Política e politicagem

América Latina, Brasil, governo e desgoverno
CPIs mil, eleições, fatos engraçados e outros nem tanto...

Postby mends » 09 Nov 2005, 09:43

ELIO GASPARI

Lula, o urso que come os donos
Em julho de 1997 , abatido por denúncias de corrupção pessoal que a Justiça viria a considerar falsas, Lula lia os telegramas que lhe chegavam e dizia: "Eu sempre tive a fantasia de assistir ao meu velório. Com esse caso agora, estou fazendo mais ou menos isso. Muitas mensagens de solidariedade que recebo têm todo o aspecto de telegrama de pêsames".
Foi isso que ele fez na noite de segunda-feira quando, a pedido do repórter Heródoto Barbeiro, analisou a situação do ex-técnico do seu time: "José Dirceu será cassado por decisão eminentemente política. [...] Qual é a acusação contra José Dirceu? A tese original era que você tinha dinheiro público nas contas do PT. E nada ainda não foi provado".
Noves fora o "ainda", Lula deu Dirceu por morto enquanto ele luta pela vida. Não se espera que o chefe do Poder Executivo prejulgue uma decisão da Câmara dos Deputados. Logo Lula, tão zeloso ao defender o respeito devido aos companheiros do mensalão.
Foi-se assim o último dono do Urso Lula. O bichinho simpático de São Bernardo já comeu quatro. O primeiro foi seu irmão, José Ferreira de Melo, o Frei Chico. Mais velho, atraiu-o para a militância trabalhista em 1968. Lula tinha 25 anos e, rapidamente, tornou-se diretor do sindicato. Como Frei Chico tinha afinidade com o Partido Comunista, acreditou-se que Lula ia na bagagem. Erro. Muitos anos depois, na memorável entrevista que deu à jornalista Denise Paraná no livro "Lula Filho do Brasil", o companheiro explicou: "A minha ligação com o Frei Chico é uma ligação biológica. Ou seja, um negócio evidentemente de irmão para irmão. Não tinha nenhuma afinidade política com Frei Chico". Fraternalmente, o urso comeu seu primeiro dono.
Quem achava que tinha afinidade com Lula era o presidente do sindicato, Paulo Vidal. Manteve-o na diretoria e em 1975 ajudou a torná-lo seu sucessor. Talvez o próprio Paulo Vidal tenha pensado que era dono do urso, até o dia em que o companheiro o enquadrou. Passados 27 anos, Lula mostrou-se um urso malvado. Era presidente eleito da República, verdadeiro "Filho do Brasil", e disse o seguinte: "Muitos companheiros que foram presos disseram que o Paulo Vidal era quem tinha dedado. Eu, sinceramente, não acredito nisso, não acredito. Mas as dúvidas persistem na cabeça da velha guarda do movimento sindical".
Crueldade pura, até porque as velhas guardas, como a da Portela, são sempre respeitadas. A vida já tinha ensinado a Lula que esse tipo de coisa não se diz. Foi pior que denuncismo vazio, foi linchamento por insinuação.
Tendo comido o segundo dono, o urso passou a ser reivindicado por um condomínio de intelectuais, jornalistas e religiosos. Comeu-os todos.
Frei Betto e o empresário Oded Grajew sobreviveram porque fugiram do circo. Graças a isso, mantêm relações cordiais com "nosso guia".
De todos os donos do urso o mais exibido foi sem dúvida José Dirceu. Dizia "meu governo", anunciava que não sairia da Casa Civil e gostava de se ver comparado ao general Golbery do Couto e Silva, eminência parda de três governos da ditadura. Fazia isso por falta de conhecimento da personalidade de Golbery e por confundir muito poder com poder ditatorial. Essa é uma confusão que Dirceu faz há 30 anos e talvez continue fazendo-a nos próximos 30.
O telegrama de pêsames de Lula a Dirceu não foi gafe. Foi um desnecessário e triste momento da vida política brasileira. Por iniciativa sua, nessa mesma entrevista, "nosso guia" gastou mais tempo justificando o AeroLula e a reforma do Alvorada do que discutindo educação dos brasileiros e a saúde dos bípedes.
"I used to be on an endless run.
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Postby mends » 11 Nov 2005, 17:25

GIBA UM

Leva jeito
Corre em Brasília uma piada envolvendo José Dirceu: os inimigos dizem que o ministro da Fazenda deveria mesmo ser ele pelo talento que tem em “multiplicar dinheiro”. Hoje, Dirceu vive do salário de deputado e, como tem duas ex-esposas, estima-se que dê, para cada uma delas, 30% de seus vencimentos. Somando-se os dois percentuais aos 27% de impostos e seu dízimo ao PT, sobra zero. E mesmo assim, Dirceu sobrevive e paga bem seus advogados.

CLÁUDIO HUMBERTO

Pizzolato ameaça ‘abrir o bico’
Sentindo-se abandonado pelo governo e o PT, o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato está ameaçando “abrir o bico”. Se ele cumprir a ameaça – que já fez tremer o Palácio do Planalto – a casa cai, segundo avaliação de dirigentes da CPI dos Correios. Pizzolato será um dos indiciados pelo esquema de corrupção implantado no governo Lula e se acha injustiçado, sobretudo, pelos próprios companheiros petistas.

Pura nitroglicerina
Um novo personagem vai “brilhar” no banco de depoentes da CPI dos Correios: o chefe de comunicação da Petrobras, Wilson Santarosa. Ele era homem de confiança do ex-ministro Luiz Gushiken e tem muito a explicar.

