República das Bananas...

América Latina, Brasil, governo e desgoverno
CPIs mil, eleições, fatos engraçados e outros nem tanto...

Postby mends » 23 Nov 2006, 08:02

No dia em que os Emirados Sáderes expropriaram Dostoiévski

Dostoiévski: para ele, não existia crime sem castigo. E sem arrependimento. Coisas do passado...

A Boitempo Editorial, aquela editora do imbróglio César Benjamin/livro superfaturado, divulgou uma nota à imprensa. Vocês sabem como é... “A grande mídia conservadora”, como diria Emir Sader, não dará destaque a esses nobres de caráter. Então, eu, que não sou grande, mas apenas conservador, sinto-me obrigado a não deixá-los falar no vazio. Comentarei a nota trecho a trecho, que é como gosto de fazer.

"A Boitempo vem sendo alvo de ataques por parte de veículos da mídia conservadora. Estes se prestam não a informar mas a divulgar supostas denúncias, não apuradas, feitas por César Benjamin contra Emir Sader e a editora da Boitempo, Ivana Jinkings."

A dupla Sader-Ivana continua a espancar a inculta e bela. Na mão de ambos, ela é apenas sepultura, sem jamais atingir o esplendor. A denúncia é real. Ser ou não verdadeira não a torna "suposta". Ah, claro: faltou a vírgula antes da conjunção adversativa.

"Esta nota pretende esclarecer as pessoas que se relacionam com a editora – autores, leitores, jornalistas, colaboradores, livreiros etc. – em relação às acusações, veiculadas de forma leviana por alguns meios de comunicação e jornalistas da dita grande imprensa que (ainda) é grande em tamanho, embora cada vez menor em ética."

A redação colegial não deixa dúvidas sobre a autoria. Vamos, então, a uma lição de ética ministrada por Emir e Ivana.

"Alguns jornalistas não entendem, e seus chefes não admitem, uma editora que publica, sobrevive e cresce com um catálogo coerente e de qualidade, não pautado pela tábula rasa do mercado."

Eu não admito é uma editora capaz de redigir uma nota que tropeça na pontuação na segunda linha, no dicionário na terceira, na regência na 11ª e na decência no conjunto da obra. Reparem ali: “publica, sobrevive e cresce com...” “Publica com”? O petismo é isto: em vez de o intelectual ensinar português a Lula, é Lula quem ensina português ao intelectual... Quanto à resistência ao mercado, comento mais adiante.

"Querem desabonar a Boitempo justamente porque não aceitam que nem todos se pautem pela ética do dinheiro, da obediência de escriba aos senhores do capital. Os ataques visam ainda a envilecer a esquerda: os que se vendem não toleram os que resistem. Assim, para os da mídia comprometida, não devemos nenhuma explicação." :? :? :?

É... Eu, “a nível de mídia comprometida”, realmente não estou satisfeito com as explicações. Não entendi bem essa parte de “desabonar a Boitempo”. O que é isso, companheiros? A editora está abonadíssima. Só a tal da Latinoamericana Enciclopédia Contemporânea, com esse nome ridículo, que afronta, a um só tempo, a sintaxe e a ortografia portuguesas, recebeu “abono” do BNDES, da Petrobras, do Banco do Brasil, da CEF e da Eletrobrás. É abono que não acaba mais. Este blog apurou que a coordenação dos trabalhos custou R$ 750 mil. Não que Emir e Ivana me devam explicações — já que integro a “mídia comprometida” —, mas tenho grande curiosidade: quanto custou todo o projeto? De quanto foi a doação de cada empresa? Por que um banco de fomento como o BNDES financia uma enciclopédia de esquerda que omite, entre outras faceirices, que Fidel Castro é um ditador?
A Boitempo, pelo visto, tem certa repulsa ao capital privado, mas nada tem contra o dinheiro público, não é mesmo?

"César Benjamin acusa a Boitempo de ter superfaturado a edição do livro Governo Lula: decifrando o enigma, feito em parceria com o projeto Outro Brasil, que Benjamin integrou, e que foi financiado com recursos da Fundação Rosa Luxemburgo."

Sim, Benjamin acusa. Não só isso. Ele tem um e-mail em que Sader combina com Ivana a publicação do livro pela Boitempo antes mesmo da licitação.

"A acusação foi feita em meio a outras – primeiro por correio eletrônico, em 2004, o que motivou a editora a iniciar um processo por calúnia e difamação contra Benjamin – e agora é retomada, associando-se a agenda de jornalistas da Folha de S.Paulo e da Veja, interessados menos em verificar a autenticidade da acusação e mais em destruir a imagem pública de Emir Sader, por conta de sua atuação e da solidariedade que recebeu ao ser condenado, em primeira instância, à prisão e à perda do cargo de professor, em processo movido pelo senador Jorge Bornhausen, cuja imagem nunca poderá ser dissociada do regime militar, do governo Collor e dos interesses dos banqueiros."

Uau! É o período mais longo do mundo ocidental. Aquele “a” antes de “agenda” é uma crase; logo, pede o acento grave: “à agenda”. Quando os jornalistas da Veja estamos sem ter o que fazer, um tanto entediados, telefonamos para os jornalistas da Folha:
— Alô. Fernando? Reinaldo. Vamos nos encontrar para destruir a imagem de Emir Sader?
— Agora, Rei? Estava fazendo tiro ao alvo na imagem do Che Guevara.
— Deixe esse milongueiro argentino para o Walter Saller Jr. Isso é café pequeno, coisa para cineastas. Os Emirados Sáderes são bem mais perigosos para a língua portuguesa. Venha armado com o seu Napoleão.
— Napoleão?
— É, o Mendes de Almeida (*)!

(*) Um dicionário...

"Por essa razão, não respondemos a questões enviesadas feitas após a publicação da denúncia – sem procurar ouvir o outro lado – por Fernando de Barros e Silva, para não lhes emprestar uma aura de legitimidade e imparcialidade que não possuem."

