação são melhores em matemática que seus colegas há 19 anos, o
que facilita a atual abordagem.

As escolas de pós-graduação raramente oferecem cursos de história do
pensamento econômico, mostrou a pesquisa, e menos alunos do que nos anos
80 leram os trabalhos dos grandes nomes da área – Adam Smith, por
exemplo, ou David Ricardo, Alfred Marshall e John Maynard Keynes.

Esses gigantes descreveram a economia em ampla escala e foram muito
mais engajados na política do que os economistas modernos.

"Keynes olhava para fora da janela e conversava com as pessoas, e isso
alimentou suas descobertas", disse Klamer.

A pesquisa, a teoria, a observação e a sugestão política eram
interligadas.

Também foi assim para os prêmios Nobel recentes, como Milton Friedman,
Paul Samuelson, o falecido James Tobin e Robert Solow, todos jovens
durante a Depressão – atraídos para a economia, como disse Solow, para
consertar o mundo pela intervenção do governo em um setor privado que não
podia se consertar.

"Perdemos nossa esperança que os instrumentos da economia podem ser
usados para gerenciar a economia", disse Levitt, "e passamos para uma
visão muito mais micro do mundo.

Podemos dizer a você se a atuação dos sindicatos aumenta a
produtividade ou diminui a inovação ou aumenta os salários, mas relutamos em julgar
se as compensações são boas ou ruins."
(Tradução: Deborah Weinberg)
(The New York Times, Uol.com/Mídia Global, 27/1)
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Postby mends » 30 Jan 2006, 11:11

isso mostra algumas coisas:

a) macroeconomia não existe. Como discutimos em outros tópicos, é impossível agregar informações econômicas de modo a transformar uma ferramenta fantástica de análise do comportamento humano, que é a economia, em ferramenta de síntese

A abordagem ampla era característica definidora dos economistas
formados na Depressão. A geração mais jovem tentou evitar as receitas que
procuram curar os males da economia.


"receitas" sempre pressupõe planejamento. E planejamento, em economia, por se tratar de um modo como os seres humanos interagem, é controle da sua vida por completo. É ditadura. É totalitarismo. A obsessão por controle é fruto de uma história mal-contada. A depressão NÃO foi consequência de laissez-faire desmedido, como nos é vendido pelos "historiadores" de esquerda, mas das primeiras tentativas do governo americano em controlar a economia!! E o controle, cada vez maior, só fez a Depressão ficar mais e mais forte. Podemos discutir isso depois, mas uma palhinha é olhar para a crise de 1987, onde o FED decidiu não intervir, e que se "curou" em poucos meses.

"O altruísmo é incentivo para todo tipo de comportamento", disse
Klamer, que participou da discussão em Boston, tendo trabalhado com Colander
em pesquisa similar de alunos de pós em 1987.

"Cientistas, por exemplo, colaboram com os outros em suas pesquisas",
observou, "e soldados vão para o Iraque porque estão dispostos a
sacrificar suas vidas pelo bem comum."


Cientistas não cooperam por altruísmo, ou pelo "bem da ciência". Cooperam porque cooperação é o melhor jogo: o castigo por não cooperar será não obter dados, insights, acesso, network, o que travaria sua vida.

"Keynes olhava para fora da janela e conversava com as pessoas, e isso
alimentou suas descobertas", disse Klamer.


Uma pena que Keynes foi o economista MENOS preocupado com as pessoas que houve, já que inventou toda a agregação, controles, política de gastos - tá certo que ele foi muito mal-lido, o que prescreveu como paliativo de pós guerra virou receita de bolo dogmática - mas para Keynes, gente era estatística.

"Perdemos nossa esperança que os instrumentos da economia podem ser
usados para gerenciar a economia", disse Levitt, "e passamos para uma
visão muito mais micro do mundo.


