Universidades

Ciência, Saúde, Economia, Política

Postby mends » 23 May 2007, 09:30

A USP, Pasolini e a politização dos remelentos
O cineasta Pier Paolo Pasolini era um pária na sociedade italiana na década de 70 por várias razões. Era comunista, homossexual e fazia filmes considerados ofensivos. Polemizava na imprensa, escrevia artigos, agitava. Numa coisa foi exato: durante os protestos de estudantes no fim da década de 60 e início da de 70, passou uma descompostura nos radicais de esquerda da universidade. Lembrou a eles que os filhos da classe operária eram os soldados, e não os sectários rebelados. Ai se tornou um pária também para muitos setores da esquerda.

O Brasil, como sempre, está quatro décadas atrasado. Eu não espero que os estudantes ouçam o que digo ou que dizem outras vozes que eles chamam de “direita”. É uma pena que não tenhamos gerado ao menos uma esquerda que pudesse propor problemas para si mesma, como Pasolini fazia com os esquerdistas italianos. Por aqui, é justamente o contrário. Se, amanhã, a PM tiver mesmo de desalojar os Remelentos e as Mafaldinhas da Reitoria, os soldados filhos da classe operária, boa parte deles pardos (que os militantes chamariam negros), a larga maioria ganhando por mês muito menos do que custa cada um daqueles alunos da USP, irão se confrontar com uma fatia da elite brasileira.

Os estudantes, membros da elite sob qualquer critério que se queira (claro, há exceções), gritarão, então, slogans contra a repressão, o estado burguês, a mercantilização do ensino (o que é piada) — o sistema, enfim, que os fez privilegiados. Os soldados, um tanto marginais nesse mesmo sistema, serão os agentes presentes do estado que foi muito mais severo com eles do que com aqueles que serão desalojados. Onde estão os progressistas nesta luta? Onde estão os reacionários?

Depois de uma negociação que já parece interminável, chega-se a um desfecho, ao menos para a ocupação, entre esta quarta e a quinta, estabelecida como prazo final. Tudo está dito. Nada mais a negociar com os invasores dentro da Reitoria. Partilho das opiniões segundo as quais já se deu tempo demais. Todos os folgazões politicamente corretos já foram lá deixar falação — Fábio Konder Comparato, Eduardo Suplicy, Plínio de Arruda Sampaio... A paciência da PM parece inesgotável.

Reinaldo Azevedo
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Postby mends » 23 May 2007, 09:34

Um baseadinho no cantinho, uma fogueirinha, um discursinho em cima da Kombi...
Vejam o depoimento do meu correspondente no Instituto de Química da USP. Omito, igualmente, o nome dele. É um relato perfeito do zoológico ideológico e moral em que se transformou a ocupação.

Prezado Reinaldo.
Meu nome é (...) e concordo totalmente com a opinião da colega da FFLCH. E me permita narrar alguns fatos que ontem e hoje presenciei. Ontem, desci com meu carro da química até a reitoria por mera curiosidade patológica, para conferir o que se passava, e estacionei em frente à reitoria. Era aproximadamente 14h. Havia um carro com um alto-falante, e, no microfone, o professor Fábio Konder Comparato. Faço questão de dar uma resumida no seu discurso. Ele acredita que:
1) A ocupação coordenada pelos estudantes é uma poderosa arma contra as oligarquias;
2) Aplaude o entusiasmo típico dos jovens, lembrando que "entusiasmo" vem do grego: Deus dentro de nós (ele acredita em Deus?);
3) O objetivo é mostrar que os decretos do governador têm como finalidade última a privatização das universidades públicas;
4) As ocupações deve ser "calibradas e dirigidas" para não "passar do ponto" e ir contra a opinião pública, manipulada pela mídia.

Em seguida, vem o professor Henrique lobo em pele de Carneiro reafirmando todas as suas convicções, que havia exposto em outras ocasiões, desta vez com uma ameaça: se a polícia intervier, a comunidade se mobilizará ainda mais!