O articulista da Folha escreveu um artigo opinativo. Só Emir Sader, Ivana e o ombudsman do jornal, Marcelo Beraba, acreditam que este tipo de texto pede “outro lado”. A Folha fez depois uma reportagem. Sociólogo e editora se negaram a falar. Rogério Cezar de Cerqueira Leite escreveu um artigo energúmeno na seção Tendências & Debates. Como é praxe nesses casos, ouviu apenas um lado: o de Sader e Ivana. Eles não reclamaram. O ombudsman também não piou.

"Aos fatos: a edição do livro foi orçada em 31,5 mil reais. Por quem? Pelo projeto Outro Brasil, cujo coordenador na época era César Benjamin, para ser feita por sua editora, a Contraponto. Agora, o editor aparece na revista Veja, notória porta-voz da direita, dizendo que a produção do livro custaria apenas 10 mil reais."

Meus protestos. Ninguém é porta-voz da direita nestepaiz sem falar antes comigo, com o Diogo e com o Olavo de Carvalho, não necessariamente nessa ordem.

"Mas o fato é que Benjamin, ao ser informado de que teria de se submeter a uma licitação (exigência da Fundação Rosa Luxemburgo), desistiu da publicação. E lamentava que com sua desistência a edição perdia, entre outras, vantagens como "a praticidade e a confiabilidade, na medida em que eu [César Benjamin] me tornava completamente responsável, diante da equipe e da Fundação, por assegurar a melhor combinação possível de qualidade, velocidade e custos". Alegava, após reconhecer que conseguiu da Fundação uma verba de 100 mil euros, que não poderia ser licitado e licitante, o que é correto, mas considerava correto ser contemplado sem a licitação! Ou seja, gostaria de fazer o livro, mas não aceitaria confrontar seu orçamento com o de outras editoras."

Se vocês recuperarem o caso, Benjamin já respondeu a essa questão. Eu continuo interessado no e-mail que Emir enviou a Ivana combinando a publicação do livro ainda antes da licitação. Mais uma vez, o casal volta à questão e ignora esse particular. Acha que basta rebater acusação com acusação.

"Mas, como disse Dostoievski e um certo editor costuma lembrar, “Se Deus não existe, tudo é possível”.

1 — Dostoiévski não disse isso duplamente; em primeiro lugar, porque não é “possível”, e sim “permitido”; em segundo, porque não disse nem uma coisa nem outra exatamente. Não ele.
2 – Quem disse que Dostoiévski disse foi Sartre em O Existencialismo É um Humanismo. E a praga pegou.
3 – Frase semelhante é dita, na verdade, por Aliocha Karamazov, o santinho religioso de Os Irmãos Karamazov, a Ivan, o intelectual ateu e verdadeiro cérebro do parricídio praticado por Smerdiakov (o quarto é Dimitri). Confrontando o ateísmo do irmão, diz Aliocha: “Mas, se Deus não existe, então não há crime e não há pecado; tudo é permitido". Ele o dizia em tom de censura. O curioso é que o diabo, do Capítulo IX do Livro VI, aparece dizendo a mesma coisa a Ivan, aí com claro sentido de aprovação.
4 – É curioso um marxista leninista (suponho) citando Dostoiévski, ainda que torto. Seja em Irmãos Karamazov, seja em Crime e Castigo (com o indecente Raskolnikov), Dostoiévski censura os que ultrapassam os limites em nome de uma idéia. Aqueles que acham que tudo é permitido.

"A Boitempo teve aprovado um orçamento de R$ 29.800,00. É provavelmente o primeiro caso de "superfaturamento" em que o custo final revelou-se menor que o orçado. O projeto como um todo, incluindo relatório financeiro, foi aprovado e renovado pela Fundação Rosa Luxemburgo."

E o e-mail combinando a publicação?

"Para entregar o livro na data acordada, a Boitempo contratou profissionais experientes como Túlio Kawata, Aluizio Leite, Gilberto Maringoni; alterou-se a programação da editora, suspenderam-se projetos, assumiram-se custos. É óbvio, e não há nada de vergonhoso ou imoral nisso, que o custo de produção (lembrando que há também gastos fixos, administrativos e impostos) foi inferior aos R$ 29.800,00 pagos pela Fundação. Se não fosse assim, o livro não teria sido produzido com a urgência necessária."

Como é que é? “Não fosse assim” (vale dizer: o trabalho custou menos do que o que foi pago pela fundação”), “o livro não teria sido produzido com a urgência necessária”. Não entendi a relação de causa e efeito estabelecida. Alguém entendeu? Quer dizer que, se tivesse sido pago o dobro, o tempo teria sido reduzido à metade?

"Não era uma obra da Boitempo e sim um serviço prestado. Benjamin, ao contrário, integrava (na época coordenava) o projeto, era remunerado por ele, e ainda assim preparava a edição, sem crises morais, por quase 2 mil reais a mais. O livro foi produzido, com a qualidade, a pontualidade e a competência que são características reconhecidas da editora."

Ô, nem diga. É puro rigor. A cada palavra. Eu quero saber da licitação. E quero tirar aquela vírgula entre “produzido” e “com”. Em nome da “qualidade” e da “competência”.

"Há dois anos, Ivana Jinkings pediu a Benjamin que se retratasse, que enviasse a sua resposta para as listas em que divulgou o e-mail acusatório; diante da recusa na retratação, recorreu-se à Justiça. Em uma nítida e completa inversão dos fatos, a imprensa não só tratou o processo de calúnia e difamação como contrário à Boitempo, em vez de sinal claro da nossa seriedade, como também encarou o arquivamento do processo como se isso desse alguma razão ao acusado, em vez de noticiar a verdade, que o processo era da Boitempo contra Benjamin, e que foi arquivado por questões de prazo (ficou sem acompanhamento jurídico quando foi transferido para Brasília, porém sua retomada já está em curso), sem que o mérito da questão pudesse ter sido julgado."

- Quem disse que mover um processo acusando alguém de “injúria” e “difamação” é, por si mesmo, “sinal claro de seriedade”? Se é assim, por que Sader mobiliza seus amigos contra a sentença que o acusou no processo movido por Bornhausen?
- Processo “arquivado por questões de prazo”? Retomada de “processo arquivado”? Tudo estranhíssimo. Mas sempre será uma boa dar a Benjamin a oportunidade de apresentar os documentos de que dispõe.