Identificados
O deputado ACM Neto (PFL-BA) diz ter os nomes de dois arapongas que grampearam seus telefones e os de sua família: é um policial e um militar. Para dificultar os abelhudos, ele agora leva cinco celulares nos bolsos.
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Postby Aldo » 21 Nov 2005, 11:04

O tamanho da encrenca
por Nelson Motta

RIO DE JANEIRO - Juíz ladrão! O grito da torcida é parte integrante do espetáculo do futebol – mas quase sempre nem mesmo os que gritam acreditam que sua senhoria realmente recebeu dinheiro ou alguma vantagem para prejudicar o seu time. O caso do árbitro Edilson deu novas cores – sombrias – a esse grito moleque, quase inocente. Juízes em julgamento.

Sou de uma família de juristas e juízes, meu avô foi ministro do Supremo Tribunal, homem de bem, que viveu e morreu modesta e dignamente. Aprendi a respeitar os que se dispõem a essa dramática e complexa função de julgar – com equilíbrio, isenção e responsabilidade. Afinal, alguém tem que fazer isto para que a sociedade funcione.

No TRE do Rio de Janeiro, votando a favor do casal Garotinho no rumoroso caso das eleições em Campos que os tornara inelegíveis, uma juíza argumentou que "no contexto em que estamos vivendo, com as denúncias de mensalão, a quantia (R$ 318 mil flagrados na sede do PMDB, sem origem comprovada) deixou de ser vultosa e passou a ser módica."

Diante dos milhões do valerioduto é mesmo uma merreca. Mas é dinheiro ilegal – tanto quanto o que provocou várias cassações e "renúncias" e ainda vai provocar muitas outras. Com todo respeito pela honestidade e competência da magistrada, as perguntas que não querem calar são: que quantia seria necessária para incriminar alguém? Depois desse processo o critério continuará valendo? Para crimes comuns também? Ou só eleitorais? O mensalinho de Severino deve ser perdoado? Um juíz (de futebol) que se vender por menos de RS$ 100 mil é menos culpado do que um que leva RS$ 1 milhão?

Nesse contexto, talvez o mais prático seja adotar o modelo angolano, que permite a altos funcionários receber comissões por transações públicas – desde que não excedam 15%.
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Postby mends » 21 Nov 2005, 13:51

CLÁUDIO HUMBERTO

O performático
Já madrugada, diante de Sérgio Gomes da Silva na CPI dos Bingos, Eduardo Suplicy (PT-SP), o performático, tentou simular com gestos como defenderia Celso Daniel do seqüestro. Empolgado, deu um grito. Efraim Morais, presidente da CPI, ironizou: “O senhor acordou muita gente, agora.”

Este post de 1990 é uma homenagem ao primeiro título brasileiro do Curintia, com gol de Tupãzinho
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Postby mends » 21 Nov 2005, 18:54

"Apaga..." :fear: GIBA UM

Nitroglicerina

Há duas doses de nitroglicerina circulando nas conversas em Brasília: uma, garante que a conta que abastecia a Dusseldorf, de Duda Mendonça, na campanha, era mesmo controlada, lá fora, por Delúbio Soares; outra, envolve uma fita gravada, nos tempos em que Celso Daniel ainda era prefeito, onde uma conhecida voz do então comando petista, dá uma extremada ordem que selaria o destino do prefeito assassinado de Santo André.

o post de 1998 é uma homenagem ao Ronaldinho, o Felômbalo.
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Postby Aldo » 29 Nov 2005, 08:38

Altos lucros, golpe baixo
por Nelson Motta

RIO DE JANEIRO – Sempre que leio alguma coisa sobre esses empréstimos de R$ 500 com desconto em folha de pagamento sinto náuseas. E vergonha de viver em um país que permite, e até estimula, esse tipo torpe de exploração.

O Banco BMG – com uma mãozinha de Marcos Valério e Delúbio – foi o primeiro a sair na corrida pelo dinheirinho suado de quem mais precisa. Sem fazer nenhuma força, sem mover uma palha, a não ser cadastrar a manada, ia ter um lucro de R$ 500 milhões – mas preferiu vender a sua carteira de empréstimos à Caixa Econômica, um banco dito “social”, por módicos R$ 209 milhões.

Esse lucro todo foi arrancado desses pobres coitados na forma de juros escorchantes. E absolutamente injustificáveis, já que o “custo de administração” é apenas transferir automaticamente da folha de pagamentos do cliente para a conta do banco que emprestou. O risco também é zero – o desconto é em folha, não há garantia maior. Se o infeliz morrer, talvez de fome, a seguradora do próprio banco cobre. É um dos melhores – e um dos mais sórdidos – negócios do mundo.

Por que o vice José Alencar não grita contra esses juros imorais, que se alimentam justamente dos mais pobres e dos mais fracos – que sequer podem dar um trambique no banco, como o PT fez com os empréstimos de Marcos Valério?

Se só o BMG pilharia meio bilhão, imagine-se o que os outros bancos maiores estão ganhando à custa dos mais pobres. Imagine-se tudo que poderia ser feito com essa dinheirama em programas para idosos, deficientes, doentes e incapazes, que são a indefesa clientela dessa exploração oficial.