Minha paciência já ia se esgotando quando vejo chegar um rosto conhecido, nada mais nada menos que Plínio de Arruda Sampaio e uma linda pastinha 007, pronto para o discurso. Foi breve, mas me chamou a atenção um recado que ele mandou para o José Serra, dizendo que sua biografia será manchada, pois seria o primeiro governador eleito democraticamente a colocar tropas da PM em um lugar "sagrado", um verdadeiro traidor do movimento democrático, ainda mais ele que foi presidente da UNE. Depois, saiu posando para fotografia.

Em seguida foi a vez de José Maria, presidente do PSTU e da Conlutas, mas paciência tem limite, e voltei ao meu lugar na química. Aqui, a moda da revolução não pegou. Só alguns poucos funcionários estão de greve. Sabe? Adorei esses discursos. Realmente é muito edificante saber que na USP ainda existem intelectuais do porte dos professores Carneiro e Comparato, que estão no "estado da arte" intelectual. Do século 19.

Para não perder o costume, acabei de voltar lá da reitoria, aproximadamente umas 21h, imprensa toda no local, repórteres famosos, reconheci alguns professores, moçada bonita, arrumada para a revolução. Um clima de paquera no ar, não sei se vocês já foram a alguma das tradicionais festas que costumavam rolar todas as sextas aqui na USP, mas senti esse clima nostálgico, um baseadinho rolando solto no cantinho, uma fogueirinha, um discursinho em cima da Kombi, um Fidel Castro grafitado na parede da reitoria, mas, quando bate a fome, nada como uma coca-cola e um Big Mac, porque desfilar com a camiseta do Che dá uma fome...

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Postby mends » 23 May 2007, 09:35

O relato de uma aluna das Letras. Que estuda!
Uma aluna corajosa, de Letras, me manda um comentário e, à diferença dos remelentos e Mafaldinhas, com nome e sobrenome. Minha cara, vou omiti-los. Para preservá-la. Você sabe como anda a tolerância por aí. E que fique claro ainda uma vez: as minhas críticas não caracterizam uma perseguição à carinhosamente chamada “Fefeléchi”, a exemplo do que acusam os esquerdopatas. Ao contrário: o que quero é que a faculdade atenda às expectativas da maioria silenciosa que quer aprender. O problema é que ela se tornou refém da minoria truculenta e do esquerdismo primitivo de boa parte dos professores. Segue o comentário:

Prezado Reinaldo,
sou aluna da FFLCH e escrevo esta mensagem para parabenizá-lo pela excelente cobertura da ocupação da reitoria. E acredite: a maioria dos alunos da FFLCH está contra esses palhaços e esta greve idiota. Inventaram esta entidade fictícia da assembléia dos estudantes (reuniões chatíssimas com gente do PT, PSTU, PCO e PC do B, mais não-alunos infiltrados, tudo em horário de aula) que supostamente decidiu pela greve. Mentira. Caso haja uma consulta formal da faculdade a todos os alunos, mais de 70% votariam contra a greve — sim, a maioria silenciosa.
Aliás, fica a sugestão: quando for assim, que a faculdade consulte formalmente os alunos. Seria a única maneira de tirar o discurso desses esquerdopatas fascistas. Outra coisa: a polícia precisa garantir o acesso ao prédio das Letras que está tomado pelos palhaços. Parabéns novamente pela excelente cobertura e continue colocando os pingos nos is.
Saudações.


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Postby Danilo » 23 May 2007, 11:25

Reivindicações paradoxas!

16. Retirada da polícia do interior do campus.
17. Reabertura do campus para todos, 24h por dia, tornando o espaço legitimamente público."

