ELIO GASPARI
Cuidado com o ronco da rua
O que a crise da nação petista menos precisa é de remédios heróicos.
Emendas constitucionais, eleições antecipadas, grandes acordos e coisas do gênero são artimanhas destinadas a tirar a patuléia da fotografia. O comissariado petista e umas boas dezenas de parlamentares foram apanhados embolsando jabaculês. Há três comissões parlamentares de inquérito cuidando do assunto. A dos Bingos, a dos Correios e a do Mensalão. O aparelho jurídico do Estado brasileiro tem os instrumentos necessários para lidar com o problema. Não é preciso mais nada.
Com toda razão, alguém pode perguntar: e se isso acabar em pizza? Nesse caso o remédio é a eleição do ano que vem. Quem o Congresso não cassar, o eleitor poderá desempregar. Fora daí, o que há são formas mais ou menos espertas de manipulação, sempre destinadas a enganar a choldra. Lula elegeu-se com 52 milhões de votos. Muitos podem ser os arrependidos, mas todos devem ser respeitados.
O PT corre o risco de virar um dinossauro, varrido nas urnas. Ou a sua esquerda expele os delúbios da vida, ou morre com eles. Quem piscar vira João Paulo Cunha. Nunca é demais lembrar: o Partido dos Trabalhadores começou a apodrecer em 1998, quando Lula e José Dirceu cassaram a candidatura de Vladimir Palmeira ao governo do Rio e impuseram uma aliança com Anthony Garotinho.
A turma do Caixa Dois do PFL e do PSDB quer um acordo para fritar o eleitorado que os derrotou em 2002. Se puder fazer isso com a gordura do PT, melhor.
Muitos çábios do Planalto e parlamentares do andar de cima da oposição acreditam que a crise será resolvida com uma boa receita de pizza. Coisa assim: todo e qualquer jabaculê será considerado dinheiro de campanha. Ou seria dinheiro para preparar a próxima eleição ou para pagar as dívidas da eleição passada. Pena que Fernandinho Beira-Mar não tenha filiação partidária. Explicaria todos os seus recursos.
Essa receita tem um furo: para que ela vá ao forno será preciso tratar a patuléia como um aglomerado de idiotas, a quem se cobram impostos e contam lorotas. Pode-se fingir que os estudantes de Florianópolis, Salvador e Vitória nunca foram para as ruas para protestar contra aumentos de tarifas de ônibus. Pode-se também achar que os caras-pintadas do tempo de Fernando Collor ficaram velhos e mansos. Pode-se até acreditar em Papai Noel. O PT e $ua ba$e aliada, bem como a turma do Caixa Dois do PFL e do PSDB estão afrontando o "ronco da rua", de Ulysses Guimarães, o "monstro" da opinião pública que Juscelino Kubitschek ouviu na eleição de 1974. Falta uma semana para o reinício da aulas. Vem encrenca por aí.
Lula devia deixar o Brasil em paz
Eremildo é um idiota e acredita em tudo o que Lula diz. Mesmo assim, embaralhou-se e não conseguiu alcançar a densidade filosófica de três afirmações recentes do companheiro:
1) "Quando é que o Brasil vai se livrar definitivamente dessa doença, qual é a cura definitiva?";
2) "No Brasil, as pessoas sabem colocar na cruz, mas tirar da cruz, não tiram, mesmo que a pessoa seja inocente";
3) "Este país não tem o direito de pensar no atraso".
O idiota ficou com a impressão de que Lula acha que os problemas não são seus nem do seu governo, mas do Brasil, gaiola na qual sente-se desconfortável. Incomoda-se em governar um país cheio de vícios e de bugres, como se países, mesmo tendo bugres, pudessem ter vícios.
<span style='color:red'><span style='font-size:14pt;line-height:100%'>Lula confunde um problema do seu partido e do seu governo com uma doença nacional. Eremildo acredita que se ele tentar a vida fora de Pindorama (e de Cuba), não arruma trabalho nem na Bolívia.</span></span>
<span style='color:blue'>Pedreira PFL
O deputado Roberto Brant (PFL, ex-PSDB) reconheceu que embolsou R$ 150 mil mandados pela Usiminas para a central Marcos Valério de produção. Ele não é um Delúbio qualquer. Foi ministro da Previdência de FFHH. Com a arrogância típica do andar de cima, desafiou: "Quem não tiver recebido dinheiro não contabilizado que atire a primeira pedra". Se o doutor é valente, repete isso no saguão de qualquer estação ferroviária, naquele horário em que os trabalhadores viajam como sardinhas enlatadas. Se Roberto Brant quiser marcar dia, a choldra que não tem Caixa Dois providencia as pedras.</span>

"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."
Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")