Ganham todos, sem fazer força: não só os bancos, mas o governo voraz de impostos, os sindicatos que intermediam, as agências que produzem campanhas milionárias em disputa do filé e os veículos que as exibem. A fonte pagadora é uma só.
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Postby mends » 29 Nov 2005, 09:09

é o capitalismo à brasileira:

crédito é função da assimetria de informação entre tomador e fornecedor: se o banco não sebe quem é você, ele não dá crédito. some-se a isso altos niveis de inadimplência, devido à demora e dificuldade de recuperação de crédito, e temos porque o crédito é caro no Brasil. O crédito consignado, em tese, baratearia o crédito porque lida com a ssimetria da informação - o tomador está empregado ou é aposentado, recebe no banco tal, dia tal, tanto. E lida com o risco de inadimplência, pois cai automaticamente no salário.
Só que é conceitualmente inaceitável. As pessoas devem ter a liberdade de escolher se compram pão ou pagam o banco, e arcar com as consequências da escolha.
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Postby mends » 29 Nov 2005, 09:30

Cláudio Humberto

Terror na internet
O site claudiohumberto.com.br foi sabotado domingo e segunda. Alteraram senhas e DNS, no Comitê Gestor de Internet (registro.br), para retirá-lo do ar. Foi inútil: a coluna pôde ser lida nos sites dos jornais que a reproduzem. Ocorreu o mesmo com o site do PSDB. O site do PT não foi perturbado.

Retífica CH
O Planalto vai gastar R$ 187,5 mil com a mordomia do Air Force 51 em 45 dias e não em um ano, como informamos. O contrato anual para abastecer a mordomia do Air Force 51 é de R$ 750 mil. Sem contar os termos aditivos.

Fujimoriduto
O ex-presidente peruano Alberto Fujimori, quem diria, tem conta no Banco do Brasil, revela o jornal El Comercio. Quem abriu foi seu cunhado, com a ajuda da embaixada do Peru em Tóquio, segundo o periódico.
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Postby mends » 30 Nov 2005, 13:45

GIBA UM

Mesma recepcionista
A afirmação de Diogo Mainardi, em sua última coluna em Veja , de que “Palocci e Buratti são velhos companheiros” e que “já repartiram tudo, inclusive a mesma recepcionista de Anápolis”, criou um problema (mais um) doméstico para o ministro da Fazenda. Sua mulher, Margareth (também médica), não se recorda de nenhuma “recepcionista” repartida entre o marido e Buratti. E quer saber se existe alguma relação com Carla Cristina, “recepcionista” dos eventos da “promoter” Jeany Mary Corner, com a qual, aliás, Rogério Buratti até se casou.
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Postby mends » 02 Dec 2005, 08:48

CLÁUDIO HUMBERTO

Perguntar não onera
Aposentado por perder um dedo, Lula pedirá outra aposentadoria por perder o braço direito?
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Postby Aldo » 06 Dec 2005, 10:32

mends wrote: Fujimoriduto
O ex-presidente peruano Alberto Fujimori, quem diria, tem conta no Banco do Brasil, revela o jornal El Comercio. Quem abriu foi seu cunhado, com a ajuda da embaixada do Peru em Tóquio, segundo o periódico.

Pô, pq o preconceito contra o haspion abrindo uma conta aqui?!?!....todo estara en la más perfecta normalidad.... Y te lo digo más, La garantia soy yo!
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Postby Aldo » 13 Dec 2005, 11:29

A guerra secreta dos EUA: no rastro da CIA
Desde o 11 de Setembro a CIA exerceu um papel vital na guerra contra o terror. Mas que papel é esse? Operando nas sombras, o serviço secreto americano recebeu amplos poderes do governo Bush, que incluem assassinato, seqüestro e tortura - parte 1

Manfred Ertel, Erich Follath, Hans Hoyng,
Marion Kraske, Georg Mascolo e Jan Puhl
Der Spiegel


Sábado, 15 de setembro de 2001, quatro dias depois dos ataques terroristas a Nova York e Washington. O presidente George W. Bush se retira com os assessores mais próximos para Camp David, para escapar do caos da semana e desenvolver os primeiros planos para enfrentar o novo e inédito desafio dos EUA.

À tarde, o então chefe da CIA, George Tenet, distribui uma pasta a todos os participantes da cúpula de crise. Chama-se "Indo à guerra". Dentro estão os primeiros esboços da próxima guerra ao terrorismo. No canto superior esquerdo da pasta há um círculo vermelho dentro do qual está um retrato de Osama bin Laden cortado por uma linha preta.

Tenet quer partir para a ofensiva. E sua lista de prioridades é ambiciosa. Objetivo número 1: destruir a Al Qaeda e fechar as zonas de segurança do grupo terrorista, onde quer que estejam.

Segundo Bob Woodward, em seu livro "Bush at War", essa é uma lista com poderes muito amplos garantidos às autoridades que combatem o terror mundial. Tenet não recua. Ele pede que seus agentes recebam autorização para eliminar a Al Qaeda sempre que a CIA localizar seus membros. Ele quer carta branca para operações clandestinas sem ter de passar pelo longo processo de autorização.

Além disso, os agentes da CIA deveriam voltar a ter autoridade para matar --um poder que foi retirado dos agentes da inteligência americana em 1976 pelo presidente Gerald Ford.

Também está na lista de Tenet um pedido de milhões de dólares para comprar agentes secretos estrangeiros. Especificamente, Tenet achava que agentes do Egito, Jordânia e Argélia poderiam ajudar a CIA a localizar e eliminar a Al Qaeda.

Três dias depois, Bush assina uma diretriz presidencial cujo texto exato só alguns americanos conhecem até hoje. Ponto a ponto, os pedidos feitos pela CIA foram concedidos, e com isso o documento tornou-se o primeiro tiro disparado na guerra mundial ao terrorismo. Bush ordenou que a CIA fosse a primeira no novo front. As agências secretas americanas estavam liberadas.