Vão querer fundar uma anarquia dentro da Cid. Universitária? Tem acesso "legitimamente público" mas não da polícia? Parece um pedido para praticar impunemente os mais variados ilícitos.
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Postby mends » 23 May 2007, 13:38

ah, vá! :lol:
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Postby Danilo » 23 May 2007, 14:09

Por outro lado, eis resposta a consulta ao Setor de Apoio, Sugestã, e Ombro Amigo Jurídico da Saidera sobre a carta da prof. Odete Medauar:

>Pra: Danilo
>De: Isis
>
>Ela foi minha professora sim!
>E eu concordo com o q ela falou.
>Mas o q vc queria saber especificamente?
>
>
>>Pra: Apoio, Sugestã e Ombro Amigo Jurídico
>>De: Danilo
>>
>>Drs,
>>
>>Oi. Vocês conhecem uma tal de Odete Medauar que é Professora
>>Titular de Direito Admistrativo da SanFran? Ela escreveu isso
>> aqui ó: http://www.asaidera.com.br/userpix/5_blog_odete_01.gif
>>
>>Danilo,
>>o perguntador
>>
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Postby telles » 23 May 2007, 14:10

Eu senti na pele quando fecharam o campus (em 94 se nao me engano)

Fiquei indignado, pois era usuário da bagaça


Mas depois, virando USPiano, entendi. No fim de semana a depredação dos "manos" era geral. Como não tinha banheiro, o pessoal cagava no mato. Água? quebra um cano e bebe. Fora os computadores roubados e tal....
Imagina a reposição disso, na velocidade pública.... um caos total

A universidade é pública, mas isso não quer dizer que é a casa da mãe joana.... Ou por acaso alguém aqui, sem ser amigão do Lula, já deu um nadão na piscina do Planalto?

Agora esse bando de zé ruela, que nunca vai ser nada na vida, tá lá reivindicando nem eles sabem o quê, e o pior, achando muito legal e "democrático" até o osso... :mad:
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Postby mends » 23 May 2007, 16:13

sinto muito, mas a sua consultora jurídica está errada. autonomia não quer dizer não prestar contas, em dicionário nenhum do mundo
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Postby mends » 24 May 2007, 11:31

Reinaldo, faço um desabafo.

Sou da Faculdade de Direito da USP e, desde que entrei naquela instituição, tentei pautar minhas ações para que pudessem engrandecer o nome da Academia, bem como o da Universidade. Cheguei a arrumar inimizades por causa do amor que tenho pelas Arcadas. No entanto, o que eu vejo hoje na universidade é um grupo terrorista e criminoso chamado Sintusp, que, com o passar dos anos, tem sucateado os princípios basilares da universidade. Digo para você por quê.

Na assembléia da terça-feira passada, antes de os funcionários decidirem pela greve, houve uma votação sobre a desocupação ou não da Reitoria. A grande maioria dos ocupantes estava mais do que satisfeita com as concessões feitas pela reitora. Naquele momento, o Sintusp, ciente de que a greve de funcionários só teria viabilidade e força com a reitoria ocupada, solicitou insistentemente que a votação fosse adiada, com artimanhas sindicais que muitos dos alunos ocupantes ainda desconhecem por serem, em sua grande maioria, calouros. O Sintusp, então, lotou a assembléia com seus correligionários.

E qual foi o resultado? 197 pessoas pela desocupação e 211 pela ocupação. Reinaldo, por 14 pessoas, eu vejo a universidade que eu sempre prezei virar motivo de chacota e desprezo da sociedade brasileira.

Sei que não posso reclamar muito. O Direito continua funcionando bem, quase que normalmente. Existem muitos funcionários sérios, que, acredito, dada a distância da Cidade Universitária, não foram contaminados pela podridão do Sintusp. O pior mesmo é ver que as barricadas foram montadas pelo Sintusp em frente à reitoria. Eu vi, na TV, um funcionário da USP ligado ao Sindicato montando as mesmas.

Reinaldo, os alunos ocupantes não agüentam mais ficar lá, mas essas assembléias "democráticas", manipuladas pelo Sintusp, têm criado um impasse absurdo nas negociações. A intimidação dos professores e alunos praticada por esses sindicalistas beira o absurdo, tal como querer “impedir o direito burguês de ir e vir”.

