Bernardo Provenzano, o "Zio Binu", é o cérebro da Cosa Nostra Figura na qual Mario Puzzo se inspirou para fazer o Don Vito Corleone
Com a detenção de Bernardo Provenzano, conhecido como "Zio Binu", chega ao fim 43 anos de buscas pelo fugitivo chefe mafioso, cujo rosto era desconhecido inclusive para seus "soldados" ("picciotti", no jargão mafioso) e que é considerado "a mente" da Cosa Nostra siciliana.
"Zio Binu" (Tio Bernardo) nasceu em 1933 em Corleone, a mítica cidade siciliana que é símbolo da máfia e berço de importantes mafiosos.
Provenzano também é conhecido como "U tratturi" (O trator), devido a sua força e determinação para disparar, matar e o que mais fosse necessário.
Sua carreira mafiosa e escalada criminal começou na década de 1950, quando junto a Salvatore "Toto" Riina e Calogero Bagarella transformou-se no braço direito do grande chefe da máfia corleonesa Luciano Liggio.
Seu primeiro trabalho foi liquidar Francesco Streva, do clã opositor de Michelle Navarra. O mafioso escapou em um primeiro momento, mas dias depois foi assassinado. O paradeiro de Provenzano, procurado pela Polícia, passou então a ser desconhecido.
Em 18 de setembro de 1963 começou oficialmente seu "lattitanza", ou seja, sua fuga.
Com o passar dos anos e após deixar um rastro de sangue na guerra entre clãs mafiosos dos anos 80, Riina e Provenzano tomaram o controle da Cosa Nostra, após vencer a poderosa máfia da capital de Palermo. Nesse período, Bagarella foi assassinado.
O clã dos corleoneses dominou a Sicília e Riina assumiu a chefia do grupo, enquanto Provenzano passou a um suposto segundo posto.
A Justiça seguiu os passos dos dois e seus nomes aparecem em dezenas de processos, enquanto começava a ser criada sua fama de misterioso, de invisível.
Luciano Liggio chegou a dizer que Provenzano "dispara como um deus, mas é uma pena que tenha o cérebro de uma galinha!".
Mas, segundo os conhecedores da Cosa Nostra, a verdade foi outra: "Zio Binu" foi quem dirigiu durante meio século a lavagem de dinheiro, o controle dos contratos e as relações com os políticos, "com Roma", com os clãs.
Suas relações com Riina foram, segundo seus biógrafos, de amor-ódio. Quando o grande chefe entre os chefes da Cosa Nostra foi detido, em 15 de janeiro de 1993, disse que sabia que "Zio Binu" era de seu povoado, mas que não o conhecia.
Destacados "mafiosos arrependidos" (colaboradores da Justiça), como Toto Cancemi e Gioacchino Pennino, asseguraram que "U tratturi" sempre manteve o "controle político" dentro da Cosa Nostra, enquanto Riina foi de fato "o chefe militar".
A única foto que se conhecia de Provenzano era de 1958, o que lhe permitiu inclusive burlar mais uma vez às autoridades italianas em 2005, quando viajou à França para operar-se da próstata em um hospital de Marselha, no qual se internou sob a identidade de um aposentado siciliano.
O aspecto mais grotesco do caso foi que o mafioso - por cuja captura se oferecia uma recompensa de 2,5 milhões de euros (US$ 3 milhões) - apresentou um formulário de saúde siciliano para poder ser operado no exterior sem precisar pagar, passando à Região da Sicília a fatura da operação e dos sete dias em que esteve internado.
Apoiado pela "omertà" (pacto de silêncio) que rege a máfia e, talvez, ajudado por importantes personalidades da vida siciliana, Provenzano passou todo este tempo na ilha.
Chegou-se a assegurar que tinha morrido. Afinal, ninguém o reconhecia e sua voz nunca foi interceptada ou reconhecida por telefone, já que "Zio Binu" sempre se comunicou com seus "picciotti" e lugares-tenentes por meio de "papeizinhos", os mesmos que foram achados hoje em um dos bolsos de sua calça.
Durante todos estes anos também chegou a se disfarçar para passar despercebido. A chefa mafiosa Giusy Vitale assegurou que "Zio Binu" em uma ocasião disfarçou-se de bispo para assistir a cúpulas da Cosa Nostra. Provenzano foi a reuniões da "cúpula" vestindo batina preta e faixa roxa, como um verdadeiro bispo. Hoje, aos 73 anos, foi detido vestindo uma simples calça de vaqueiro
AF
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