Quatro anos depois, os serviços de inteligência americanos --e especialmente a CIA (o "carro-chefe do negócio ... aonde você vai se quiser o padrão de ouro", segundo o novo diretor do órgão, Peter Goss)-- tornaram-se uma das armas mais polêmicas no combate ao terror.

O exército mais poderoso da história do mundo tornou-se uma força de ocupação no Iraque, e por sua mera presença atraiu toda uma nova geração de mujahedin; mas a comunidade de inteligência de Bush lutou sua parte da batalha sob o aparente lema: "O fim justifica todos os meios".

Os agentes secretos de Washington, cujo desdém pelas normas legais internacionais até os anos 70 lhes granjeou a reputação de americanos feios, estão de volta ao palco político internacional. Nem todo mundo está feliz em vê-los.

E Bush está usando todas as ferramentas de que dispõe. Avaliado por números e capacidade, o gigantesco aparato do serviço secreto americano parece tão onipotente quanto o dos militares: 15 agências com 200 mil empregados e um orçamento anual de cerca de US$ 40 bilhões. A soma representa mais que o gasto total da maioria dos países com os militares.

Os satélites dessas agências podem ler placas de automóveis do espaço --e a mais nova geração desses satélites espiões avançados é tão sofisticada quanto o Telescópio Espacial Hubble. Mas, em vez de bisbilhotar as profundezas do universo, eles olham para o que acontece aqui na terra.

Todos os dias, analistas desse exército secreto entregam suas descobertas a superiores e, na forma do Briefing Diário Presidencial, ao próprio presidente Bush. É uma espécie de jornal diário supersecreto --com circulação severamente limitada--, com 12 a 30 páginas. É a coisa mais importante que você tem de ler todo dia, disse Bush pai --que foi chefe da CIA por um ano-- a seu filho Bush Jr. quando assumiu o cargo.

Mas a guerra secreta não termina com as agências de espionagem americanas. Da mesma forma, nas sombras --às vezes operando dentro da lei internacional, às vezes fora dela-- estão as forças especiais militares americanas. O secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, as envia em missões ao redor do mundo; elas talvez já estejam, como dizem alguns, operando no interior do Irã, que continua sua busca por armas nucleares.

Ashton Carter, que foi secretário-assistente de Defesa de Bill Clinton, diz que ficaria "surpreso e desapontado" se medidas secretas ainda não tiverem sido tomadas contra o programa de armamentos do Irã.

E, onde o pessoal americano não pode ir, a rede mundial da Agência de Segurança Nacional (NSA) pode bisbilhotar. A NSA habitualmente escuta a ONU em Nova York --o secretário geral da ONU, Kofi Annan, pelo menos por algum tempo, foi um dos alvos principais da agência, segundo James Bamford, um especialista em NSA.

Uma das mais novas armas do arsenal do serviço secreto chama-se "geolocalização". Quando satélites localizam um suspeito através de um sinal de telefone celular, por exemplo, forças especiais ou aviões de guerra podem atacar rapidamente. A tecnologia tornou-se tão precisa que celulares podem ser localizados num raio de um metro.

De fato, a capacidade de localizar um alvo precisamente foi instrumental para se matar o chefe militar da Al Qaeda Mohammed Atif, em sua casa perto de Cabul em novembro de 2001, ou se prender o assessor de bin Laden Abu Subeida no Paquistão. Mas o sistema também comete graves erros. Em 2002 no Afeganistão, por exemplo, bombardeiros mobilizados às pressas despejaram sua carga sobre uma festa de casamento em vez de uma reunião de terroristas.

O chefe da CIA, Goss, que foi agente da CIA durante dez anos antes de entrar na política, incentiva seus agentes a assumir riscos. "E quando der errado eu os apoiarei", ele disse. Goss mandou seus agentes com poderes mortíferos e sacolas cheias de dólares para operações em todo o mundo, nas quais eles também têm autoridade para chamar poder aéreo. Ou podem chamar um Predator --aviões teleguiados armados de foguetes Hellfire controlados a laser.

Gestapo americana

Nas décadas de 80 e 90, as operações secretas em países estrangeiros tornaram-se mais raras, e a análise ganhou ênfase. Mas essa era a velha CIA --uma organização de que a ex-oficial Melissa Boyle zombou dizendo que os tempos de James Bond acabaram. O presidente Bush advertiu diversas vezes os americanos de que o novo inimigo dos EUA é totalmente diferente de todos os anteriores.

Essa advertência representa o nascimento da nova CIA --uma agência que deve causar medo no coração de seus inimigos.

Então, a CIA está a caminho de restabelecer a notoriedade que teve por tanto tempo no Terceiro Mundo? Aquela de um poder secreto e assustador que seqüestrava políticos, comprava tropas mercenárias e derrubava governos à vontade, simplesmente porque Washington não os aprovava?

Pouco depois da fundação do órgão, em 26 de julho de 1947, pelo presidente Harry Truman, a CIA já tinha feito do mundo seu playground. Começou decidindo quem eram os mocinhos e quem eram os bandidos e a punir os maus sob ordens da Casa Branca.

A "firma" tinha licença para matar e a usou durante a guerra fria contra um inimigo soviético que era pelo menos igualmente brutal. Nos anos 60, a CIA desenvolveu uma flecha altamente venenosa que não deveria deixar vestígios durante uma autópsia. Ela também experimentou treinar golfinhos para levar explosivos até um alvo.