"Notícias filtradas, editorializadas, e que devem merecer a repulsa de todos. Sem democratização da mídia, não haverá democracia no Brasil. Sartre, se vivo fosse, teria nesse episódio inspiração de sobra para brindar seus de leitores com A náusea 2."

Claro, claro, precisamos ter um Comissariado para Assuntos de Mídia para resolver essa questão (Dilma Rousseff já está cuidando disso). Se Sader e Ivana não leram Dostoiévski, e estou certo de que não leram, não é maior seu conhecimento de Sartre. Não se aplicaria uma segunda versão de A Náusea ao caso porque a primeira passa a quilômetros intelectuais de qualquer contenda dessa natureza. Ao Sartre dessa novela, não duvido, gente como Sader e Ivana é que provocaria profundo mal-estar. Ele não tinha se tornado ainda um stalinista gagá. E o cretinismo comunista não o horrorizava menos do que o fascista.

Talvez ficasse melhor uma reedição de uma peça de teatro do autor: As Mão Sujas. Aí, sim. Ainda censurando os criminosos comunistas, Sartre demonstra como eles eram capazes de tudo na obediência a um ente de razão. Fica patente na peça que o crime comunista era apenas a fachada de um lapso moral bem mais profundo.

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Postby mends » 27 Nov 2006, 08:46

Os mortos da ditadura: mito e realidade

Certos raciocínios são mesmo inaceitáveis. Perguntam-me, em vocabulário impublicável, de onde tirei os números sobre os mortos da ditadura no Brasil. Pois não. Do livro Dos Filhos Deste Solo, escrito pelo ex-ministro Nilmário Miranda, petista, e pelo jornalista Carlos Tibúrcio. Aliás, é uma co-edição da Boitempo Editorial (aquela do caso Emir Sader) e da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT. Logo, senhores esquerdistas, a fonte é a melhor possível para vocês. Reitero o que já havia escrito: não deveria ter morrido uma só pessoa sob a guarda do Estado. Mas é uma estupidez e uma fraude querer comparar o que se deu no Brasil com o que aconteceu na Argentina ou na Cuba de Fidel Castro — por que não?

Para ser preciso, o livro lista, com enorme boa vontade nos critérios, 424 casos de pessoas que teriam morrido ou que ainda são dadas como desaparecidas em razão do regime militar — ainda que numa razão nem sempre direta. Estão contados aí pessoas vítimas de acidentes, suicídios, gente que morreu no exterior e até os justiçamentos: esquerdistas assassinados por esquerdistas porque supostos traidores. Sim, meus caros: a esquerda nunca viu mal nenhum em aplicar a pena de morte. Sem tribunal ou direito de defesa.

Desses 424 — logo, bem menos do que os 500 que eu mesmo mencionei porque estava com preguiça de ir à fonte —, assassinados mesmo, comprovadamente, foram 293 pessoas. Mas atenção: isso inclui as que morreram na guerrilha do Araguaia: gente que estava armada, para matar ou morrer. Dá para saber até a distribuição dos mortos segundo as tendências:

ALN-Molipo – 72 mortes (inclui quatro justiçamentos)
PC do B – 68 (58 no Araguaia)
PCB – 38
VPR – 37
VAR-Palmares – 17
PCBR – 16
MR-8 – 15
MNR – 10
AP – 10
POLOP – 7
Port - 3

É muito? Digo com a maior tranqüilidade que a morte de qualquer homem me diminui, segundo frase famosa que já é um chavão. Mas 424 casos não são 30 mil — ou 150 mil, se fôssemos ficar nos padrões argentinos. Isso indica o óbvio: a tortura e a morte de presos políticos no Brasil eram exceções, embora execráveis, e não a regra. Regra ela foi no Chile, na Argentina, em Cuba (ainda é), na China (ainda é), no Caboja, na Coréia do Norte, na União Soviética, nas ditaduras comunistas africanas, européias... Só a ALN-Molipo deu cabo de quatro de seus militantes. Em nome do novo humanismo...

A lei de reparação que está em curso no Brasil é das mais generosas, tanto é que alcança até alguns vagabundos que fizeram dela uma profissão, um meio de vida, arrancando dos pobres e dos desdentados indenizações milionárias e pensões nababescas. Até aí, vai uma sem-vergonhice que não ameaça criar tensões desnecessárias.

Querer, no entanto, rever a Lei da Anistia como se o drama dos mortos e desaparecidos fosse um trauma na sociedade brasileira como ainda é na argentina ou na chilena é um completo despropósito. Pode, quando muito, responder ao espírito de vingança de alguns e gerar intranqüilidade para o resto da sociedade, a esmagadora maioria.

De resto, tão triste — ou até mais — do que a tortura com pedigree, aquela exercida contra militantes de esquerda no passado, é a que existe ainda hoje nos presídios brasileiros. Imaginem se cada preso comum acionar o Estado por conta de maus-tratos ilegais sofridos cotidianamente nas cadeias. Ocorre que essa gente não conta com a disposição militante para fazer proselitismo. Não existe uma comissão especial para cuidar do assunto. A esquerda, como sempre, só dá pelota para o "seu povo", não para "o" povo.

Em tempo
Não postei algumas mensagens desairosas, malcriadas, contra Gabeira por causa de seu passado. Até Delfim Netto já foi socialista — fabiano, mas foi. Gabeira pagou, como todos os que foram protagonistas daqueles dias horríveis, o preço por suas opções e soube entender as demandas do presente. Algumas de suas lutas não são as minhas, mas eu saúdo o fato de que sua militância, hoje, só pode ser exercida plenamente numa sociedade democrática e de mercado. E isso está a anos luz de distância do petismo. Querem saber? Acho até louvável que ele não fale como se não tivesse um passado. Ele tem. Não depende dele. O que importa é que ele dá mostras de saber o que fazer daquele tempo.