Micro-economics rules!! Pena que aqui no Bananão não seja assim...
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Postby mends » 07 Feb 2006, 07:45

Por que votar?
Porque a votação implica um custo --em tempo, esforço e perda de produtividade--, sem nenhum retorno discernível, exceto, talvez, por alguma sensação vaga de "cumprimento do dever cívico"

STEPHEN J. DUBNER e
STEVEN D. LEVITT*

Nos departamentos de economia de certas universidades, circula uma história famosa, mas provavelmente apócrifa, sobre dois economistas de renome mundial que se encontraram quando se preparavam para depositar seus votos na urna eleitoral.

"O que você faz aqui?", perguntou um deles.

"A minha mulher mandou que eu viesse", respondeu o outro.

O primeiro balançou a cabeça em sinal de que entendera. "Comigo ocorreu o mesmo".

Após um momento mutuamente constrangedor, um deles concebeu um plano: "Se você prometer que nunca dirá a ninguém que me viu aqui, eu prometo também jamais contar que te vi neste local". Eles deram um aperto de mão, cumpriram a sua tarefa de eleitores e deram o fora.

Por que um economista ficaria embaraçado por ser visto em um local de votação? Porque a votação implica um custo --em tempo, esforço e perda de produtividade--, sem nenhum retorno discernível, exceto, talvez, por alguma sensação vaga de "cumprimento do dever cívico". Conforme a economista Patricia Funk escreveu em um trabalho recente, "Um indivíduo racional deveria se abster de votar".

A possibilidade de que o seu voto venha realmente a afetar o resultado de uma determinada eleição é extremamente remota. Isso foi documentado pelos economistas Casey Mulligan e Charles Hunter, que analisaram mais de 56.000 eleições parlamentares federais e estaduais realizadas nos Estados Unidos desde 1898.

Apesar de toda a atenção dada pela mídia às eleições muito disputadas, a verdade é que tais eleições são bastante raras. A vantagem média das vitórias nas eleições para o Congresso é de 22%, e para as assembléias estaduais de 25%. Até mesmo nas eleições mais apertadas, um voto individual quase nunca é crucial para decidir a disputa.

Dentre as mais de 40 mil eleições parlamentares estaduais analisadas por Mulligan e Hunter, envolvendo mais de um bilhão de votos, somente sete eleições foram decididas por um único voto, e apenas duas terminaram empatadas. Dentre as mais de 16 mil eleições para o Congresso, nas quais um número bem maior de eleitores vota, somente uma eleição nos últimos cem anos --uma disputa eleitoral em Buffalo, no Estado de Nova York, em 1910-- foi decidida por um único voto.

Mas há uma questão mais importante: quanto mais disputada for uma eleição, maior é a probabilidade de que o seu resultado não dependa dos eleitores. Este exemplo ficou mais patente, é claro, na eleição presidencial dos Estados Unidos de 2000. É verdade que o resultado daquela eleição acabou sendo decidido por um punhado de eleitores. Mas os nomes destes foram Kennedy, O'Connor, Rehnquist, Scalia e Thomas [juízes da Suprema Corte dos EUA, que decidiram que os votos da Flórida não deveriam ser recontados, o que deu a vitória a George W. Bush]. E foram apenas os votos dados por eles enquanto usavam as suas túnicas de juízes federais que tiveram importância, e não aqueles que depositaram nas urnas como cidadãos comuns.

Mesmo assim, as pessoas continuam votando aos milhões. Por que? Eis aqui três possibilidades:


1. Talvez nós simplesmente não sejamos muito espertos e, portanto, acreditemos erroneamente que os nossos votos afetarão o resultado final.


2. Talvez votemos com o mesmo espírito de quem compra bilhetes da loteria. Afinal, as nossas chances de ganhar na loteria ou de afetar o resultado eleitoral são bastante similares. Sob uma perspectiva financeira, jogar na loteria é um mau investimento. Mas é algo divertido e relativamente barato: pelo preço de um bilhete adquire-se o direito de construir fantasias sobre como gastar o dinheiro da premiação --de forma semelhante à nossa fantasia de que o nosso voto terá algum impacto sobre a política.