O professor Goffredo Telles Jr. sempre disse que o direito é a disciplina da convivência humana. A reintegração de posse da reitoria nada mais é do que restabelecer a convivência humana, por meio do direito, na Universidade de São Paulo. (...) O Brasil lutou muitos anos pelo estado de direito para que este pudesse impor ordem aos governantes. As pessoas esqueceram que o cidadão enquadra-se no mesmo sistema.

Torço para que as coisas voltem ao normal. Torço pelo volta do respeito à dignidade humana na Universidade de São Paulo e torço para que o Sintusp acabe com suas ações terroristas, que minam a essência da Universidade. Um forte abraço. A sua cobertura está excelente. (...) O medo atualmente ronda a USP.
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Postby mends » 24 May 2007, 11:34

Ah, o ambiente do livre-pensamento...

Fala o correspondente em Artes Cênicas: ele denuncia também o trabalho de lavagem cerebral
Pedem-me alguma manifestação de esperança. Recebi o comentário de um aluno de Artes Cênicas da ECA. É contra a greve. Imaginem: talvez a gente tenha um ator ou diretor de teatro que não vai fazer discurso de esquerdista do miolo mole. Como sempre, omitirei o nome. E também vou cortar algumas referências que ele faz que certamente serviriam para identificá-lo. Reparem que ele denuncia bem mais do que a estúpida radicalização dos burgueses do capital alheio. Há também a doutrinação dos professores.

Reinaldo,
Depois de ler todos os textos publicados em seu blog, deixo de me sentir um alienígena: meu nome é (...) e sou aluno do primeiro ano de Cênicas. Observo que há uma predominância de depoimento dos alunos contrários a greve que são de Letras. “Nojentos”: não consigo encontrar outro adjetivo para definir a greve e o comportamento dos alunos grevistas. No CAC (Cênicas), a turma do primeiro ano optou pela greve. Ou melhor, impôs a greve. Alguém nos comentários sugeriu que nós, uspinianos contrários à greve, nos juntemos e façamos um movimento. Isso é fora de questão: muitos de nós precisamos trabalhar, comer e não temos como comprar briga (no sentido moral e no sentido físico).

O povo de Artes Cênicas, que é considerado de vanguarda, é das turmas mais sectárias, conservadoras e preconceituosas da USP. (...) É tudo muito angustiante (...). Em sua imensa maioria, os alunos do primeiro ano não têm problema de comida ou ônibus: muitos têm carros (comprados pelos seus pais, que também abastecem os veículos) e almoçam em suas casas (ou, quando o bandejão entra em greve, almoçam na ECA a R$14,90 o quilo). E esses estudantes pensam ser representantes do povo.

Na reunião a que fui, uma grevista democrática propôs que se perguntasse aos presentes quem era ou não era favorável à greve. Isso foi motivo para uma professora, Cibele Forjaz, ter uma síncope nervosa: "Como? É impossível alguém ser contra a greve. Não tem cabimento", entre outros impropérios. Mas muitos em Cênicas são contra a greve. E não falam por medo. (...) Sou contra a greve e, mesmo assim, não almoço e ando 3 km a pé, pois não há ônibus. E eles se acham representantes da democracia. Mesmo que eu não precisasse trabalhar, seria contra a greve. Votei no Serra. E não me arrependo.

Enfim, é uma faculdade onde um professor de uma matéria chamada "Teatro e Sociedade" condena Juca de Oliveira. Arman que ele é um capitalista e que só ele consegue ganhar dinheiro no Brasil, dizendo essas palavras com a peculiar agressividade dos esquerdistas da USP e, ao mesmo tempo, omitindo a história de vida deste que é um dos atores mais atuantes do país. (...)

Na opinião destes não sei se ingênuos, românticos ou farristas, eu sou um capitalista maldito (pois quero fazer novela, teatro e cinema e quero ganhar dinheiro para pagar minhas contas). Mesmo com medo, não mudo minhas convicções políticas.