Censuro a ação que hoje colhe o coronel Brilhante Ustra porque me parece que ela comete justamente o erro de trazer o passado a valor presente, forçando a história a recuar no tempo, especialmente quando temos uma Lei da Anistia. Foi incômodo o tal jantar de solidariedade dos militares da reserva a Ustra? Foi, sim. Não teria ocorrido se alguns aloprados não estivessem segurando gasolina em uma das mãos e um fósforo aceso na outra.

Os militares não são imbecis. Se esse caso prospera, é claro que será apenas o primeiro de uma série. Não sei prever o futuro. Sei operar com categorias lógicas. Se há alguém acreditando que a história pode, quase 30 anos depois, regredir para submeter apenas um dos lados ao chicote, está fazendo uma aposta errada. Errada e perigosa. Ustra só quer que o esqueçam. Os que, hoje em dia, preferem ser lembrados são alguns ex-terroristas que pegaram em armas e agora disputam eleições.

O Brasil é melhor sob a vigência plena da Lei da Anistia. Garanto.

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Postby mends » 29 Nov 2006, 08:29

Discursos delinqüentes

O discurso delinqüente, para prática idem, vai tomando conta do espaço público brasileiro numa velocidade vertiginosa. Governo e alguns líderes de oposição vão-se adaptando ao padrão que emana do Palácio do Planalto. Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Dilma Rousseff se encarregaram de degradar um tantinho mais a República, fazendo pouco caso das instituições, da razão, da lógica. Lá de Washington, mas parecendo que estava nas nuvens, o governador reeleito de Minas, Aécio Neves (PSDB), digredia sobre um certo jeito mineiro de fazer política, exaltando as glórias de sua terra na arte da negociação, reiterando a sua amizade pelo presidente Lula. Pode ser amigo de quem quiser. Deveria deixar claro que é, quando menos, adversário dos métodos petista. Ele é?

Vamos a dois casos exemplares do que falo. Abaixo, vocês lêem que Dilma, comentando o contrato entre o Canal 21 (da Rede Bandeirantes) e a Gamecorp (de Lulinha, filho de Lulão), entregou-se a digressões sobre como documentos dessa natureza são comuns no mercado. A ministra, fingindo uma tolice que não tem e revelando a moralidade que tem, fez de conta que o problema era de natureza, sei lá, meramente contratual, legal. Evidentemente, a questão é outra: a empresa de que o filho do presidente é sócio não só recebeu, no passado, injeção de capital de uma concessionária pública (Telemar), de que o BNDES é sócio, como é fartamente financiada com publicidade oficial: tanto a institucional, do governo, como a das estatais.

A oposição piou? Só o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), até onde sei, cobrou explicações. O resto é de um silêncio sepulcral. Vai ver estão todos à espera da agenda de Lula. Como observa o professor Marco Antonio Villa não adianta “deixar o homem trabalhar”. Ele não tem a menor idéia do que fazer. Certa feita, as oposições acharam uma tática inteligente deixar Lula sangrar no cargo para colher o fruto que cairia da “árvore dos acontecimentos” (a expressão é de Marx). Deu no que deu. Pode parecer incrível: mas se está fazendo agora o mesmo cálculo. Cálculo que engoliu os calculistas da primeira vez. Que tem tudo para engoli-los de novo.

Lula entre os gentios
Ontem à noite, em discurso na CNI (Confederação Nacional da Indústria), Lula deu uma pequena amostra de sua perdição Leiam este trecho: “Um país que não tem cidades com disposição de investir, Estados com disposição de investir, a União não pode investir. Um país que tem de cumprir um superávit que nós temos que cumprir, ainda tem a Lei de Responsabilidade Fiscal que nós temos que cumprir. Vocês percebem que precisa mais do que um economista, precisa de um bando de mágicos para que a gente tente encontrar uma saída para fazer esse país voltar a crescer. E, sem mágica, nós vamos fazê-lo voltar a crescer.”

Não fosse glossolalia, seria a fala de um esquizofrênico. Onde é que estão as sobras para Estados e municípios investirem? 67% das cidades brasileiras estão falidas. Observem que, claro, ele está responsabilizando os outros, como se estivesse cumprindo devidamente a sua parte. Não é difícil observar que ele põe a Lei de Responsabilidade Fiscal como um entrave para o crescimento. Estabelecidos os impedimentos, ele chega a uma conclusão: só mesmo um mágico para fazer o Brasil crescer. E depois anuncia: “E, sem mágica, nós vamos fazê-lo voltar a crescer.” Ou seja: Lula acaba de anunciar que é um mágico! Se ficasse distraindo Dona Marisa tirando coelho da cartola, eu não dava a mínima. Mas é presidente da República. Ademais, o mágico da família é Lulinha. Quando o pai chegou à Presidência, era monitor de jardim zoológico. Menos de quatro anos depois, comanda uma emissora de TV.

Os “inimigos” ainda não estavam devidamente identificados. O pai de Lulinha Gamecorp Canal 21 Telemar da Silva tinha um outro alvo: a imprensa. “Eu posso fazer uma confissão aqui na frente de tantos governadores, de tantos empresários e de tantos ministros. Eu, se fosse levar em conta todas as desgraceiras vendidas no Brasil o dia inteiro na imprensa, eu não sairia de casa de manhã. Porque a impressão que eu tenho é que o Brasil tem dia que vai acabar e tem dia que não vai acabar". Como se vê, na cabeça perturbada de Lula, o jornalismo não noticia os problemas; ele os inventa. Tal fala, no dia em que fica claro que seu filho é beneficiário direto de verba publicitária do governo e dos estatais, doura um escândalo com outro. E qual será reação da oposição nesta quarta? Provavelmente, nenhuma.