3. Talvez tenhamos sido socializados em torno da idéia do voto-como-um-dever-cívico, acreditando que, se as pessoas votarem, estarão fazendo uma boa ação para a sociedade, ainda que tal ação não seja particularmente boa para o indivíduo. E, assim, nos sentiríamos culpados por não votar.

Mas, espere um minuto, diria você. Se todo mundo pensar no voto à maneira dos economistas, poderemos terminar não tendo eleição alguma. Nenhum eleitor compareceria às urnas acreditando realmente que o seu voto individual afetaria o resultado da eleição, não é mesmo? E não seria uma crueldade até mesmo sugerir que o voto do eleitor é completamente inútil?

Eis realmente uma questão intrigante --um comportamento individual aparentemente sem sentido, que, quando agregado a outros semelhantes, se torna bastante significativo. Eis um exemplo similar revertido. Imagine que você e a sua filha de oito anos caminham por um jardim botânico quando, subitamente, ela arranca um belo botão de uma árvore.

"Você não deveria fazer isso", diz você à criança.

"Por que não?", pergunta ela.

"Bem, porque se todo mundo arrancar uma flor, não restará flor alguma", argumenta você.

"Sim. Mas ninguém mais está arrancando flores", diz ela com um olhar expressivo. "Somente eu".

Nos velhos tempos havia incentivos mais pragmáticos para que o eleitor votasse. Os partidos políticos pagavam regularmente US$ 5 ou US$ 10 aos eleitores para que estes depositassem o voto "correto" nas urnas. Às vezes tal pagamento era efetuado na forma de um pequeno barril de uísque, uma saca de farinha de trigo, ou, no caso de uma eleição congressual em New Hampshire, em 1890, um porco vivo.

Hoje, como naquela época, muita gente se preocupa com o baixo comparecimento do eleitorado às urnas --somente um pouco mais da metade dos eleitores participou da última eleição presidencial norte-americana--, mas poderia valer mais a pena virar este problema de ponta-cabeça e, em vez disso, formular uma pergunta diferente: considerando que o voto de um único indivíduo quase nunca tem importância, por que então tanta gente ainda se dá ao trabalho de votar?

A resposta pode estar na Suíça. Foi lá que Patricia Funk descobriu um maravilhoso experimento natural que permitiu que ela fizesse uma avaliação precisa do comportamento do eleitor. Os suíços adoram votar --nas eleições parlamentares, nos plebiscitos, ou em qualquer outra oportunidade que se apresente. Mas a participação do eleitor começou a diminuir no decorrer dos anos (talvez lá os políticos também tenham deixado de fornecer porcos vivos), de forma que se criou uma nova opção: o voto pelo correio.

Enquanto que nos Estados Unidos todo eleitor precisa se registrar, na Suíça a situação é diferente. Todo cidadão suíço recebe automaticamente uma cédula pelo correio, que, a seguir, pode ser preenchida e enviada à Justiça Eleitoral, também pelo correio.

Sob a ótica de um cientista social, existe beleza na montagem desse esquema de votação postal. Devido ao fato de ele ter sido introduzido nos diferentes cantões (os 26 distritos semelhantes a Estados que compõem a Suíça) em anos distintos, foi possível realizar uma mensuração sofisticada dos efeitos da medida no decorrer do tempo. Nunca mais nenhum eleitor suíço precisou marchar até as urnas debaixo de uma chuva torrencial. O custo do voto individual foi significativamente reduzido. Portanto, um modelo econômico preveria que a participação do eleitor aumentaria substancialmente. Foi isso o que aconteceu?

