Pelo fim da educação!
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> Por Dante Donatelli
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> Este artigo é um brado de indignação e
> inconformismo com os absurdos impostos pela
> mediocridade que nos cerca e que se autodenomina
> moderna.
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> Um amigo me enviou por e-mail uma matéria publicada
> domingo agora, dia 6 de novembro, num dos maiores
> jornais do país, no seu caderno de empregos.
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> Com o título sugestivo e correto de "Seleção
> invasiva", o texto é um alerta para aqueles que
> estudam e estão pensando em como entrar no mercado,
> assim como aqueles que estão desempregados e não
> conseguem uma recolocação.
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> "Profissionais" de RH listam algumas ações que os
> empregadores tomam para "bem" selecionar seus novos
> empregados. Algumas delas são tão absurdas e infames
> que listo todas aqui:
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> * confirmação de informações com parentes, amigos e
> ex-empregadores;
> * checagem de preferências e hábitos sexuais;
> * checagem de filiações étnica e racial;
> * checagem de crenças religiosas do candidato;
> * obtenção de informações sobre convicções
> políticas e filiação a sindicatos;
> * obtenção de dados médicos e hospitalares;
> * testes de detecção de drogas;
> * testes de dados genéticos - DNA;
> * monitoramento e vigilância;
> * consulta sobre antecedentes criminais;
> * consulta nos serviços de proteção ao crédito;
> * consulta sobre histórico de multas;
> * teste com detector de mentiras;
> * visualização de páginas pessoais na internet
> (blogs e Orkut).
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> Se levarmos em conta as declarações dos
> selecionadores, ficaremos ainda mais espantados. Um
> deles declarou ser fundamental a página no Orkut,
> representando 50% da análise. Se o candidato não
> tiver um perfil no site, está fora do processo. A
> justificativa é que no Orkut pode-se ver com mais
> clareza e autenticidade o candidato. Como se tudo
> aquilo que lá está não pudesse ser montado como uma
> farsa.
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> Para piorar, se você tem uma página bacana e cheia
> de amigos no Orkut, mas no teste de DNA constatou-se
> que como seu bisavô e seu avô você tem uma propensão
> a uma cardiopatia, a possibilidade de perder a vaga
> para alguém "mais saudável" é imensa. Ainda assim,
> se você for saudável, ninguém pode ser inteiramente
> saudável, já que estamos fadados a morrer. Alguma
> fragilidade e herança genética todos possuímos,
> afinal os nossos antepassados morreram, ou não?
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> Mas se você, depois de meses desempregado, contraiu
> dívidas como qualquer cidadão comum e seu nome está
> sujo, no entender no selecionador o risco de você
> roubar no novo emprego será grande.
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> É preciso um detector de mentiras para saber se
> alguém fala bem inglês? Uma simples conversa não
> bastaria? Uma prova escrita não revelaria as
> qualidades ou limitações dos candidatos?
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> Poderíamos ficar aqui comentando estas sandices
> absurdas por tempos a fio e revelar a sua
> inconstância. Entretanto, o que me chama a atenção é
> que esses ditos especialistas, que desejam saber do
> que é feita a alma humana, ao selecionarem
> super-homens e supermulheres não colocam em questão
> a qualidade formativa dos candidatos ou as suas
> experiências profissionais. Isso parece
> absolutamente irrelevante.
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> Uma boa universidade e cinco anos de experiência
> com excelentes resultados podem ser nada se você não
> tiver uma página no Orkut? Os anos de estudo e
> dedicação a uma ciência ou carreira podem ser
> desprezados se você tiver um risco maior de enfarto
> do que outro candidato menos qualificado que tem
> "apenas" tendência a contrair diabetes.
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> As possibilidades aqui são tão absurdas e negam tão
> profundamente a condição humana e cidadã que é
> impossível terminar a leitura de tal matéria sem se
> sentir um cretino quando se sabe que os anos de
> estudo e educação podem não ser nada se esses
> "requisitos" estúpidos não forem atendidos.
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> Quem precisa de boas escolas e boas universidades
> com esses obstáculos para se empregar? Vamos
> distribuir senhas para o Orkut, fazer promessa para
> não ter herança genética "ruim", nascer em berço de
> ouro, ter pais que sempre possam pagar as nossas
> contas para evitar o nome sujo, ter hábitos sexuais
> saudáveis (?) e sei lá mais o que poderemos fazer
> para conseguir um simples emprego, mas com absoluta
> certeza não é melhorando o nosso modelo educacional.
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