Mesmo ela, vê-se, tão cordata, tão amigável, tão afável, tão disposta a colaborar, levou a sua tunda. “(...) nós acabamos de sair de um episódio em que uma parte dos políticos brasileiros aprovaram 13º salário para o Bolsa Família. Estou falando de pessoas que fazem discursos dizendo que querem ser sérios e aprovaram 17% de aumento para os trabalhadores aposentados (...) como se aquilo fosse apenas uma peça de campanha, sem a conseqüência do dia seguinte da irresponsabilidade." É o Lula que pedia 70% de reajuste para o funcionalismo no governo FHC e que concedeu 0,1% quando chegou ao poder. É o Lula chefe máximo do partido que recorreu ao STF contra a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Não, não quero chamar a atenção para as bravatas de antes e as patuscadas de agora deste patriota. Esse Lula que ignora seu passado também é velho. Delinqüente é o discurso que tenta atribuir às oposições, já tão raquíticas, parte das dificuldades que o país enfrenta para crescer. O governo tem maioria na Câmara para barrar as duas medidas a que ele alude. Maioria que, não custa lembrar, custou e custa caro ao país num governo sem projeto, obrigado a lotear os cargos para conseguir o apoio de outros patriotas...

Defini outro dia a era Lula como um governo de idiotas de esquerda apoiado por idiotas de direita. A cada dia, estou mais convencido disso. Acrescente-se, claro, o ingrediente do oportunismo nos dois grupos. A uns, Lula seduz com caraminguás de totalitarismo; a outros, com juros. E as oposições? Ah, continuam pisando nos astros distraídas.

Azevedo
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Postby mends » 04 Dec 2006, 09:52

Reinaldo Azevedo

Cinemabras



Cineastas e produtores agora se oferecem para fazer filmes sobre a vida de políticos que ainda não tiveram tempo de entrar para a história. Farei uma enquete amanhã para saber qual poderia ser a fita de estréia. Abaixo, alguns nomes e seu respectivo gênero ou subgênero.

- Entre Ratos (documentário)
- Sindicato de Ladrões (drama com crítica social)
- Ladrões sem Bicicleta, mas com Land Rover (neo-realismo pilantra)
- Querida, Encolhi o País (Comédia econômica)
- Top Gangue (ação)
- 40 Quadrilheiros e Um Destino (banditismo social)
- Sexta-Feira 13 (mistério e violência)
- O Bandido da Luz Vermelha (violência e metáfora)
- Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver em Santo André (mistério trash)
- Os Bons Companheiros (drama e máfia)
- 21 Gramas — E Comissão de 100% (vanguardismo latino-americano)
- A Cueca (narrativa modorrenta iraniana)
- A Cartilha (variação da narrativa modorrenta iraniana)

Qualquer que seja a escolha, sem essa de Chico Buarque fazendo letra de protesto a favor. Temos de exigir o poeta Latino: “Hoje é festa/ lá no meu AP/ pode aparecer/ vai rolar bundalelê”. Agora é só apresentar o roteiro para as estatais, pegar a grana, comprar um apartamento e reclamar que ninguém incentiva o cinema "nestepaiz"...
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Postby mends » 12 Dec 2006, 11:00

R Azevedo

Por que pobre tem de financiar ator de teatro e salto com vara?

Esporte e cultura estão em pé de guerra (leiam abaixo) porque uma lei de incentivo aos esportes pode canibalizar as fontes de recurso da cultura, capitaneados pela Lei Rouanet. Artistas e esportistas mobilizaram os seus lobbies e estão em Brasília, na rua, na chuva e na fazenda (menos em casa de sapé, que ninguém é de ferro) pedindo que haja um entendimento entre as áreas e, mais do que tudo, aumento no percentual da renúncia fiscal. Todo mundo quer mais grana.

O que eu acho? Sou contra subsídio até de feijão. Vê lá se vou defender dinheiro para pagar a prosopopéia dos artistas ou o suor dos nossos atletas. Como diz o bordão de um programa de rádio, “cada um co seus pobrema”. Estado não gera riqueza. Só confisca e consome uma porcentagem — imensa no Brasil — do que a sociedade produz. Renúncia fiscal significa que o dinheiro continuará a sair do bolso do consumidor (já que as empresas continuarão a pôr no preço final o quanto gastarão com os artistas ou com os saltadores com vara...), mas não será recolhido ao Estado, e sim doado para atores, palhaços, músicos, malabaristas, jogadores de voleibol, corredores...

Em suma: estamos dizendo, com leis como essas, que a dona Maricota miserável lá de Cabrobó da Serra tem a obrigação, vejam só, de financiar os delírios estético-libertários do Zé Celso Martinez Corrêa. Faz sentido. Como Diogo lembrou outro dia, o Brasil de Antonio Conselheiro, de certo modo, continua intacto. É um dever do pobre pagar para que artistas denunciem a uma platéia de ricos as condições miseráveis em que vivem os pobres. Como é que conseguimos fazer uma gente com tão pouca vergonha na cara, hein? Qual é a grande filme de teatro ou a peça seminal — sem trocadilho — da era da lei do incentivo?

Mas o mais curioso é que o “núcleo duro do miolo mole” vai dizer: “Tá vendo? A direita é fogo! A direita não quer dar dinheiro nem para a cultura!” Vejam que beleza esse esquerdismo cultural produz: a empresa deixa de pagar imposto, “investe” em teatro (e, em breve, em salto com vara) e põe a sua marca no espetáculo. Ou seja: faz propaganda com dinheiro público, apropriando-se do que é coletivo para benefício privado. Mas o direitista, como sabem, sou eu...
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Postby Danilo » 13 Dec 2006, 13:41

"Eu sou mais velho do que ele e sou de esquerda". Assim reagiu Marco Aurélio Sargento Garcia, presidente do PT, à afirmação de Lula de que um homem com 60 anos e que continua de esquerda “tem problemas”. A afirmação foi feita ontem, durante solenidade promovido pela revista IstoÉ, que lhe conferiu o prêmio de Homem do Ano. Segundo o Apedeuta, “se você conhecer uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque ela tem problemas. Se você conhecer uma pessoa muito nova de direita, é porque também tem problemas. Então, quando a gente está com 60 anos, (…) é a idade do ponto de equilíbrio em que a gente não é nem um nem outro.” Ai, ai... Só mesmo um Marco Aurélio para demonstrar que, às vezes, até Lula tem razão — a despeito da delinqüência teórica do seu, por assim dizer, pensamento.