De jeito nenhum. Na verdade, com freqüência, a participação do eleitor diminuiu, especialmente nos cantões menores e nas pequenas comunidades. Essa descoberta pode ter sérias implicações para aqueles que defendem a votação pela Internet --que, há muito tempo se argumenta, tornaria a votação mais fácil e, portanto, incrementaria a participação do eleitor. Mas o modelo suíço indica que a verdade pode ser exatamente o contrário.

Mas, por que as coisas ocorrem dessa forma? Por que um número menor de pessoa votaria quando o custo da votação fosse reduzido?

A resposta tem a ver com os incentivos subjacentes à votação. Se um determinado cidadão não enxerga a possibilidade de o seu voto afetar o resultado eleitoral, por que então ele se importaria?

"Na Suíça, e também nos Estados Unidos, existe uma norma social bastante forte, determinando que um bom cidadão comparece às urnas", escreveu Funk.

"Enquanto a votação nas urnas tradicionais era a única opção possível, havia um incentivo (ou pressão) para o comparecimento do eleitor, apenas para que este fosse visto a votar. A motivação poderia ser uma esperança de contar com estima social, benefícios pelo fato de ser visto como um cooperador, ou simplesmente uma tentativa de evitar ser alvo de sanções formais. Como nas comunidades pequenas as pessoas conhecem melhor umas as outras e fazem fofocas sobre quem cumpriu ou não com os seus deveres cívicos, os benefícios advindos da aderência à norma são particularmente elevados nesse tipo de comunidade".

Em outras palavras, nós votamos devido ao interesse pessoal --uma conclusão que satisfará aos economistas--, mas não necessariamente devido ao mesmo auto-interesse expresso na escolha que fazemos na cédula eleitoral.

Apesar de toda essa história a respeito de como as pessoas "votam com o bolso", o estudo suíço sugere que o que pode nos impelir a votar é mais um incentivo social do que financeiro. É bem possível que o lucro mais valioso obtido com o voto seja o fato de o eleitor ser visto pelos seus amigos ou companheiros de trabalho no local de votação.

A menos, é claro, que você seja um economista.
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Postby Danilo » 28 Jan 2007, 21:47

Gostei do livro. Apesar de que os exemplos e estatísticas às vezes não parecem ser válidos no Brasil. Muitas conclusões vão na mão contrária do senso comum, geralmente usando dados aparentemente inofensivos e fazendo perguntas simples nunca feitas. Inclusive há um blog relacionado:

http://www.freakonomics.com/blog/

Mas voltando ao livro... o último capítulo fala dos nomes das pessoas brancas e negras. Aqui seria legal ter uma versão brasileira das análises. Um detalhe é que num momento é citado o penteado blackpower e um tal dashiki. Dashiki? Como os saideros que leram o livro não procuraram o que era isso, eu resolvi procurar. É uma "camisão" estilo africano ou hippie:

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Postby mends » 29 Jan 2007, 08:52

Acho que você não entendeu o espírito do livro. As conclusões podem ser transplantadas pro Brasil porque o livro é sobre meter a mão em dados pra mostrar que as leis econômicas que foram enunciadas há 300 anos por Ricardo, Smith etc, são válidas. Tira da cabeça esse negócio de que "ah, mas no Glorioso pode ser diferente". Não é, não somos amebas, embora nos comportemos como. Isso é cunversa de nego "desconstrutivista", que tem que pegar tudo que é conceito, "analisá-lo criticamente", reconsiderar o contexto cultural, "antropofagizar" e re-construir. Isso é conversa de professor da GV que tem foto do Jacques Derrida no banheiro.

As leis básicas da Economia:

1- You get what you've paid for;
2 - There is no free lunch
3- People maximize utility, whatever utility means for different people
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Postby Danilo » 29 Jan 2007, 10:21

Sim, as leis da economia continuam válidas. O que queria dizer é que os número mudam. E de novo, queria ver as análises pros nomes brasileiros. Quão comum são Aricléia, Danúbio, Maicon, Napoleão, Simplício, Uoston e Zigfrida? E quais os nomes mais comuns pra cada camada social?
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