Exército de hackers
Exército dos Estados Unidos cria divisão
de soldados de elite para combater
os terroristas digitais na internet
Por Carlos Sambrana
É inquestionável o poder bélico dos Estados Unidos. O país tem 2,1 milhões de soldados e o maior orçamento militar do planeta: US$ 371 bilhões anuais, seis vezes maior do que os gastos da China com seu contigente de 13 milhões de homens e 33 vezes a mais que as despesas do Brasil. Esses números justificam a hegemonia americana, mas até agora a dúvida era qual seria a capacidade do país em ocupar posições no território digital. Essa questão foi respondida por um anúncio do Pentágono, o organismo responsável pela centralização das ações de defesa do império americano. Durante uma audiência no Senado, o general James Cartwright confirmou a existência daquilo que muitos desconfiavam: a montagem da Unidade de Comando para Combates Cibernéticos (JFCCNW – a sigla em inglês). Essa divisão digital será composta por especialistas em tecnologia ligados à CIA, FBI e, claro, ao Exército. Os hackers, que atuarão sob o disfarce de soldados normais, agirão a partir de salas secretas localizadas nas unidades do exército nos EUA ou no resto do mundo. Os militares argumentam que hoje há uma necessidade de montar uma rede de proteção contra ataques digitais, mas nada impede que a JFCCNW promova os chamados ataques preventivos. “As guerras já foram à base de flechas e espadas. A pólvora revolucionou e deixou-as mais letais”, diz Fernando Nery, diretor da Módulo Systems, empresa brasileira especializada na área de segurança digital. “No mundo digital não é diferente. A tecnologia é uma arma tão destrutiva quanto a pólvora.”
O poder oculto dos hackers-soldados é enorme. Sentados à frente dos seus PCs e tendo à disposição os recursos mais sofisticados do planeta, eles podem destruir o sistema de defesa de um país, causar colapso na infra-estrutura ou desestabilizar o sistema financeiro. “A tecnologia é a quarta fronteira ao lado da terra, do mar e do espaço aéreo”, diz Nery. Mas com um agravante: muitas vezes, essa fronteira é cruzada sem alertar quem está sendo invadido. De acordo com o FBI, em um assalto a uma agência bancária são roubados, em média, US$ 15 mil e as chances de prender os assaltantes são de 75%. No caso dos roubos digitais, as cifras alcançam uma média de US$ 1 milhão por delito e o criminoso é preso em 5% dos casos.
Em 2004, os crimes na internet geraram um prejuízo de US$ 1,4 trilhão em
todo o mundo.
A criação da divisão cibernética de elite dos EUA trouxe à tona outra preocupação da indústria de segurança digital. A maioria dos computadores e softwares fabricados no mundo tem a marca Made in USA, o que provoca certa desconfiança no resto do planeta. “Em caso de uma guerra digital, o governo americano teria um acesso mais fácil às informações do inimigo”, diz Marcelo Romcy, da Proteus, que também atua na área de segurança e tecnologia. Numa alusão às armas que cospem fogo, é como se os tanques de guerra do mundo fossem fabricados pelos americanos. Se eles têm ou não um acesso mais fácil às “fronteiras” inimigas, isso é uma incógnita. É certo que os soldados digitais americanos são muito mais preparados do que os existentes no resto do mundo. Além da bilionária verba, do contato com o que há de mais moderno no mundo da tecnologia, eles estão acostumados a defender o país dos ciberterroristas. De acordo com o Internet Security Threat Report, realizado pela Riptech, os americanos sofrem 30% dos ataques do planeta. E, desde o 11 de setembro, eles aumentaram.