:az:

Será que o Lula começou a concordar com a frase do Paulo Francis (que o Mends adora): "Se você tem 19 anos e não é comunista, você não tem coração; mas, se você tem 50 anos e é comunista, você não tem cérebro"?
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Postby mends » 13 Dec 2006, 17:40

O Molusco fala o que a platéia da ocasião quer ouvir
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Nunca na história destepaiz

Postby Wagner » 17 Dec 2006, 02:12

Pesquisa aponta Lula como melhor presidente do país
Expectativa para o 2º mandato é alta, mas diminui em relação a 2002, diz Datafolha :merda:

Percepção dos problemas relacionados à miséria e ao desemprego diminui, mas aumenta preocupação com saúde, ensino e corrupção

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Às vésperas da transição entre o primeiro e o segundo mandato, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) surge como o presidente mais bem avaliado da história do Brasil e cercado de uma forte expectativa positiva entre a maioria dos brasileiros: 59% esperam um segundo mandato ótimo/bom.
O principal legado do primeiro mandato, segundo nova pesquisa nacional do Datafolha, é uma diminuição na percepção de problemas relacionados à miséria e ao desemprego e um aumento relativo de dificuldades em outras áreas, como saúde, educação e corrupção.
Lula, que venceu a eleição com mais de 20 milhões de votos de diferença em relação ao ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) após uma campanha dominada por denúncias contra seu governo, é apontado espontaneamente por 35% dos entrevistados como o melhor mandatário que o Brasil já teve.
O percentual equivale a praticamente o dobro da preferência obtida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) no final de 2002 (18%), quando o tucano encerrou seu segundo mandato.
Na pesquisa atual, enquanto Lula tem 35%, FHC caiu para 12%. Os próximos mais bem avaliados são Juscelino Kubitscheck (11%), Getúlio Vargas (8%; 21% entre os com mais de 60 anos) e José Sarney (5%).
Lula também encerra o primeiro mandato com 52% dos brasileiros considerando seu governo ótimo/bom, o maior patamar entre quatro presidentes avaliados pelo Datafolha desde a redemocratização. O melhor índice até aqui (53%) pertence ao próprio Lula, obtido às vésperas do 2º turno eleitoral de 2006.

Esperança menor
A expectativa para o segundo mandato de Lula, que começa em 1º de janeiro, é mais positiva que a sua atual avaliação: 59% esperam que ele faça um governo ótimo/bom. Nesse ponto, porém, há uma diminuição das esperanças depositadas em Lula. Antes da posse em 2003, 76% aguardavam um governo ótimo/bom -um recorde.
No caso de FHC, apenas 41% esperavam um governo ótimo/bom dias antes da transição do primeiro para o segundo mandato, no final de 1998. Na época, enquanto o país mergulhava em uma crise que levou a uma forte desvalorização do real em 99, apenas 35% avaliavam FHC como ótimo/bom.
A pesquisa Datafolha, feita no dia 13 de dezembro entre 2.178 brasileiros em 111 municípios de 23 Estados e do Distrito Federal, tem margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
A exemplo dos resultados dos levantamentos pré-eleitorais, destaca-se o fato de que quanto mais pobre e menos escolarizado for o entrevistado, maior será seu apoio e satisfação com Lula. Regionalmente, os moradores do Sul e do Sudeste também continuam como os maiores críticos.
No final de 1998, a aprovação de 35% do governo FHC era mais homogênea: 40% dos que tinham renda até dois salários mínimos o aprovavam; 33% dos com renda de cinco a dez salários; e 36% dos que ganhavam mais de dez mínimos.

Desemprego
Embora a falta de trabalho permaneça no topo das preocupações, caiu de 31% no início de 2003 para 27% agora o total dos que afirmam espontaneamente ser o desemprego o principal problema. O índice chegou a 49% em março de 2004.
Criados 5 milhões de novos empregos com carteira assinada e obtida uma melhor distribuição de renda entre 2003 e 2006, os brasileiros apontam agora para outros problemas.
Eles são relacionados à qualidade da saúde (6% apontavam como problema em 2003, contra 17% agora), da educação (subiu de 4% para 9%) e à existência de corrupção no governo (2% para 6%, o maior percentual do primeiro mandato).
Também de forma espontânea, a saúde é avaliada como a área de pior desempenho no primeiro mandato de Lula. Subiu de 4% para 18% o total dos que avaliam mal a área entre 2003 e 2006.
Já o combate à corrupção teve o pior desempenho para 8% dos entrevistados na pesquisa da semana passada. No início do governo, era 1%.

Segurança
A avaliação do desempenho do governo Lula em outras áreas de grande interesse da população, como trabalho e segurança, ficou praticamente estável entre 2003 e agora.
Para Luiz Felipe de Alencastro, professor de história do Brasil na Universidade de Paris-Sorbonne, a forte expectativa positiva em relação a Lula vem de uma "reiteração da legitimidade" do presidente.
"Depois de toda a crise política e da existência de um segundo turno, que foi apontado como uma derrota, Lula venceu com 20 milhões de votos, o que restabeleceu uma perspectiva de unanimidade", afirma.

:merda:
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Postby mends » 19 Dec 2006, 07:58

O sertanejo é, antes de tudo, um feliz!

O sertanejo é antes de tudo um homem feliz, hehe. A mesma pesquisa que apontou um desempenho recorde de Lula (ver abaixo) indica que 83% dos brasileiros estão satisfeitos com a vida. Nada menos de 47% esperam um 2007 muito bom. Outros 46% apostam que ele será apenas “bom”. Só 5% dizem que o ano deve ser “ruim” ou “muito ruim”, índice ainda menor do que os insatisfeitos: só 15%. Otimista, 43% esperam ganhar mais em 2007. Acham que ficarão na mesma 41%, e só 10% acreditam que vão perder renda. Sim, sim... Estamos ainda sob o efeito da campanha eleitoral, mas, conforme aponto abaixo, também da “estagnabilidade”. Se os “brasileiros” estão felizes, eu também estou. Sempre desconfiei de que essa história de conforto material é só uma tentação do capeta. Precisamos é de pão espiritual, o que Lula nos dá de sobra. Igual pesquisa feita na Suécia, na Noruega ou na Dinamarca certamente demonstraria povos mais soturnos, mais exigentes, esmagados pelo bem-estar... Não é por acaso que a nossa maior guerra civil tenha se dado em Canudos: era a luta de um messiânico maluco, com sinais visíveis de retardamento mental (sim, posso escrever também sobre como Antônio Conselheiro mobilizava os deserdados do Império e da República...), contra os positivistas do Exército brasileiro. Entenderam? Era o confronto de dois misticismos, hehe. Abaixo a Suécia! Viva o Brasil!

