by mends » 16 Mar 2006, 11:08
Um piloto na contramão da F-1
O polonês Robert Kubica vem de família humilde, é alto e desajeitado. Longe do estereótipo dos 'galãs' das pistas
Livio Oricchio
Mais de uma geração se divertiu com um personagem dos desenhos animados, representado por um ganso, bem jovem, de nome Huguinho. As histórias se desenvolviam com ele sempre desejando fazer as mesmas coisas dos coleguinhas, como "Huguinho também quer brincar de carrinho", mas por ser grandão e desajeitado, invariavelmente, não se dava bem. A Fórmula 1 ganhou um Huguinho este ano, o polonês de Cracóvia, Robert Kubica, 21 anos, que, ao contrário dos colegas, vem de família humilde.
As similaridades com Huguinho, no entanto, não vão além da aparência, incompatível, da mesma forma, com a imagem de herói que se busca dos pilotos. Na pista, o novo contratado da equipe BMW Sauber tem provado ser um talento nato.
Sexta-feira, primeiro treino livre da etapa de abertura do Mundial, no circuito de Sakhir, em Bahrein. Estréia de Kubica na F-1, depois de ter conquistado, ano passado, o título da World Series, competição semelhante à GP2, categoria imediatamente abaixo da F-1, dentre outros títulos na carreira. Resultado final do treino: 1.º Kubica, 1min32s170. Tudo bem que, como terceiro piloto da BMW Sauber, pode exigir mais do carro, em razão de apenas trabalhar na sexta-feira e seu motor não ter as limitações dos demais. Mas não deixa de ter representatividade o fato de ter realizado, até então, apenas alguns treinos com o time e já de cara, num GP, registrar marcas melhores que as de Kimi Raikkonen, McLaren, terceiro, 1min33s388, e Michael Schumacher, Ferrari, quarto, 1min33s469.
Um pouco calvo para a idade e nariz adunco pronunciado demais para o gosto dos homens que associam a imagem do piloto às empresas que investem em suas equipes. Mais: um pouco alto demais, quase 1,90 m, para o interesse técnico dos projetistas. Não convém à performance, embora não seja lei. Esse é o perfil imediato de Kubica.
Desprendido, simpático, disponível, dá liberdade para mexer no assunto. "Mas eu corro de capacete. Não apareço, ao menos enquanto trabalho", diz, rindo. "Não creio que o fato de não ser o protótipo físico do piloto que todos gostariam possa atrapalhar meu sonho de vencer", prossegue. "Neste momento, estou preocupado com outra coisa. Sou piloto de testes, treino apenas, não corro. Depois de três GPs não será fácil controlar a vontade de disputar corridas."
Já há quem diga que junto de outro jovem de grande competência, o alemão Nico Rosberg, da Williams, um dos melhores do GP de Bahrein, na sua estréia na F-1, Kubica formará a nova geração que fará sucesso na competição. Um detalhe: Nico já foi convidado até para ser modelo fotográfico, tal a aceitação de seus traços físicos: loiro, alto, olhos claros, elegante, enfim, o oposto de Kubica. Na analogia, os amiguinhos com quem Huguinho brincava no desenho.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."
Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")