Desculpe o longo comentário. Não sei se você lerá, mas eu precisava desabafar. Mesmo em greve — não sei quando voltam as aulas —, eu farei os trabalhos pedidos anteriormente pelos professores. (...) Uns precisam fazer greve, outros precisam trabalhar, especializar-se. (...) E, na USP, no CAC, não sou o único. Obrigado por dar oportunidade para que nós, contrários à greve, possamos expor nossa opinião.


Por Reinaldo Azevedo
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Postby mends » 24 May 2007, 11:35

ah, o nosso estado democrático...

No Instituto de Física, bombas, corredor polonês, agressão e baderna. Eis a democracia deles
Atenção,
Os alunos do Instituto de Física que querem aula estão sendo agredidos, conforme relata uma outra correspondente minha na faculdade. Fazer o quê? A Polícia não pode atuar? A Reitoria não chamará a PM ao menos para garantir o direito de quem quer assistir às aulas?

Reinaldo,
Sou aluna de física na USP, e, hoje, eu e mais cerca de 10 alunos tivemos que nos TRANCAR em uma sala para assistir à aula do professor Abdalla. Foi quase impossível: os arruaceiros (pessoas que eu nunca tinha visto no instituto antes) chegaram a quase partir a porta ao meio, esmurrando-a como animais, gritando hinos de humilhação ao nosso professor. Jogaram bombas na janela e, na saída da aula, fomos todos atingidos por um "corredor polonês" , no qual uma das minhas colegas foi machucada, e ainda quebraram a câmera de outro colega que filmava o absurdo. Que dia triste.


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[b]Retrato do correspondente saidero da Reitoria[/b]

Postby Danilo » 24 May 2007, 23:40

A FAU entrou em greve. Tudo quanto é carteira e prancheta foi colocado fora das salas, bloqueando a entrada. Pois então resolvi ser o Correspondente da Saidero na ocupação.

A Rua da Reitoria está fechada com uma faixa de isolamento (amarela e preta, como o da CET) e pedras. Mas mesmo na rua há vans de redes de TV. Na frente da reitoria tem uma barreira de pneus, como pode se ver na foto, um DJ, um barbudo falando no microfone, uma fogueira e algumas pessoas.

Image
(foto de Alex Silva/AE)

Na entrada da Reitoria há uma lona onde duas pessoas com cara de alunos verificam se quem entra tem carteirinha USP. Também nessa lona mais três pessoas, sendo uma delas do SINTUSP (pois estava no dia em que a Neli arranjou confusão na Poli). No blog da ocupação dizem que chegou por lá pessoal do MST. Pelo menos eu não vi.

A grade da porta de vidro do prédio está arrombada, retorcida pra dentro, entrando no forro de gesso do teto. Fora isso lá dentro parece tudo intacto. Paredes forradas de cartazes e mesas com panfletos e jornalecos "fora Bush". Charges aos montes nas paredes de uma das salas. Numa sala uns vendo History Channel. Noutra sala uns mexendo em computadores. Enfim, devia ter coisa de 100 pessoas lá dentro.
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Postby junior » 25 May 2007, 15:08

O mano Reinaldo falou uma coisa que é verdade: pq não se corta a luz e fone?? Tem algo de ilegal nisso??
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Postby mends » 25 May 2007, 16:26

Pra que, se a reitora decretou que o Bandeijão ABRISSE de domingo pra servir os caras?????????????????????????????????

Salas de aula trancadas
Ah, meninos. Não percam as esperanças.
Há na universidade gente que ainda pensa. Há quem pense nas Letras, o departamento que é sempre a primeira vítima na USP: do grevismo irresponsável dos alunos, do grevismo irresponsável dos professores, da má gestão dos recursos públicos — e o governo do Estado não tem nada com isso. É questão interna, determinada pela “autonomia”. A “autonomia” em nome da qual, de forma farisaica, se promove o caos.
Vejam o relato deste meu correspondente das letras. Não percam o principal: o Sintusp, o Sindicato dos Truculentos da USP, trancou as salas de aula. Privatizaram o departamento. Se forem fazer isso na Poli, os valentões apanham. :cool: Fazem nas Letras, onde é bem maior o número de mulheres. São também covardes.
Vejam aí: nem todos foram abduzidos pelo Flávio Aguiar ou pela água benta gramsciana de Alfredo Bosi.
Ah, sim. O leitor discorda que os invasores sejam, assim, inocentes politicamente, como apontou Laura Capriglione na Folha.