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Postby mends » 20 Dec 2006, 17:50

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) poderá realizar, durante as eleições municipais ou em data que achar conveniente, plebiscito para consultar a população sobre o fim do voto eleitoral obrigatório, a adoção do financiamento público de campanha e a reeleição dos chefes do Poder Executivo. É o que prevê o substitutivo ao Projeto de Decreto Legislativo 1.494/04, aprovado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) nesta quarta-feira (20).
- Se o Congresso não consegue decidir nas propostas que dizem respeito a estes temas, vamos devolvê-las à população para que se pronuncie - disse o autor da proposta, senador Gerson Camata (PMDB-ES)
A data para a consulta será fixada de acordo com decisão do TSE, mas será obrigatoriamente definida em no máximo um ano após a aprovação da matéria. Outro tema proposto para a consulta pelo relator, senador Jefferson Péres (PDT-AM) - a redução da maioridade penal - não obteve consenso entre os parlamentares e, por esse motivo, será analisado por meio de destaque durante a votação em Plenário, que ocorrerá somente na próxima legislatura.”

AGÊNCIA DO SENADO FEDERAL
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Postby junior » 21 Dec 2006, 06:03

sobre o fim do voto eleitoral obrigatório


Já era hora...

, a adoção do financiamento público de campanha


Mmmm, complicado demais para um físico opinar...

e a reeleição dos chefes do Poder Executivo


Chaves?? ;( [/quote]
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Postby mends » 21 Dec 2006, 08:59

no nosso caso, está mais pro seu Madruga...

financiamento público de campanha: não é complicado prum físico. é só você se perguntar o porquê da proposta existir, e a primeira razão é pra não haver "lobby" nem caixa 2. Ora, o fato de haver financiamento público não acaba necessariamente com caixa 2, que é clandestino por natureza. E lobby não é necessariamente ruim, mas deveria ser legal e transparente.
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Postby mends » 21 Dec 2006, 09:09

Um texto sobre honra e decoro. Ou "A Globo me demitiu. Então ela não presta!"

Tentei afastar de mim este cálice, apesar de insuflado por leitores. Pensei: “Ah, não... Não vou me meter nisso. Preciso parar com essa mania de ter sempre uma opinião sobre tudo, hehe”. Mas não deu. Rodrigo Vianna trabalhou direitinho. Repórter, demitido pela TV Globo, ele mandou um e-mail a seus colegas. Hoje em dia, enviar mensagens pela Internet é uma forma de dar ao mundo uma lição de moral. Imaginem São Paulo, o Apóstolo, com a rede mundial de computadores na mão. Não teria concorrentes.

O texto já é conhecido. Até porque a network petista fez questão de espalhá-lo. A este blog, já chegaram centenas de transcrições. Há até versões piratas do texto. Todo mundo que não gosta da Rede Globo resolveu acrescentar um desaforo. Quase que se perde o estilo original de Vianna, entre o decoroso, o ético e o indignado. É o que eu sempre digo: a demissão estimula vocações literárias tardias. A rua petista está em festa. Vianna acusa a Rede Globo de perseguir o PT e de proteger os tucanos — como, vejam só, os petistas suspeitavam. O texto é longo. Provavelmente mais longo do que a Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios, o que demonstra que a ambição do rapaz não é pequena.

Falsos moralistas acabam se traindo. Lendo o texto de Vianna, cheguei à conclusão de que a Rede Globo está bem servida de chefias. Diz o nosso indignado: “Ao lado de um grupo de colegas, entrei na sala de nosso chefe em São Paulo, no dia 18 de setembro, para reclamar da cobertura e pedir equilíbrio nas matérias: ‘por que não vamos repercutir a matéria da IstoÉ, mostrando que a gênese dos sanguessugas ocorreu sob os tucanos? Por que não vamos a Piracicaba, contar quem é Abel Pereira?’ "

Viram? Se eu fosse chefe de Vianna, já lhe teria dado um pé no traseiro — metafórico, claro — ali mesmo. Nem esperaria o fim do contrato. Ele não queria fazer uma reportagem, mas provar uma tese. Queria mobilizar os recursos da emissora em que trabalhava a serviço do proselitismo político de um partido: o PT. Louvada seja a Rede Globo que não se deixa pautar pela IstoÉ. A revista da qual este rapaz tão candidamente fala é aquela que permitiu que petistas não só acompanhassem como lessem previamente a entrevista de Luiz Antonio Vedoin.

Subjacente a seu estilo ético-decoroso-indignado, está uma acusação que tem marca: o petismo. Demitido, Vianna se comporta como esbirro de uma agremiação partidária. Não há absolutamente nada de original nas suas "denúncias", todas elas de sobejo conhecidas. Não sei se ele é petista nem me interessa. Mas põe a sua fúria a serviço de uma tese, que é partidária. Embora, como acontece nesses casos, procure falar em nome do profissionalismo, da neutralidade, da isenção. Como é hábito no PT, comprometidos são os outros. É certo que Mino Carta, Paulo Henrique Amorim e reputações congêneres lhe darão — se é que já não lhe deram (não vi e não verei) — ouvidos.

Vianna diz em seu e-mail que ficou na Globo por 12 anos — dedica-se até a digressões sentimentais, que comentarei adiante. No momento em que seu contrato não é renovado, lembrou de se indignar. Por que não o fez antes? Por que se comportou como a mulher (ou o rapaz) virtuosa que dá 24 horas de prazo para que lhe tirem a mão do joelho? Se estava descontente com o comportamento dos chefes — também, a julgar pelas propostas que fazia...— e com a qualidade do jornalismo que estava sendo “obrigado” a praticar, por que não pediu antes o chapéu? Por que Vianna fez como o Jacó do poema de Camões, servindo a Labão, “pai da Serrana bela”? Quer dizer que, não fosse a demissão, ele serviria mais 12 anos? E em silêncio?