Mas essas foram vitórias ocas. Misturados aos sucessos estiveram missões desastrosas no exterior e erros embaraçosos em casa. A combinação levou a CIA a tornar-se mais um peso que uma ajuda. O país ficou horrorizado ao saber que o presidente Richard Nixon usou ex-agentes para a invasão de Watergate; os americanos ficaram decepcionados pelo fato de o governo espionar dezenas de milhares de cidadãos que o criticavam; o termo "Gestapo americana" começou a circular. [Gestapo era a temida polícia da Alemanha de Hitler, que torturou e matou adversários do regime, que durou de 1933 a 1945, e participou do Holocausto, o extermínio de aproximadamente 6 milhões de judeus na Europa.]

O resultado foi uma contenção do Big Brother. Em 1974, entrou em vigor uma lei que exigia que todas as operações clandestinas no exterior fossem aprovadas pelo Congresso. Os serviços de inteligência começaram a se concentrar quase exclusivamente na coleta de dados tecnológicos --e assim ficaram amplamente fora da revolução iraniana.

Num combate do Afeganistão contra a União Soviética, a CIA deixou de avaliar que os mujahedin --generosamente abastecidos com armas e dinheiro americanos-- não apenas eram oponentes fanáticos dos serviços, mas também contrários aos "cruzados" americanos.
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Postby Aldo » 13 Dec 2005, 11:30

Vice-presidente Dick Cheney fica no lado negro
Especial "A guerra secreta dos EUA: no rastro da CIA" - parte 2

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De fato, o pacto com os guerreiros islâmicos, somado à quase fé cega nos serviços secretos do Paquistão, tiveram um grande papel no desenvolvimento do Talebã e da Al Qaeda. O Afeganistão se tornou a Bin Ladenlândia.

Assim, o fato de 11 de setembro ter provocado grandes mudanças nos serviços de espionagem americanos não chegou a ser surpresa. O que foi surpreendente foi a velocidade com que ganharam novamente sua antiga má reputação. A lista está crescendo novamente: alegações de que a CIA distribuiu grandes somas de dinheiro na Venezuela em um esforço para derrubar Hugo Chávez; e um crescente número de terroristas executados pelas aeronaves não-tripuladas da agência.

No Iêmen, um foguete Hellfire disparado por um Predator da CIA eliminou o suposto líder do ataque de 2000 ao USS Cole. A CIA matou o egípcio Hamsa Rabia --o número três da Al Qaeda-- no Paquistão, não distante da fronteira afegã, usando a mesma arma no início deste mês.

O vice-presidente Dick Cheney, que mesmo em seus dias bons lembra cada vez mais um secretário-geral ao antigo estilo soviético, anunciou publicamente a mudança de direção da CIA. É preciso operar nas sombras, ele disse. Para derrotar os terroristas, os agentes americanos "precisam trabalhar no lado negro, se preferir". Se o inimigo não segue as regras, então nós também não seguiremos, é a mensagem de Cheney.

A guerra no Afeganistão, assim como a caçada a Bin Laden, mostraram até que ponto a CIA está disposta a usar seus novos poderes. Cofer Black, o coordenador de contra-terrorismo, exigiu a cabeça do chefe da Al Qaeda, literalmente. O terrível troféu deve ser enviado de forma expressa --e "no gelo"-- para Washington, ele disse. Bush também trata a caça aos terroristas de forma pessoal: em sua mesa há uma lista de líderes da Al Qaeda que ele risca toda vez que um deles é capturado ou morto.

Originalmente, a CIA provavelmente considerou eliminar todos os chefões da Al Qaeda usando equipes de matadores --da forma como o Mossad de Israel matou os responsáveis pelo massacre dos Jogos Olímpicos de 1972 em Munique, ou executaram os líderes militares do Hamas na Faixa de Gaza. Mas venceu a preocupação de que, mesmo se os líderes da Al Qaeda fossem eliminados, grupos terroristas desconhecidos poderiam atacar de novo.

Uma nova idéia ganhou força --a captura dos membros da Al Qaeda vivos para serem interrogados e explorar a informação sobre seus planos e organização. Informação era a única forma de combater o risco de novos ataques.

Exatamente quão longe foi este sistema de obtenção de informação --e quão disseminadas são suas prisões secretas-- é do conhecimento apenas de alguns poucos americanos.

A pedido de Cheney, apenas os presidentes e vice-presidentes dos comitês de inteligência do Senado e da Câmara são informados. Tal informação é altamente confidencial, Cofer Black disse a um grupo de congressistas em setembro de 2002. "Esta é uma área altamente confidencial", disse ele. "Tudo que quero dizer é que há antes de 11 de setembro e depois de 11 de setembro. Depois de 11 de setembro, as luvas foram tiradas."

Todas as investigações legais e do Congresso sobre os abusos cometidos contra prisioneiros por americanos foram realizadas, até o momento, sem o benefício de uma análise mais profunda das práticas da CIA. Nem mesmo a Cruz Vermelha foi autorizada a visitar vários prisioneiros de alto valor --de Khalid Shaikh Mohammed, o planejador dos ataques em Nova York e Washington, a Ibn Al Sheikh Al Libi, o chefe de um campo de treinamento da Al Qaeda. Eles simplesmente desapareceram.

Para os responsáveis pelas prisões espalhadas da CIA, não há poder superior. O republicano John D. Rockefeller, um membro do comitê de inteligência do Senado, reclamou que o governo deixou claro que todos aqueles que exigirem um grau de controle sobre estas áreas serão criticados como antipatriotas.

