Alguém aí quer voltar a ser criança? Eu vou na parada, "levar os meninos"...
O canadense que quer dar um show de bola
Por Angela Klinke
Kirsh inaugura o primeiro parque temático de futebol para crianças: um lugar para transformar o esporte num entretenimento como o cinema
Há uns cinco anos, fundos de investimento estrangeiros apostaram em clubes como Corinthians e Vasco. Perderam dinheiro. O canadense Darryl Kirsh não acreditava que uma marca forte como a do futebol brasileiro não pudesse ser lucrativa. Especialista em descobrir os melhores investimentos para clientes, ele decidiu que iria apostar na área, mas com um outro viés. "O futebol brasileiro profissional não é tão profissional assim. Achei que a saída seria então, explorar o lado amador. Eu que sempre procurei novas formas de aplicações para os outros, achei que tinha chegado a minha vez." Depois de passar pela EVM, como diretor de novos negócios, ele gastou os últimos dois anos na área de finanças coorporativas da KPMG, cultivando seu sonho. No próximo dia 12, inaugura em Sâo Paulo, um inusitado parque temático de futebol para crianças, o Kick Bola Urbana.
Num galpão com 3 mil m², no Brooklin, ele oferece nove propostas diferentes para se praticar futebol. Em uma delas, uma máquina arremessa bolas e a criança tenta dar bicicletas. Em outra, ele misturou golfe e futebol, e as bolas devem ser encaçapadas em minigols. Numa terceira, adaptou um radar de velocidade para medir a força de um chute. E na mais emocionante, transformou um porão em um campo para se jogar no escuro, com direito a uniformes fluorescentes, traves que piscam, fumaça para dificultar a visão e hip hop para dar ritmo aos atletas.
Valor: Você é um fanático por futebol?
Darryl Kirsh: Eu já joguei tudo na vida, menos futebol. Na verdade, eu nem sei se o Canadá tem um time oficial. Eu também não torço para nenhum time. Mas como estou há dez anos no Brasil, achava incrível que uma força como o futebol brasileiro fosse tão mal explorada.
Valor: Por que um parque temático?
Kirsh: Depois da experiência desastrosa dos fundos internacionais com os clubes, achei que a saída era o lado amador do futebol. Eu queria criar um conceito para que o futebol fosse encarado como um entretenimento como ir ao cinema, ao teatro ou sair para jantar.
Valor: Como você chegou a conclusão que deveria ser um galpão e com modalidades que lembram games?
Kirsh: Em Nova York, os jovens praticam a street ball, que nada mais é o basquetebol nas ruas. Aqui no Brasil não é diferente. O futebol é cultivado nas ruas e nas garagens de prédios. Mas como a insegurança dificulta esta convivência, achei que um lugar fechado, mas com toda estrutura seria o ideal. Preservamos esta atitude das ruas, com grafites nas paredes e símbolos da cultura urbana, como a música. Quanto às modalidades, elas ajudam a criança a explorar o futebol com elementos mais emocionantes. Além disso, é um lugar para ser desfrutado em família. Os pais podem jogar junto se quiserem. Ou podem curtir nosso bar, ou ainda deixar as crianças aqui com nossos monitores. Quando vierem buscá-las, vão estar mortinhas de cansaço. O engraçado é que adulto que entra aqui quer jogar, e algumas empresas já pediram para reservar o lugar para festas corporativas.
Valor: De onde veio a idéia do futebol no porão?
Kirsh: O galpão era uma antiga oficina de carros, com elevador de transporte. Eu demorei dezoito meses para achar o imóvel ideal, e não poderia despreza-lo porque não sabia o que fazer com o andar inferior. Aí lembrei que muitas crianças jogam bola na garagem dos prédios e que poderia usar o espaço a meu favor. Daí criei este campo cheio de desafios.
Valor: Quais são suas expectativas de resultados?
Kirsh: Eu desenvolvi dos equipamentos ao treinamento da equipe. Passei dois anos concebendo este projeto, então prefiro não falar em investimento agora. Mas acho que em um ano e meio recupero o que coloquei aqui. Em especial, porque patenteei tudo, então posso tanto franquear o parque, como licenciar algumas modalidades. Tenho também uma linha de produtos com camisetas e bolas que posso vender para multimarcas. Mas eu aposto mesmo é numa expansão no exterior, onde o futebol brasileiro tem tanta força e as pessoas, com certeza, nunca viram nada parecido.
http://www.kickbolaurbana.com.br
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."
Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")