by mends » 26 Jun 2006, 10:05
André Kfouri
COLUNA DOMINICAL
Dia de folga da Seleção em Bergisch-Gladbach.
Dividimos o plantão na porta do hotel em dois turnos.
O meu, iria das 16:30 até o final do prazo dado pela comissão técnica para os jogadores se apresentarem, 22:30.
As folgas são os piores dias de uma cobertura de Seleção Brasileira.
Para os jornalistas, claro.
Só existem três opções, em ordem de preferência:
1 - você tem algo marcado com algum jogador;
2 - você não tem nada marcado e sai atrás deles como um paparazzi;
3- você faz plantão na porta do hotel.
Mas não se iluda. As opções 1 e 2 não eliminam a opção 3.
É preciso ficar até o fim.
Nós não tínhamos a opção 1 e não gostamos da 2, portanto a porta do hotel era o nosso destino.
Mas só às 16:30, para mim.
Pedimos à recepção do nosso hotel uma sugestão de um lugar para almoçar.
O restaurante italiano era bem agradável.
Da rua, dava para ver uma área externa com várias mesas ocupadas.
Subimos uma pequena escada e foi impossível não perceber.
Ao fundo, uma mesa com mais ou menos dez pessoas.
Entre elas, Cafu, Émerson, Dida e Rogério Ceni.
Não estávamos com a câmera, então não havia a possibilidade deles acharem que tinham sido descobertos (e seriam incomodados).
Cafu foi o primeiro a nos ver, e logo acenou.
Breves cumprimentos, e passamos pela mesa em direção à parte interna.
Tínhamos acabado de fazer os pedidos quando chegou uma garrafa de vinho branco, num balde de gelo.
Eu já me preparava para negar a oferta do garçom quando ele disse que era “um oferecimento de Cafu”.
Na enorme maioria das situações, a garrafa voltaria para a mesa de onde veio, com um agradecimento do tipo “obrigado, mas não, obrigado.”
Mas vinda de Cafu, tenho absoluta certeza de que se tratou de uma gentileza pura e simples.
Um gesto de classe.
Pedimos ao garçom que dissesse a Cafu que nós o agradecíamos pela gentileza, e que era por isso (entre outras coisas) que ele era o Capitão.
E passamos a saborear o vinho, ótimo.
Mas era preciso pensar numa estratégia. Não poderíamos desperdiçar a oportunidade de entrevistá-los, ainda mais num dia em que, salvo raras exceções, não se tem nada.
Mas também não poderíamos, jamais, incomodá-los numa mesa de almoço em pleno dia de folga.
Durante a sobremesa, decidimos.
Iríamos à mesa para agradecer pessoalmente, e perguntaríamos se, na saída, já fora do restaurante, eles falariam conosco.
Assim pensamos, e assim fizemos.
Com classe.
As últimas horas do plantão passaram rápido.
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Outro encontro incrível foi com Giuseppe Altafini, no restaurante do centro de imprensa do estádio de Munique, antes de Brasil e Austrália.
Altafini está trabalhando como comentarista para a Sky Sport, da Itália.
Gianluca Vialli, Zvonimir Boban e o ex-árbitro Pierluigi Colinna (o carequinha) são alguns de seus colegas de equipe.
Colinna comenta o jogo, nenhuma vírgula sobre arbitragem.
Aliás, sobre o escândalo no futebol italiano, Altafini disse que no dia 9 de julho, a Juventus será rebaixada para a Segunda Divisão.
Não tem jeito.
Kaká renovou contrato com o Milan, na noite de quinta-feira.
Fica em Milão até 2011.
Perguntei se os problemas do último campeonato não o preocupavam.
“Não. Depois do que aconteceu, o Campeonato Italiano será o mais limpo do mundo”.
Podemos falar o mesmo do nosso campeonato, depois do que houve no ano passado?
Está difícil comer bem em Bergisch-Gladbach, no final da noite, quando o trabalho termina.
Quem não passa bem com sanduíche, está perdido.
Até encontrar uma espécie de taverna, bem simples, em frente à estação de trens.
Cerveja gelada e uma pizza honesta.
Sem brincadeira, um achado.
Sabe como Ronaldinho Gaúcho passou a última folga da Seleção?
Dentro do hotel, esculachando um garçom alemão no videogame de futebol.
Alguma dúvida de que ele nasceu para jogar bola?