Assim como a extensão dos novos poderes da CIA continua desconhecida, o suficiente já é de conhecimento para determinar que os direitos humanos estão sendo violados, juntamente com convenções e tratados internacionais. Eliminação de alvos, seqüestro de suspeitos no exterior e entrega de prisioneiros para serviços secretos de outros países são exemplos claros de tais violações.

Acima de tudo, os especialistas em interrogatório da CIA ainda estão equipados com seis notórios instrumentos de tortura com os quais podem forçar os prisioneiros a falar. Para defini-los, os advogados do governo escolheram eufemismos que soam de forma inofensiva: "Agarrar de Atenção" descreve a prática de agarrar um prisioneiro pela camisa e sacudi-lo --apenas, é claro, para obter sua atenção. E há o "Tapa de Atenção" e "Tapa na Barriga". Os médicos recomendam não usar o punho por temerem que poderia causar ferimentos internos.

O pior é o "longo permanecer em pé", no qual os prisioneiros são forçados a permanecer em pé ininterruptamente por até 40 horas. A observação grosseira de Rumsfeld --de que fica em pé por muitas horas durante seu dia de trabalho-- parece bastante cínica.

A palavra chave "cela fria" descreve a prática de resfriar as celas dos prisioneiros a até 10 graus e então despejar repetidamente água fria sobre eles. Mas é "waterboarding" que tem gerado mais protestos --uma forma de tortura com água que leva o prisioneiro a acreditar que está afogando ou sufocando. Apenas poucos segundos de "waterboarding" são necessários para fazer a maioria dos prisioneiros falar. Dizem que Khalid Sheik Mohammed resistiu meros dois minutos e meio.

O senador Carl Levin, um membro democrata do comitê de inteligência do Senado, está exigindo transparência. "É totalmente inaceitável que documentos requisitados da CIA não sejam apresentados", disse Levin durante audiências realizadas por uma comissão que investiga os abusos em Abu Ghraib.
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Postby Aldo » 13 Dec 2005, 11:32

Torturados até a morte pela CIA
Especial "A guerra secreta dos EUA: no rastro da CIA" - parte 3

Manfred Ertel, Erich Follath, Hans Hoyng,
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É provável que ninguém saberá quantos suspeitos de terror capturados pela CIA morreram em câmaras de tortura em prisões egípcias, argelinas, sírias ou sauditas. Quando todo o possível já foi usado para extrair até o último pingo de informação, o rastro do suspeito freqüentemente desaparece.

Na verdade, é geralmente boa notícia para os prisioneiros quando acabam em prisões controladas diretamente pela CIA. Nelas, "apenas" os métodos de Tortura Leve descritos anteriormente são empregados. Mas os exemplos de prisioneiros que morreram enquanto estavam em mãos americanas mostram quão rapidamente as coisas podem sair de controle.

Em novembro de 2002, os guardas de uma prisão secreta --chamada "Salt Pit" (mina de sal)-- localizada não distante de Cabul, foram ordenados a deixar nu um prisioneiro afegão que não cooperava, acorrentá-lo ao piso de concreto de sua cela e deixá-la ali em temperaturas abaixo de zero durante toda a noite. Pela manhã, ele estava morto. Após uma autópsia apressada, os guardas o enterraram rapidamente em uma sepultura sem marca nos limites da cidade.

Mas apenas um único homem ligado à CIA, David Passaro, foi processado em um tribunal americano. Passaro, que era contratado da CIA, foi acusado de espancar um prisioneiro afegão até a morte durante um interrogatório, em junho de 2003, em uma base militar americana em Bagram.

O caso mais espetacular em que um prisioneiro morreu nas mãos de serviços secretos ocorreu em Abu Ghraib. É um caso que se tornou infame em todo o mundo por causa das fotos particulares tiradas por soldados americanos para seu próprio prazer. Juntamente com fotos de humilhação sexual, há uma foto em particular que se destaca: a de um cadáver abusado de um homem --envolto em plástico e guardado no gelo-- acima do qual a soldada americana Sabrina Harman fazia pose com um sorriso largo.

O cadáver passou a ser conhecido como "O Homem de Gelo". O caso provavelmente assombrará a CIA por muitos anos, já que mostra exatamente o que acontece quando um poder governamental legítimo se soma ao desrespeito pela humanidade.

Em 4 de novembro de 2003, os Navy Seals, uma unidade das forças especiais, receberam uma dica e revistaram uma casa no subúrbio de Bagdá à procura de Manadil Al Jamadi. O homem era suspeito de ter entregado explosivos para um ataque terrorista. Jamadi lutou muito ao ser preso. Ele não saiu disto exatamente ileso. Ele ficou com um olho roxo e um corte no rosto, mas nada fatal.

Os Seals levaram o prisioneiro ao campo da Marinha no aeroporto de Bagdá. Ali, segundo uma testemunha ocular, um interrogador da CIA "o empurrou no peito com toda a força". O prisioneiro então foi deixado nu e água fria foi despejada sobre ele. "Nós vamos torturar você se não falar", ameaçou um dos homens da CIA. "Eu estou morrendo, eu estou morrendo", gemeu Al Jamadi. "Você vai desejar estar morto", respondeu o interrogador.

Então eles o levaram para Abu Ghraib, onde Mark S., um funcionário da CIA, o colocou sob custódia. Quarenta e cinco minutos depois ele estava morto.