Não dá. A demissão excita a má literatura, mas não confere razão ao demitido. Eu duvido que Vianna tenha sido dispensado por razões ideológicas, como sua carta sugere. De todo modo, ele se trai nesse particular: só imagina que foi posto pra fora pelo tucanismo da Globo porque, é inescapável concluir, enxerga o mundo pela ótica petista. Aliás, a terceira linha de seu texto não deixa muitas dúvidas. Diz que, na profissão, tem “esperança de fazer jornalismo que sirva pra transformar”. Huuummm. Esse emprego de “transformar” como verbo intransitivo é marca registrada. Transformar o quê ou quem, cara pálida? E em quê? Esse “jornalismo de transformação” sempre foi um dos caminhos da impostura ideológica. Mas isso digo eu, claro. Sei lá por que a Globo o demitiu. No capitalismo, pessoas são admitidas e demitidas o tempo todo. No Granma podem ser fuziladas, é verdade...

Tolices
Quase comovente na sua parvoíce é a ironia que Vianna usa com seus patrões, tentando lhes ensinar o seu ofício. Mas quem são os Marinho perto do papa? No momento mais ousado da carta, ele chega a sugerir — eu juro! — que o cardeal Ratzinger (esse tal Bento 16...) não sabe o que é o melhor para a Igreja Católica. As ambições do moço, como se vê, transcendem a capacidade do Trono de Pedro de entender a história.

Tá bom, Vianna, eu quase fiz bobagem parecida. Uma vez tomei café aqui em casa com um dos Marinho — não digo qual porque já é demais. Conversa ao léu. Sem pauta. Não é que eu comecei a dizer a ele quais era as minhas reservas à TV Globo? E tentei provar uma tese, vá lá, contrária à sua: “Pô, os jornais de vocês são muito pautados pela esquerda, pelo PT”; “há esquerdismo até em novelas”; “o especial ‘X’, na prática, faz a apologia da violência”. A família é finíssima, e ele me ouviu com a tolerância que se deve ter com os tolos e com os malucos... Tentei arrancar dele um compromisso de que nunca mais apareceria pobre cantando músicas folclóricas na Globo — incluindo rendeiras, lavadeiras e bordadeiras. Mas ele não me deu pelota de novo, hehe. Quando ele se foi, fiquei com a sensação de que, fosse meu patrão, seria mais um à minha esquerda. Como todos os que tive até hoje. Nem tenho como denunciar ninguém, hehe...

Com 12 anos de TV Globo, depois de se ter colocado como mártir da causa, creio que Vianna não terá problemas para arrumar um outro emprego, o que espero que aconteça. Os petistas vivem torcendo pra que eu morra de fome, mas eu gosto de vê-los bem alimentados porque a vida é mais divertida com confronto. Não sei que idade tem o moço. Aos 45, tento ver como posso colaborar com ele — depois de ter tentado levar, sem conseguir, a Globo mais pra direita.

Recomendo que leia A Genealogia da Moral, de Nietzsche, para aprender um tanto sobre a ética dos senhores, apeando deste trem perigoso que é a ética dos escravos, da eterna reclamação, da impotência vitoriosa, do ressentimento olímpico, da mesquinharia triunfante. Isso é ruim, Vianna. Faz mal pra alma do vivente. Volta e meia eu enrosco com um texto ou outro da Folha (eu também brigo até com o papa às vezes — muito “progressista” pro meu gosto), onde trabalhei duas vezes. Mas só me atrevo a criticar textos do jornal — e não a empresa — porque sempre fui eu que pedi demissão. Por razões que tinham a ver comigo e com as minhas escolhas. Não com eles. Tivessem me colocado pra fora, eu jamais diria uma vírgula. Questão de pudor.

Acredito, Vianna, nos seus bons propósitos e no seu amor pelo jornalismo. Mas não transforme a sua propalada honestidade, em contraste com a suposta desonestidade daqueles com quem trabalhou por longos 12 anos, numa forma de concupiscência. E já que é de política que falamos e é de política que trata o seu e-mail, como negar que ele serve hoje de ferramenta àqueles que pretendem pôr um cabresto na mídia e no jornalismo em particular?

Ah, sim...
Falei que Vianna fazia estranhas digressões. Só para registro. Ele se lembra com saudade de uma Globo mais artesanal. Num momento de crueldade poética, escreve: “Quando entrei na TV, em 95, lá na antiga sede da praça Marechal, havia a Toninha - nossa mendiga de estimação, debaixo do viaduto. Os berros que ela dava em frente à entrada da TV traziam uma dimensão humana ao ambiente, lembravam-nos da fragilidade de todos nós, de como nossa razão pode ser frágil.” Xiii... Abstenho-me de comentar o estilo. “Nossa” mendiga??? A esquerda vive privatizando os pobres. Espero que não seja o seu caso. Já lhe ocorreu que a “mendiga do Vianna” não era necessariamente a “mendiga de si mesma”? A pobreza não foi feita para humilhar ninguém. Mas também é conveniente que evitemos folclorizá-la para compensar as nossas deficiências como humanistas.

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Postby Danilo » 21 Dec 2006, 10:54

...reeleição dos chefes do Poder Executivo

Não entendi se querem ter reeleição inúmeras vezes ou querem acabar com a reeleição no Poder Executivo.

financiamento público de campanha

Mais fincanciamento pros partidos? Já não tem o fundo partidário? Fundo que, aliás, descobri que foi uma das razões pro Supremo derrubarar a regra da cláusula de barreira.

E lobby não é necessariamente ruim, mas deveria ser legal e transparente

Como é o lobby transparente?
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Postby mends » 21 Dec 2006, 11:21

Lobby transparente é aquilo que aquele paisinho subdesenvolvido, os latislaitesovamérica, permite: empresas estabelecidas, com endereços conhecidos, que fazem publicidade de suas ações, dos congressitas que abordam, do quanto cobram de determinados clientes para defender determinadas causas etc. Lá são os escritórios de advocacy (não necessariamente advogados).
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