Reinaldo,
Sou aluno da Letras e tenho alguns comentários.

Não é que está tendo discussão entre os alunos. Agora, essa fase já passou: simplesmente fecharam quase todas as salas. Creio que o Sintusp fez isso. Bom "diálogo"...

Aliás, sua colega Laura Capriglione vai ter de repensar conceitos. Os pontos de ônibus da Cidade Universi(o)tária estão cheios de cartazes "Abaixo a repressão" ou coisa do gênero, bancados e assinados por uma tal AJR — Aliança da Juventude Revolucionária, ligada ao PCO. Um contundente indício de "apartidarismo"...

Outra: a reitoria está tendo um "ciclo de palestras" com o sugestivo nome de "cultura de greve". São 3 pérolas:

- "tempo e história: a revolução francesa". Note-se que
(a) eles se querem mártires como os sans-culottes e/ou então
(b) justificam com o exemplo de uma revolução burguesa que defendia os direitos individuais o desrespeito ao meu direito de ter aula e às instituições "capitalistas"! Muito coerente.

- "América Latina no século XXI: entre o imperialismo e a revolução". Triste e anacrônico. Espero que eles não estejam se referindo ao Chavez e ao Evo...

- "Brasil e servilismo econômico: o último quarto de século". Eles tiraram o governo Lula do tema da palestra. Impressionante. Foi só o Apedeuta virar presidente, e deixamos de ser servis!

Não sei se os nomes são exatamente esses, mas, de qualquer modo, vê-se bem por que o nome "cultura de greve" pra essas palestras. Se fosse no banheiro da faculdade, certamente chamaria "cultura de banheiro"...


Por Reinaldo Azevedo
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Postby mends » 25 May 2007, 16:30

Pela primeira vez, serei realmente malvado com os remelentos e as Mafaldinhas
Os invasores da Reitoria da USP estenderam ontem um cartaz onde se lia: “Ocupação 1 x 0 Choque (WO)”. Podem-se inferir duas coisas a partir daí: a mais óbvia é que eles se julgam vitoriosos. É desnecessário dizer o que poderia ou poderá acontecer no caso de uma reintegração de posse. Isso jamais é pacífico quando o lado que transgride a lei decide resistir. Houvesse apenas flores de papel crepom lá dentro, vá lá. Mas estudantes e Sintusp chegaram longe demais e, com efeito, se prepararam para uma guerra. A Polícia Militar sabe disso. Na verdade, sabe de tudo. Bem mais do que supõem os tolos. Assim, a outra leitura óbvia para o cartaz, que não exclui a primeira, é a seguinte: eles querem a invasão, contam com ela, esperam que aconteça. Os líderes do movimento, tanto os estudantis como os sindicais, desejam fazer desse caso um marco. Eles não escondem que sua luta é POLÍTICA. Mesmo a sugestão do petista Dalmo Dallari para que recorram à Justiça contra os tais decretos (que em nada ferem a autonomia) foi recusada.

Eu já disse qual seria a minha escolha. Sarkozy neles! Eu os trataria como o então ministro do Interior da França, hoje presidente, tratou a intifada dos magrebinos nos subúrbios de Paris. E olhem que a coisa lá era feia. Há risco de haver gente muito machucada, até de morte? Há, sim. Cada um com as suas escolhas. Mas eu não governo São Paulo. Não tenho que ficar com uma penca de entidades politicamente corretas a encher o meu saco; não tenho de administrar setores da mídia obviamente simpáticos à baderna, que tratam transgressores da lei como se fossem líricos do direito alternativo. Também não estou vinculado a um partido que diz preferir sempre o diálogo.