A forma como Al Jamadi morreu é conhecida, entre os especialistas, como "suspensão palestina". Ela é uma prática considerada fora da lei em todo o mundo. O prisioneiro é pendurado em uma janela alta pelos braços, com suas mãos amarradas nas costas. Isto significa que ele não pode fazer o menor movimento sem experimentar uma dor extrema. Al Jamadi desmaiou durante o interrogatório. "Ele está apenas se fingindo de morto", S. teria dito --incorretamente, como se provou. Al Jamadi estava realmente morto.

O caso ainda não foi levado aos tribunais dois anos após o incidente ter ocorrido. Paul McNulty, o procurador responsável pelo distrito leste da Virgínia, que tem jurisdição sobre o quartel-general da CIA em Langley, está tentando, se não acobertar o caso, pelo menos arrastá-lo. McNulty é conhecido como republicano e simpatizante de Bush. Neste ínterim, ele foi indicado como vice do secretário de Justiça, Alberto Gonzales, o homem que ajudou a tornar a tortura americana socialmente aceitável.

A posição oficial do governo americano é chamar tais práticas de "tratamento robusto", em vez de tortura. Isto, por exemplo, permitiu à secretária de Estado, Condoleezza Rice, em sua mais recente viagem à Europa, negar que os Estados Unidos praticam tortura. O diretor da CIA, Porter Goss, se referiu aos métodos de interrogatório usados por seus agentes como métodos "únicos e inovadores" para fazer os prisioneiros falarem.

Mas o senador republicano John McCain, que foi torturado como prisioneiro de guerra no Vietnã, disse que práticas como "waterboarding" são execuções simuladas, que, consideradas como tortura, são ilegais em todo o mundo.

"Segundo meu ponto de vista", disse ele, "fazer alguém acreditar que você o está matando por afogamento não é diferente de apontar uma pistola na cabeça e disparar com festim. Eu acredito que é tortura, uma tortura intensa."

É exatamente devido ao terrível tratamento dados os prisioneiros que tornou urgente o maior distanciamento possível dos suspeitos do alcance de juizes americanos. Esta prática deu à luz o campo de prisioneiros de Guantánamo, assim como os vários chamados "locais negros", áreas secretas de interrogatório, onde a CIA mantém seus prisioneiros mais valiosos sob contínua observação. Estes campos secretos móveis surgiram exatamente porque o governo americano temia que os tribunais eventualmente exigiriam julgamentos justos até mesmo para os presos nas prisões em Cuba.

Aparentemente, um dos primeiros campos secretos estava situado na Tailândia. Quando a notícia vazou, o governo de Bancoc exigiu a retirada dos especialistas em interrogatório oriundos de Langley.

Por algum tempo, a CIA até mesmo sonhou em ter sua própria Alcatraz, e buscou a criação de uma prisão de segurança máxima no Lago Cariba, em Zâmbia [sul da África]. O temor com a confiabilidade do governo em Lusaka decretou o fim do plano, mas o ambiente seria ideal. John Radsan, um ex-advogado da CIA, comentou sobre o programa de prisioneiros de sua ex-empregadora dizendo: "É a lei da selva. E no momento nós somos o animal mais forte".

A CIA parece ter se voltado para os países do Leste Europeu, considerados como particularmente submissos a Washington. Eles gostam de se associar à Europa quando se trata de desenvolvimento econômico, mas no que se refere a segurança, eles apostam na cooperação com os Estados Unidos.

Isto explica o motivo para a Europa ter se transformado em um eixo central para o transporte de prisioneiros da CIA. Centenas dos agora infames vôos usaram o espaço aéreo entre a Groenlândia ao norte, os Açores ao sul, a costa atlântica da Irlanda a oeste, e a Romênia ao leste. Praticamente não há país que não tenha sido usado e mais detalhes estão constantemente vindo à tona.
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Postby Aldo » 13 Dec 2005, 11:34

Vôos obscuros pela Europa
Especial "A guerra secreta dos EUA: no rastro da CIA" - parte 4

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Uma estranha aliança de organizações de direitos humanos, fiscais das ações do governo, jornalistas e observadores de aviões criou uma rede de informações que levanta cada vez mais questões sobre os serviços secretos americanos e suas práticas dúbias. Sem mencionar a estupidez ou aquiescência de seus aliados europeus.

No dia 22 de janeiro do ano passado, por exemplo, um Boeing 737 identificado com o número N313P aterrissou no aeroporto de Son Sant Joan, em Palma, ilha de Mallorca [Espanha, no Mediterrâneo]. A aeronave vinha da Argélia e estava a caminho de Skopje [capital da Macedônia]. Ali embarcou, no dia seguinte, o cidadão alemão nascido no Líbano Khaled A. Masri, que estava sendo levado para a capital afegã, Cabul, depois de ser abduzido por agentes da CIA.

Quando ficou claro que o serviço secreto tinha capturado o homem errado, a CIA caiu em sérias discussões sobre como lidar com incidente. Foi a assessora de Segurança Nacional da época, Condoleezza Rice, que ordenou a liberação do alemão. Na semana passada, também foi ela quem recebeu as críticas na Europa pelos seqüestros da CIA.

O vôo do prisioneiro ilegal só veio à luz em março, quando organizações de direitos humanos levaram o caso de "abdução, prisão ilegal e tortura" aos tribunais locais. O governo em Madrid não tinha intenção de admitir a colaboração com os americanos. O novo ministro de Relações Exteriores socialista, Miguel Angel Moratinos, tentou acalmar a revolta pública e proteger o antigo governo conservador com uma "mensagem de paz e tranqüilidade".

Moratinos, porém, tinha muitos motivos para preocupação. De acordo com inquéritos oficiais recentes, o avião americano comissionado pela CIA usou Mallorca como escala pelo menos 15 vezes nos dois últimos anos. E as autoridades falam de nove pousos na Ilha Canária de Tenerife [também pertencente à Espanha].

Investigadores suspeitam que o avião incriminado de Mallorca tenha feito ao menos 19 vôos internacionais para os EUA. Além de pousar em Palma, o jato também parou na Irlanda, Larnaka, em Chipre e na cidade sueca de Orebro.

Uma missão do dia 22 de setembro de 2003 é especialmente interessante. Naquela segunda-feira em particular, um Boeing operado pela CIA decolou de Cabul e foi até o aeroporto polonês de Szymany. Então ele voou para o aeroporto militar romeno de Mihail Kogalniceanu, no Mar Negro. Críticos da CIA, como a organização de defesa dos direitos Human Rights Watch, vêm observando as duas bases militares há algum tempo.

Há poucos dias, de acordo com relatórios da rede de televisão americana ABC, combatentes de alto escalão da Al Qaeda foram retirados da Europa antes da chegada da secretária Rice. Um desses viajantes involuntários foi Ramzi Binalshibh, que ajudou a planejar o ataque ao World Trade Center. O novo destino: porões desconhecidos "em algum lugar do Norte da África".

Na Polônia, a cooperação com a CIA sempre foi fortemente negada. O novo governo faz uso da explicação dada pelo presidente de partida Kwasniewski. "Essa prisão nunca existiu", disse ele.

Verdade? O campo na pequena cidade de Szczytno em Mazury é certamente feito sob encomenda para missões secretas. Há muito que não há vôos oficiais para este famoso aeroporto da Polônia. Foram-se os dias de grandeza, cujos vestígios só são vistos nos avisos em várias línguas: "Bem vindo ao aeroporto internacional de Szczytno-Szymany".

Somente aviões privados pousam e decolam dali. Ele é usado quando, por exemplo, o rei Juan Carlos da Espanha quer caçar nas florestas cheias de animais selvagens.

Ou possivelmente, quando amigos americanos têm negócios urgentes que precisam ser resolvidos?

"O aeroporto sempre esteve pronto para ação, o equipamento técnico está intacto", diz o guarda uniformizado. Moradores falam que minivans pretas com janelas escuras e símbolos militares sempre passam por ali. Veículos como estes pertencem à frota oficial da unidade militar 2669, a 20 km em Stare Kiejkuty.

Duas cercas de arame farpado separam a minúscula aldeia do local, com suas torres de vigilância, barreiras e antenas de rádio. Fotografar é estritamente proibido e jornalistas poloneses tiveram seus filmes e chips de memória confiscados nos últimos dias.

A unidade 2669 é oficialmente "o centro de treinamento dos quadros de serviço de informações". O fato de estar tão próxima politicamente dos novos aliados americanos e geograficamente do aeroporto torna o local particularmente interessante.

O morador mais respeitado do vilarejo, Krzystof Uminski, 45, último fazendeiro da região, não gosta de responder a perguntas. Afinal, diz ele, a maior parte dos outros moradores vive de "trabalho dado pelo Estado". Somente hesitantemente ele admitiu o que isso significava. A escola de espionagem é a maior empregadora da região em torno do lago.

Os vôos via Espanha não foram os únicos a chamarem atenção. Um Gulfstream com o número de identificação N85VM também aparece como transporte da CIA em livros de registros internacionais e em organizações não governamentais. No dia 12 de abril de 2004, ele decolou de Guantánamo com um carregamento não identificado. A primeira parada foi na Espanha. O destino da missão explosiva era Bucareste.

O aeroporto de Mihail Kogalniceanu, freqüentemente chamado de "MK" pelos aliados americanos, fica a cerca de 200 km da capital romena [Bucareste].

Os militares americanos vêm usando a área como base de suprimentos para a guerra do Iraque desde 2002. Na semana passada, a secretária de Estado Condoleezza Rice assinou um acordo com o governo em Bucareste para permitir que os EUA a mantenham ali uma base para suas tropas. O acordo é apenas uma medida burocrática --partes do campo têm sido áreas de uso militar americano exclusivo por anos, como foi forçado a admitir o ex-ministro de defesa Ioan Mircea Pascu.

O jornalista britânico Stephen Grey contou 210 vôos duvidosos apenas para o Reino Unido, segundo os registros oficiais de vôos comissionados pela CIA. Deve haver dezenas de outros, de acordo com pesquisas na Irlanda e em Portugal. Os pousos também aparentemente ocorreram em Praga, Helsinque e Budapeste. Estônia, Holanda, Islândia, Noruega e Dinamarca estão nas rotas.

No dia 17 de fevereiro de 2003, em Milão, um comando da CIA abduziu o islâmico radical Abu Omar em "um ato completamente ilegal", como observadores descrevem, e tiraram-no do país. Foram feitos mandatos de extradição para 22 agentes da CIA.

Mas o ponto central da Europa foi a Alemanha: os americanos usaram a base aérea Rhein-Main em Frankfurt para 437 vôos. Foi de lá que o Hercules N8183J decolou, no dia 21 de janeiro de 2003, e soou o alarme da força aérea austríaca. Dois caças austríacos entraram em ação. Identificando o avião (fabricado pela empresa americana Tepper Aviation) como "aeronave pseudo-civil", os pilotos deixaram-no passar.
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