Sim, numa palavra: eu sou de direita, Serra não é — embora, agora, o cumprimento da ordem judicial dependa de a PM achar que pode fazê-lo “com o mínimo de dano possível”, como determinou a Justiça. Não serei eu a dar aula ao comandante da PM. Talvez ele entenda que ainda não pode satisfazer a condição do “mínimo de dano possível”. O fato de eu escrever “sou de direita” supõe a truculência? Stálin, Mao Tse-Tung e Fidel Castro diriam que não. O fato de eu me dizer de direita supõe que a minha escolha será sempre não sacrificar a ordem legal, porque considero que as conseqüências serão sempre piores.

O secretário de Justiça de São Paulo, Luiz Antonio Guimarães Marrey, conversou com os invasores nesta sexta. Marcou uma outra conversa para segunda. Até onde apurei, o que se tenta negociar é a desocupação pacífica, não os tais decretos. No que diz respeito à autonomia, eles são inócuos. Poderiam até ser redigidos com outras palavras, conservando o conteúdo. E ESTE É O ÚNICO ERRO QUE O GOVERNO NÃO PODE COMETER. Ou estará dando seu endosso a um método. Tudo o mais constante, haverá a hora em que o juiz exigirá, e ele pode fazê-lo, que sua determinação seja cumprida, independentemente de qualquer conversa. Os invasores dirão que o placar continuará um a zero para eles. Porque eles querem esse confronto. Posso apostar que o tal Magno Carvalho, diretor do Sintusp, praticamente seu dono há 25 anos, não vai apanhar. Um bom chefe esquerdista sai com a mão na cabeça depois de ter lançado seus peões para a linha de frente das borrachadas.

Esse método não é o meu. Mas posso entender as razões da demora. E foi a partir deste ponto que passei a imaginar algo realmente perverso — e, nesse caso, sim, eu confesso que estou apenas sendo malvado. Porque estou ignorando um princípio e fazendo uma escolha puramente política, para desmoralizar a cambada. Explico a minha idéia. Tia Suely Vilela retiraria o seu pedido de reintegração de posse e compareceria à Reitoria para trabalhar. Vão bater nela? Darão cotoveladas nela como deram no professor Abadalla? Ou, sei lá, a reitoria poderia ser transferida para um outro lugar. E os invasores seriam deixados ali até o cansaço, o esgotamento. Ou, então, que por ali envelhecessem. Mas sem água, luz e telefone. Quem sabe uma nova espécie começasse a ser gerada ali na Reitoria. Com a coluna já menos ereta. Isso, claro, suporia não negociar nada com grevistas, sejam alunos, professores ou funcionários.

Com o tempo, nós iríamos nos esquecendo dos feios, sujos e malvados. E eles iriam ficando, ficando, ficando... O placar iria sendo renovado todos os dias: "Ocupação 30.787 X Choque 0". Não deixa de ser interessante a espera angustiada dos valentes. É a reitoria que querem? Pois que fiquem. Mas reitero: isso supõe que a horda comuno-fascista não atrapalhe quem quer assistir às aulas.

O que estou dizendo, para lembrar de novo um poema que citei aqui há alguns dias, é que os invasores da Reitoria estão como os romanos no poema À Espera dos Bárbaros, do poeta grego, nascido em Alexandria (Egito), Constantino Kaváfis (1863-1933). A tropa de choque, para eles, é uma espécie de solução. E se ela não vier nunca? Nem ela nem uma negociação? Nada? Que ficassem lá: em sua estupidez, em sua burrice, em sua solidão. Segue o poema, na tradução de José Paulo Paes.

O que esperamos na ágora reunidos?

É que os bárbaros chegam hoje.

Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?

É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.

Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?

É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.

Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?

É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.

Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?

É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloqüências.

Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?

Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.

Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.


Por Reinaldo Azevedo
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